Por marlos.mendes

Suíça - A suspeita que paira sobre o Rio de Janeiro na sua definição como palco da Olimpíada de 2016 também é um golpe duro contra o Comitê Olímpico Internacional (COI), prestes a se reunir em Lima para escolher as sedes dos Jogos de 2024 e 2028 e tentando se afastar de uma imagem corroída das entidades internacionais do esporte. Procurado pelo Estado, o COI apenas indicou que é de seu "maior interesse" esclarecer o que de fato ocorreu em Copenhague, em outubro de 2009 quando o Rio foi definido como sede olímpica.

"O COI soube dessas circunstâncias por meio da imprensa e está fazendo todo o esforço para obter informações completas", disse a entidade, por meio de um e-mail. "É do mais alto interesse do COI obter esclarecimentos sobre esse assunto", completou. 

No movimento olímpico, porém, a ofensiva contra Carlos Arthur Nuzman também foi recebida como uma "péssima notícia" para a credibilidade da entidade. O próprio presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), depois do Rio-2016, ganhou um cargo em um dos comitês do COI, assim como outros dirigentes do País. 

Na condição de anonimato, delegados e membros da família olímpica admitiram à reportagem que o incidente no Rio vai "jogar uma desconfiança sobre todo o processo" e deve fragilizar a entidade. 

Thomas Bach, presidente do COI, insistia ser um "grande amigo" de Nuzman e sempre rejeitou qualquer necessidade de se investigar os Jogos do Rio. Durante os últimos meses, o COI chegou a se lançar em uma campanha para promover o legado deixado pelo evento no Rio, inclusive distribuindo artigos a jornais estrangeiros assinados por Eduardo Paes, ex-prefeito do Rio, também citado em casos de suspeitas de corrupção. 

O caso ainda coloca o COI sob pressão, já que, em tese, terá de abrir processos disciplinares para avaliar não apenas a situação de Nuzman, mas também os casos de suspeitos de terem recebido o dinheiro da propina pela compra de votos.

Além do caso do Rio, a entidade também precisa ainda lidar com suspeitas sobre a escolha de Tóquio para a Olimpíada de 2020, assim como diversos de seus dirigentes que estariam implicados no esquema. 

Investigadores envolvidos na Operação Unfair Play indicaram ao Estado que a suspeita principal que emerge das investigações é de que a compra de votos para o Rio-2016 entre membros do COI não ocorreu sem um aval político por parte de diferentes níveis de governo no Brasil. 

A investigação, portanto, apura os vínculos entre o empresário Arthur Soares e o ex-governador do Rio Sérgio Cabral e existência de um pacto de corrupção em torno dos Jogos Olímpicos do Rio, que envolveria as obras públicas com as quais o governo brasileiro se comprometeu junto ao COI. 

Um dos focos dos investigadores é se houve ainda vínculos entre empreiteiras que se beneficiaram dos projetos de infraestrutura para o Rio-2016 e a suposta compra de votos.

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