Por renata.amaral

Goiás - O nome não é muito conhecido: Rafael Ferreira. Mas o apelido é bastante familiar para a torcida do Flamengo. Toró chegou à Gávea em 2006 e lá permaneceu por cinco anos, colecionando no currículo cinco títulos de expressão - três Campeonatos Cariocas, uma Copa do Brasil e um Campeonato Brasileiro. O volante passou ainda por Atlético-MG, Figueirense e Bahia, até sumir dos holofotes, quando defendeu por dois anos o Sagamihara, do Japão. Hoje em dia, com 30 anos, o jogador vive uma espécie de recomeço no futebol brasileiro, no discreto Anápolis, que surpreendeu e é um dos finalistas do Campeonato Goiano. Sem apagar o passado da memória, é impossível não comparar a realidade atual com as glórias rubro-negras.

Toró tem contrato de empréstimo com o Anápolis até o fim do Campeonato GoianoDivulgação

"Continuo com a mesma vontade de conquistar alguma coisa. Mas a diferença é a estrutura - a do Flamengo é muito boa. Aqui também tem. Mas a maior diferença mesmo é a camisa. O Flamengo tem tradição, uma torcida impressionante. Eu não vi igual ainda nos clubes em que trabalhei. É uma das melhores, se não for a melhor. O peso da camisa faz diferença, um jogo no Flamengo é certo de estar sendo visto pelo mundo todo. Essa é a grande diferença", analisou.

Toró foi uma das surpresas de Ney Franco para a final da Copa do Brasil de 2006: foi o primeiro passo para virar peça importante no time rubro-negro. Outro técnico especial do volante do Flamengo foi Joel Santana. Uma amizade que perdura até os dias atuais. 

"Tenho contato com o Joel. Falo com ele direto. Tinha um carinho, tanto dele por mim, quanto meu por ele. Em uma fase engraçada, mas preocupante da minha vida, ele me deu força. Até hoje não tenho palavras para descrever o que ele representou na minha carreira, quando eu estava numa fase ruim, que todo jogador tem. Estava sendo criticado e consegui chegar à seleção brasileira olímpica", relembrou Toró. No Anápolis, ele reencontrou um outro técnico ex-rubro-negro:

"O Waldemar Lemos sempre foi esse cara que, antes de ser treinador, posso dizer que está sendo um paizão para nós. É o que a gente sempre diz nas reuniões, ele não ensina a gente só para o futebol, ele ensina para a vida. Põe uma postura na gente, ensina a ser um ótimo representante de família e, principalmente, um ótimo profissional. Esse reencontro neste momento não poderia ter sido melhor. Tive poucas oportunidades de jogar com ele no Flamengo (em 2006). Quando ele chegou aqui, fiquei pensando como seria. Mas chegou no momento certo, trouxe de novo essa alegria que eu tinha". O jogador completou falando do famoso vídeo do 'senhor Waldemar', quando ele foi anunciado como técnico em sua primeira passagem pela Gávea, em 2003:

"Eu não tinha visto esse vídeo. Tem pouco tempo que um companheiro me mostrou. A gente nunca comentou disso aqui."

Toró mantém amizade até hoje com Joel SantanaArquivo Agência O Dia

Logo no seu retorno ao Brasil, Toró levou o Anápolis a uma decisão importante. A equipe está na final do Campeonato Goiano, onde encara o Goiás - o primeiro jogo é neste domingo. O volante fez o gol da classificação, contra o Atlético-GO, no último sábado.

"A gente já surpreendeu tanto. Quando eu cheguei o clube tinha acabado de subir para a Primeira Divisão. Foram vários anos subindo e descendo, e esse ano a gente está fazendo uma campanha muito boa, porque estamos tendo humildade que o nosso time tem seus limites, é limitado, mas temos condições de encarar também. Eu fiquei feliz de ver o Audax também, esses times chegando. Porque eu vejo quanto um time de menor expressão trabalha. Não que os grandes não trabalhem, mas hoje eu estou vivendo isso. A gente trabalha muito, o nosso treinador trabalha demais. É muito difícil encontrar a perfeição, mas o Waldemar bate muito na tecla dos pequenos detalhes. Estamos sempre buscando. Quem sabe a gente pode surpreender na final", planejou.

Com contrato de empréstimo com o clube até o fim do Campeonato Goiano, Toró não faz planos para o futuro próximo, mas também não esconde a vontade de voltar a jogar em um time grande no Brasil. Ainda assim, o carinho pelo Japão também fala alto.

"A princípio ainda tenho contrato com o futebol japonês, então eu não sei o que vai acontecer. Eu
particularmente estou gostando muito daqui, do time, do clube. Eu gostei do futebol japonês, fiquei apaixonado. É um futebol muito rápido, muito dinâmico. Os caras ganhando de 3, 4 a 0, continuam correndo na mesma velocidade. Aprendi muito na postura. Fui muito feliz. Estou indo passo a passo", disse Toró, que acrescenta:

"O sonho de jogar em um grande clube não é só meu. Acho que qualquer jogador que está aí, se você perguntar se quer jogar no Flamengo, no Corinthians, em um clube grande, todos querem. Tenho vontade de jogar em um clube de expressão. Tenho um carinho enorme pelo Flamengo, vivi momentos brilhantes, enormes. Tenho vários amigos flamenguistas. Se eu pudesse voltar algum dia, eu ficaria muito feliz."

O volante conquistou a Copa do Brasil de 2006 com o FlamengoCarlos Mesquita / Agência O DIA

Toró conhece muito bem a rivalidade entre Flamengo e Vasco. Em sua época, ele 'cansou' de vencer o adversário. A situação hoje é bem diferente, o Rubro-Negro amarga um jejum de nove clássicos sem vitórias. Com a experiência de ser campeão em cima do rival, como na Copa do Brasil de 2006, Toró acredita que o mau momento tem os dias contados, por conta do potencial do elenco e de Muricy Ramalho. 

"Acho que é fase. Do mesmo jeito que na minha época a gente vencia o Vasco direto, agora mudou a situação. Esses dias eu estava vendo o comentário do Roger Flores, ele estava falando que o mais engraçado é que o Flamengo não vem jogando mal e vem perdendo. Lá atrás a gente reconhecia que não só contra o Vasco, mas também nas três finais contra o Botafogo, eles tiveram momentos muito superiores na partida. Mas a gente estava na fase boa. Acho que o time do Flamengo está no caminho certo. Está com um treinador que dispensa comentários, que entende muito do que está fazendo. A equipe tem muita qualidade. O Guerrero é um dos melhores atacantes do Brasil, tem um goleiro muito capacitado desde a minha época, que é o Paulo Victor, Cirino, Sheik, Juan. Tenho certeza que daqui a pouco a fase vai virar e no Brasileiro o Flamengo vai dar alegria aos torcedores", disse.

Entre os desejos do jogador, um sonho com gostinho antigo: reencontrar Dorival Junior. Os dois trabalharam juntos no Atlético-MG, onde Toró permaneceu entre 2011 e 2012: "Eu tive pouca oportunidade de trabalhar com o Dorival Jr. Ele foi um cara que me abraçou, mas a gente trabalhou muito pouco tempo. Foi um momento em que eu saí do Flamengo e me apresentei um pouco acima do peso. Queria ter a oportunidade de voltar a trabalhar com ele e retribuir o carinho, a força e a vontade que ele tinha de trabalhar comigo. Eu tenho vontade, não sei se no Santos, no Flamengo ou no Náutico, mas eu tinha essa vontade."

Reportagem de Renata Amaral

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