Por jessica.rocha

Rio - Até onde ir por um sonho? Para a equipe de hóquei sobre a grama brasileira, o sacrifício foi a distância da família e dos amigos por quase cinco meses, com treinos diários, muitas vezes em dois períodos. Tudo para, no fim, os atletas poderem bater no peito e dizer com orgulho: “Conseguimos um feito histórico.” Afinal, pela primeira vez o Brasil obteve vaga para a Olimpíada.

“Ficamos quase cinco meses fora nos preparando, longe da família e dos amigos. Você sente muito essa distância, é complicado, mas compreendemos essa necessidade para evoluirmos e conquistarmos o objetivo. A vaga olímpica foi o nosso êxtase, fruto do que plantamos. Fazemos esse bom trabalho de base há dois anos e formamos um grupo de 25 a 28 atletas (16 foram para o Pan)”, comemora Brunno Mendonça, que conheceu o hóquei em 2008, quando tinha 26 anos, e está na Seleção desde 2010.

Brasil vai disputar primeira Olimpíadaarquivo pessoal

Antes do êxtase de garantir a classificação nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, onde a equipe brasileira fez campanha histórica e chegou em quarto — precisava do sexto —, a caminhada do grupo brasileiro foi dura. Sem tradição no hóquei e com os atletas começando tarde no esporte, o suor e o trabalho duro foram o caminho escolhido para conseguir a sonhada vaga. Afinal, ao contrário de outros esportes coletiv*os, o Brasil precisava mostrar que tinha nível suficiente para disputar os Jogos (o time feminino não conseguiu e está fora). E provaram com louvor.

Sem local para treinar — o campo em Deodoro está sendo reformado para a Rio-2016 —, a seleção brasileira viajou em janeiro à Europa para treinar. Holanda, Bélgica, Irlanda e Escócia foram alguns dos destinos. Além dos treinos de fundamentos (dois diários), os atletas tinham corrida, natação e academia. Basicamente, essa rotina acontecia seis dias na semana (e um de descanso para turismo).

“Os treinos aumentaram significativamente”, conta Brunno, que já foi velocista nas provas dos 100m e 200m rasos e é militar da Aeronáutica.

Brunno em ação no Pan de Torontoarquivo pessoal

O intercâmbio com os melhores do mundo, como os vários jogos contra times holandeses, também fez a diferença. “Pudemos jogar com os melhores e enriquecemos demais nossa experiência. Percebemos que tínhamos a necessidade de crescer rapidamente. Na Holanda, os atletas jogam desde criança enquanto nós chegamos ao esporte adultos e tivemos que aprender toda a base muito rapidamente. Também percebemos que o jogo coletivo conta muito, é fundamental e conseguimos apurar bem. Acho que esse foi o principal fator da nossa classificação às Olimpíadas”, analisa Brunno.

Da Europa, a Seleção seguiu para o Canadá para o Pan-Americano. O objetivo era ficar em sexto e a confiança pela classificação era grande, assim como a surpresa quando venceram os Estados Unidos, nas quartas de final. O resultado foi a prova da evolução. No fim, o sacrifício foi recompensado e a vaga, muito comemorada: “Queríamos mostrar que a vaga foi por merecimento nosso. O resultado foi além das expectativas, mas estávamos convictos de que conquistaríamos a vaga. O quarto lugar coroou o nosso trabalho.”

Com o sonho realizado, muitos poderiam relaxar. Mas não o hóquei sobre a grama. Após merecidos dias de férias, os atletas embarcaram esta semana para a Argentina, onde treinarão até o fim do mês para a disputa de um torneio no Peru, em outubro. Para 2016, mais treinos, viagens e intercâmbio. O trabalho duro não para, assim como a vontade de continuar fazendo história.

“Queremos chegar às Olimpíadas sem ser o patinho feio ou a zebra. Nosso objetivo não é apenas participar dos Jogos, mas competir de igual, fazer um bom trabalho”, completa Brunno, confiante.

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