Por jessyca.damaso

Zurique - A Fifa pretende modificar suas regras para poder abrir uma brecha legal para que a China seja candidata a receber a Copa do Mundo de 2030. Durante o congresso da entidade, na semana que vem, uma nova lei será proposta, indicando que a cúpula da Fifa teria o poder de alterar a rotação entre continentes para permitir que uma região do mundo possa receber o torneio com só uma edição de intervalo, sem ter de esperar pelo menos 12 anos.

A Rússia sediará em 2018 a próxima Copa do MundoEFE/Yuri Kochetkov

Hoje, um continente que seja sede da Copa não pode se apresentar como candidato pelos dois torneios seguintes. Ou seja, com o Catar organizando o Mundial de 2022, nenhum outro país asiático poderia se postular ao evento em 2026 e nem em 2030.

Agora, a nova proposta indica que, "se as circunstâncias exigirem", essa rotação seria modificada. A Ásia, por exemplo, poderia ficar apenas uma edição da Copa do Mundo sem poder se apresentar como candidato. Na prática, isso permitiria que, depois de 2026, quando a Copa do Mundo deverá ser na América do Norte, o caminho estará livre para uma candidatura da China, um grande sonho do governo de Pequim.

Se aprovada, a nova lei será um duro golpe contra as pretensões do Uruguai e da Argentina que querem sediar de forma conjunta a Copa de 2030, marcando cem anos do primeiro torneio. Durante a campanha para a presidência da Fifa, Montevidéu chegou a tratar desse assunto com o então candidato Gianni Infantino. Uma vez eleito, esse passou a evitar o assunto.

Na prática, dar a Copa para a China seria apenas uma decisão lógica da entidade, na busca pelo último grande mercado para o futebol. Com sérios problemas econômicos por conta de escândalos de corrupção, a Fifa está recorrendo à China para financiar a Copa do Mundo de 2018, na Rússia. No mês passado, ela anunciou um segundo patrocinador chinês para o Mundial, algo inédito. Mas, do total das cotas que esperava vender para financiar o evento, menos da metade conseguiu ser preenchida por enquanto.

O novo parceiro da entidade é o grupo Hisense, fabricante de produtos eletrônicos e em grande parte desconhecido fora do mercado chinês. Para 2018, sua marca estará em todos os estádios da Rússia, ao lado de gigantes como McDonald's e Budweiser.

A Fifa já havia assinado com a empresa chinesa Wanda. Mas soma apenas dez patrocinadores por enquanto, comparado aos 20 que existiam na Copa do Mundo do Brasil, antes das prisões dos cartolas em Zurique.

O sucesso comercial do evento no Brasil, com uma renda recorde de US$ 5,5 bilhões, levou a antiga administração da Fifa a propor novas cotas para patrocinadores para 2018. Um programa foi aberto para captar parceiros regionais. Semanas depois, os dirigentes foram presos e o interesse comercial desapareceu. Desde 2015, a Fifa ainda gastou US$ 60 milhões em advogados para se defender nos tribunais e terminou o ano com um déficit de US$ 120 milhões.

Cinco dos principais parceiros de 2014, entre eles a Sony, deixaram a Fifa depois dos escândalos. Hoje, das 34 cotas de patrocinadores que esperava conseguir para patrocinar a Copa de 2018, a Fifa obteve apenas dez. Se um ano antes da Copa no Brasil os contratos somavam US$ 404 milhões para a entidade, agora eles se limitam a US$ 246 milhões.

Ainda em 2015, a Fifa recorreu à gigante chinesa Alibaba para financiar seu Mundial de Clubes e a empresa não exclui ainda se aliar a outras marcas chinesas para também apoiar a Copa do Mundo.

O problema, segundo advogados que falaram com o Estado, não é apenas a falta de interesse. Mas o temor de empresas ocidentais de terem seus nomes envolvidos em processos judiciais, já que o julgamento dos cartolas da Fifa sequer começou em Nova York.

O vácuo deixado principalmente por novos parceiros americanos, portanto, está sendo preenchido por chineses. O presidente do país, Xi Jinping, colocou o futebol como a prioridade esportiva e adotou um plano para transformar a China em uma potência até meados do século XXI. Para isso, precisará sediar uma Copa o quanto antes.

Você pode gostar