Por fabio.klotz

Rio - Uma nova coalizão quer a independência do Timor Leste. Mas, desta vez, nada tem a ver com a sangrenta guerra pela libertação travada com a Indonésia, de 1975 a 1999. Pela primeira vez, os timorenses estão podendo ver sua seleção nas Eliminatórias asiáticas da Copa do Mundo e o país conseguiu passar da fase inicial da competição ao superar a Mongólia. Nos torneios de 2010 e 2014, eles foram eliminados por Hong Kong e Nepal, mas jogaram longe dos seus domínios, em Bali e Katmandu.

Para tentar a façanha de jogar seu primeiro Mundial, a seleção juntou trabalhadores de várias áreas com brasileiros naturalizados para tentar dar essa alegria ao país que tem extensão territorial menor do que a de Sergipe.

Timor Leste sonha com a Copa do MundoDivulgação

“Todos têm outro trabalho. Não existe uma liga profissional no Timor Leste e isso dificulta bastante. Eles trabalham naquilo que aparece. O goleiro, por exemplo, dirige caminhão. Outro é policial, tem um que é professor universitário de arquitetura”, contou o treinador Fernando Alcântara, que tem sete brasileiros no elenco, entre eles Juninho, do Avaí.

Na próxima quinta-feira, o Timor Leste recebe a Palestina - país também marcado por guerras - pelo Grupo A das Eliminatórias asiáticas. No Timor, o silêncio é uma das marcas deixadas pelos conflitos: “Agora está tranquilo, mas dificilmente falam sobre o assunto. Foi muito triste o que aconteceu. Nunca vi marcas da guerra, mas já fizeram as pazes com a Indonésia”, disse o capitão do time, Paulo Martins, de 23 anos, também brasileiro, que joga no Songkhla United, da liga da Tailândia.

A situação do Timor Leste nas Eliminatórias não é das melhores. A equipe vem de uma goleada por 7 a 0 para a Arábia Saudita, mas nada que tire o ânimo. “Podemos surpreender na classificação. Estamos em uma chave difícil, com seleções fortes. Vai ter muita luta. É uma caminhada longa”, afirmou Martins, que já atuou em times da Índia, Catar, Macau e Emirados Árabes e é mais otimista do que o treinador da seleção timorense.

Timor Leste perdeu para a Arábia Saudita por 7 a 0Reprodução Internet

“A classificação para Copa da Rússia ainda é um sonho que requer muito trabalho e algumas mudanças são necessárias. Porém, para a Copa da Ásia de 2019, acho que podemos sonhar”, disse Alcântara, contratado após bom trabalho com o Salgueiro, de Pernambuco, na Série C.

Para quem nunca ouviu falar em Timor Leste, a pequena ilha tem o português como língua oficial e 1,1 milhão de habitantes, população semelhante à do município de São Gonçalo.

“O Timor Leste é um país muito humilde. Falta bastante coisa. Mas o povo é guerreiro e isso me incentivou a me naturalizar. Os caras amam o futebol”, afirmou Martins, que, além de disputar um Mundial, vislumbra jogar contra a seleção brasileira.

“O coração vai bater forte pelos dois, mas só vou cantar o hino do Timor Leste. O Brasil é meu país de origem, mas o que vale é a camisa que visto”, explicou, com orgulho da pátria que escolheu representar.

A guerra entre Israel e Palestina começou antes da criação do estado israelense, em maio de 1948, e o clima bélico segue até os dias de hoje. Na posição 130 no ranking da Fifa, os palestinos estão fazendo bonito nas Eliminatórias.

Paulo Martins tem desejo de jogar contra a seleção brasileiraDivulgação

Palestinos sonham alto

Na segunda fase da competição, venderam caro a derrota para a Arábia Saudita (3 a 2), arrancaram empate com os Emirados Árabes (0 a 0) e golearam a Malásia (6 a 0). No ano passado, alguns jogadores vieram ao Brasil durante a Copa para reclamar de maus-tratos por parte dos israelenses. Entre as queixas, invasão militar nos centros de treinamento e prisão de atletas.

No Congresso da Fifa em 2014, a entidade acordou entre as federações um mecanismo no qual dois delegados (um palestino e um israelense) ficavam encarregados da circulação dos jogadores entre os dois países.

O jogo pelas Eliminatórias será o primeiro entre Timor Leste e Palestina, países que tentam esquecer guerras e histórias tristes para se concentrar no sonho de disputar uma Copa do Mundo.

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