Por jessyca.damaso
Rio - Abandonado, destruído, e, agora, caso de polícia. Menos de seis meses depois de receber os Jogos Olímpicos, o complexo do Maracanã sofre com o descaso e com a vulnerabilidade, sujeito a furtos e entregue à sorte. Mas isso nem sempre é suficiente para passar incólume às ações criminosas.
FERJ apela para clubes para tentar resolver solucionar o estado de abandono do estádio Mário Filho (Maracanã)Alexandre Brum / Agência O Dia

De acordo com policiais da 18ª DP (Praça da Bandeira), na manhã da segunda-feira passada foram furtados do estádio dois televisores de 46 polegadas, uma peça de cobre de uma mangueira de incêndio e os bustos, também de cobre, do jornalista Mário Filho, que dá nome ao estádio, e do general Ângelo Mendes de Moraes, prefeito do Rio à época da inauguração em 1950.

A Polícia Civil realizou ontem perícia no local e investiga o caso. Após o furto, uma equipe de segurança privada foi contratada para patrulhar a parte interna do estádio e impedir a entrada no local. A empresa, porém, não divulga se foi a concessionária ou o governo estadual que contratou o serviço.

Sem ser utilizado desde o Jogo das Estrelas de Zico, no dia 28 de dezembro, o estádio sofre com um impasse. A Concessionária Maracanã S.A., por meio de nota oficial, alega que recebeu o estádio do Comitê Rio-2016, em outubro, com uma série de alterações e depredações, além da falta de vários laudos correspondentes à estrutura do Maracanã.

Por meio da Suderj (Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro), o governo do Estado argumenta que não tem responsabilidade sobre as alterações, uma vez que o órgão apenas participou do repasse do estádio, tanto na entrega para os Jogos Olímpicos quanto após o evento.

Morador de rua dorme em frente a um dos acessos ao estádioAlexandre Brum / Agência O Dia

O Comitê Rio-2016 alega que entregou a estrutura conforme era indicado e que apresentou os laudos estruturais necessários para a devolução dos equipamentos, que, além do estádio do Maracanã, abrangem o ginásio do Maracanãzinho, e os estádios Célio de Barros e Júlio Delamare.

Mas, enquanto a solução não aparece, o que se vê no entorno do estádio é entulho, depredação e abandono. Na rampa de acesso da estátua do Bellini, na Avenida Maracanã, enquanto turistas posam para fotos em frente aos enferrujados portões, moradores de rua se abrigam sob a fachada. Os relógios de energia, ao lado dos portões de acesso, foram arrancados e em uma das estruturas, até as grades que protegiam o local foram retiradas.

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Nos outros cantos do complexo do Maracanã, mais descaso. No Célio de Barros, que teoricamente serviria como estacionamento, a estrutura sofre com a ferrugem e o desgaste. Já no Júlio de Lamare, entulhos e lixo podem ser observados entre as dezenas de tapumes que cercam o local.
Na maioria dos acessos ao estádio, as plantas que enfeitavam as laterais das rampas não recebem mais os cuidados dos tempos olímpicos — o descaso salta aos olhos de quem passa pelo estádio. Algumas grades que antes facilitavam a vida de quem quisesse cometer furtos no Maracanã foram lacradas.
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Imagens tristes de um Maracanã reformado com o dinheiro público — o custo da reforma para a Copa do Mundo foi de R$ 1,3 bilhão — e há poucos meses comemorava o sucesso dos Jogos Olímpicos. E que, até pelos problemas acumulados por causa do descaso, não aparenta ter uma solução tão imediata.
O presidente da Federação de Futebol do Estado do Rio (Ferj), Rubens Lopes, agendou para hoje uma reunião com representantes das empresas que cuidam da segurança, da engenharia, do atendimento ao público e do gramado para saber se é possível usar o estádio durante o Campeonato Carioca. No dia 17, o dirigente vai se reunir com representantes dos clubes.
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Em entrevista ao canal SporTV, Rubinho cobrou uma intervenção do governo estadual. Para ele, caso o poder público não interfira, não haverá condições de utilizar o estádio. Segundo Rubens Lopes, as maçanetas das portas do estádio são eletrônicas e funcionam por biometria — identificação através de digitais. Como o estádio sofre com falta de energia elétrica, as mesmas ficam abertas, o que facilitou a entrada dos criminosos. O Maracanã receberia o clássico entre Fluminense e Vasco, pela primeira rodada do Estadual, no dia 29, mas a Ferj transferiu o jogo para o Engenhão.
Reportagem do estagiário Antonio Júnior.