Por fabio.klotz
Livro conta as glórias e decepções na carreira de AlexDivulgação

Rio - Alex Souza é rei na Turquia, onde foi eternizado por uma estátua. Fez história pelo Fenerbahçe, clube turco pelo qual disputou 378 jogos e marcou 185 gols. Em 2012 foi peça fundamental na conquista da Copa da Turquia, título que o Fenerbahçe não ganhava havia 30 anos. É ídolo das torcidas do Coritiba, onde começou a carreira, e do Palmeiras, onde foi campeão da Mercosul (1998) e Libertadores (1999). Escreveu o último capítulo de sua história como jogador em dezembro do ano passado, com a camisa do Coritiba. Mas as derrotas, os erros e as decepções também ajudaram a escrever sua biografia, contada no livro ‘Alex, a biografia’, escrito pelo jornalista Marcos Eduardo Neves. O lançamento no Rio será nesta terça-feira, às 19h, na Livraria Saraiva, no Rio Sul.

Um dos líderes do Bom Senso FC, o ex-jogador fez questão de ser honesto em situações que o incomodam até hoje. Como a fracassada passagem pelo Flamengo, em 2000, onde ficou por apenas dois meses.

“O clube era muito bagunçado, mas eu poderia ter me dedicado mais, suportado a falta de estrutura e cumprido meu contrato até o fim. Eu me arrependo muito porque não segui o protocolo, não entrei no oba-oba e saí na primeira chance. Mas sou muito grato pelo aprendizado”, diz Alex, que estampa no livro uma foto, aos 4 anos, vestindo camisa do Flamengo.

Também remoeu no livro a mágoa com o técnico Luiz Felipe Scolari, que o dirigiu no Palmeiras. Para Alex, havia um elo de confiança criado pelo técnico, que foi quebrado quando não foi convocado por ele para a Copa do Mundo de 2002. Conseguiu até aceitar a opção de Felipão como treinador, mas jamais desculpá-lo como pessoa.

Marcos Eduardo Neves foi o responsável por escrever a biografia de AlexDivulgação

“Ele sempre foi muito próximo e demonstrava sua gratidão por mim, em situações que fechei com ele. Disse que seguiríamos juntos até o fim na Seleção. Minha mágoa é pessoal mesmo, porque ele comprou briga de gente que nem sequer conhecia. Ele falhou comigo como ser humano”, lamenta.

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O livro traz depoimentos dos técnicos Felipão e Parreira, jogadores como Ronaldinho Gaúcho, Felipe Melo, Juninho Pernambucano e Aristizábal, além de seu maior ídolo, Zico, que o treinou no Fenerbahçe. Autor de livros de ex-jogadores como Heleno de Freitas e Renato Gaúcho, Neves percorreu oito cidades no Brasil e viajou para destinos como Montevidéu, Assunção, Bogotá e Doha, no Catar, para buscar suas fontes. Na visita à Turquia, onde Alex se transformou em "Deus", o escritor revela ter se impressionado com a idolatria ao ex-meia.
“Vi a romaria que fãs fizeram à sua estátua. É como se fosse um ato religioso para os turcos passarem por ela”, conta o autor.
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Melhores momentos do Livro
ZICO - TURQUIA

"Zico ou Zidane? Zico. Zico ou Maradona? Zico. Zicou ou Messi? Zico. Não tem para ninguém. Para mim, Zico é Zico e ponto final. Os turcos sabiam o que o Zico fez, mas não o que representa para o brasileiro. Não tinham noção da idolatria que exerce sobre nós. Eu, por exemplo, demorei seis meses para entender que ele era nosso treinador... Vi o Zico 10 do Flamengo, 10 da Seleção, era coisa de idolatria mesmo, o que piorava o negócio. Não conseguia enxergá-lo como novo treinador do meu time."

Alex ao lado de Zico%2C no Flamengo%3A ele foi treinado pelo ídolo na TurquiaLeo Correa / Arquivo O DIA

GALVÃO BUENO - COPA DAS CONFEDERAÇÕES

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“A Copa América foi bem legal, em 1999, minha primeira competição internacional. Depois do título, emendei a Copa das Confederações, no México. Fui titular novamente, mas perdemos a decisão para a Bolívia, os donos da casa. Vanderlei me escalou fora da posição na final, improvisado no ataque. O que tenho na cabeça é que o Galvão quase matou meu pai nesse jogo. Ele falou tão mal de mim, me esculachou tanto na Globo, que o velho passou mal. Teve um princípio de derrame que comprometeu seu lado esquerdo para o resto da vida. Se não acontecesse esse episódio, ele certamente estaria mais forte hoje.”
Alex relembra campanha na Olimpíada de 2000Arquivo

SELEÇÃO OLÍMPICA- 2000

“Fizemos uma competição horrorosa, única lembrança boa foi conhecer Guga e pessoal do basquete dos Estados Unidos. Não jogamos nada na estreia com a Eslováquia, meu aniversário, nada contra África do Sul. A gente não falava de futebol, não treinava, não houve preparação. Tínhamos um chefe de deleção que fazia figuração, comissão técnica rachada... Luxa mostrava um vídeo e Candinho mandava a gente esquecer preleção. Quando fomos eliminado por Camarões, o Ricardo Teixeira apareceu com o tal chefe. Falaram que era vergonha a eliminação. O sangue ferveu. Aí falei: ‘O senhor só vivia bêbado, veio passar na Olimpíada. A gente sabe a merda que vai acontecer, uma geração boa que de repente vai ficar no meio do caminho por causa disso. O pessoal da CBF me alertou que sofreria represálias. Isso talvez pode ter impedido a realização de meu sonho de ir à Copa de 2002.”

Alex na época de Flamengo%2C em 2000%3A 'Ninguém queria nada'%2C relembraLeo Correa / Arquivo O DIA

FLAMENGO

“No que entrei na Gávea e vi o vestiário, pensei: cacete. Cheirava a mofo. A estrutura da Gávea era horrível, o campo era horrível. Ninguém queria nada... Foi o melhor elenco no qual já estive, mas como time não se encaixava. Nem treinava pra se encaixar. Não havia comprometimento. Não existia comando de cima pra baixo. Concentração, só na teoria... Teve um jogo com o Corinthians, em São Paulo, que talvez tenha sido minha única alegria no Flamengo. Tocamos quatro gols neles, dois meus.”

FELIPÃO X SELEÇÃO

“Iniciei a campanha das Eliminatórias para 2002 e participei de boa parte dos jogos. O Felipão havia sido meu treinador durante um tempão. Na Copa América ele falou para mim: 'Estamos juntos e vamos até o final...' Quando Djalminha foi cortado sabia que eu iria. Ronaldinho Gaúcho era atacante e Kaká, apenas um menino, que só tinha sido convocado num único jogo. Quando voltei pra casa, depois de não ter sido relacionado na convocação final, minha mulher estava numa tristeza monstra..."
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NÓ NA CABEÇA
“Quando me certifiquei de que Ricardinho, do Corinthians, foi convocado no lugar de Emerson, cortado, achei: ‘Tem alguma muito louca nessa história’. Além de ele não ir nunca, nem era da posição do Emerson. Deu um nó na minha cabeça. Pra piorar, a Dai fez o exame e descobrimos que tínhamos perdido o bebê”.
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Serviço
Alex, A Biografia
editora Planeta
256 pgs
R$ 39,90
Lançamento no Rio de Janeiro: 1/12/2015, terça-feira, Livraria Saraiva, Rio Sul, 19h
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