Rafael Henzel contou sua experiência em livro - Divulgação
Rafael Henzel contou sua experiência em livroDivulgação
Por O Dia

O radialista Rafael Henzel, que morreu depois de sofrer um infarto na noite desta terça-feira, enquanto jogava uma pelada com amigos, registrou no livro "Viva Como se Estivesse de Partida" sua visão da tragédia aérea que matou 71 pessoas, em novembro de 2016. Confira alguns trechos:

“Sempre fui movido por motivação. Acho que todo mundo é assim. Na minha profissão de jornalista, quem me dá motivação são os ouvintes da rádio. Em casa, sou muito motivado. Tento incentivar a minha esposa e meu filho. A motivação gera alegria, principalmente se estimularmos as pessoas nos problemas que são palpáveis, para não haver frustração depois. Fiquei muito motivado depois dessa experiência, por um motivo simples: a vida. Que motivação maior eu posso ter do que estar aqui, vivo? O milagre aconteceu”.

“Às vezes, não acreditamos nas nossas relações. Esquecemos que vivemos em um mundo sincronizado. Você não vive em uma bolha. Todos dependemos das outras pessoas e as outras pessoas dependem de nós. É imprescindível ter essa compreensão. Não dá para ser arrogante e pensar: 'Não preciso de você'. No mundo todos estão relacionados, ninguém é uma ilha”.

“Sinto que, após ter sobrevivido ao acidente, estou mais sereno na hora de que equacionar os problemas e dimensioná-los de acordo com a escala que eles realmente têm. E isso em todos os quesitos da minha vida. Acho que o pior que poderia me acontecer já aconteceu naquele 29 de novembro. Muitas vezes, criamos atritos no trabalho ou em casa sem necessidade. Transformamos um copo d’água em tempestade sem pensar. Essa experiência me deixou mais tranquilo”.

“A gratidão é uma das maiores qualidades que se pode ter. Vemos pessoas que são atendidas em tantos lugares e não falam um obrigado, nem dão bom dia ou uma boa tarde. Acho que espalhar gratidão, agradecer por tudo o que nos acontece no dia a dia é espetacular. Como eu me sinto bem quando sou grato a alguém. O sentimento de gratidão é maravilhoso”.

“A esperança é indispensável, desde que nos esforcemos para atingir o objetivo. Temos que sair da zona de conforto. De repente, podemos perder o emprego, mas esse não é o fim da nossa carreira. Devemos acreditar, nos animar para buscar uma solução. Se estamos doentes, vamos melhorar. Porém, temos que ter fé na recuperação e fazer tudo o que for necessário. Motivação e esperança é para tudo na vida”.

“Nós estamos neste mundo com um propósito. E qual seria ele? Eu acho que é fazer o bem ou tentar mostrar que se pode fazer o bem, ser gentil, alegre. Muitas vezes, nós desarmamos com um sorriso. A gentileza desarma muitas dificuldades que podem surgir em uma relação pessoal. Lembrando que os nossos dias não são perfeitos durantes todas as suas 24 horas. Todos têm problemas em casa, no trabalho, na escola. Entretanto, se formos gentis nos sentiremos mais contentes. A alegria evita doenças”.

“Algumas vezes tive medo lá na Colômbia, ainda mais percebendo tudo o que ocorreu, a tristeza das mortes, o que poderia ter acontecido comigo. Mas o medo precisa ser enfrentado. Eu enfrentei esse medo, e as boas notícias vieram. E assim, de forma quase automática, todo e qualquer temor foi embora. Esse medo que nos ataca se transforma em coragem. Você sente que há possibilidades e, então, a coragem vem. E com ela uma vontade de melhorar, de acreditar nas pessoas ao seu redor, nos médicos, nos familiares”.

“Nem sempre um ser humano consegue se manter sereno durante as 24 horas do dia. A ideia é saber controlar para não agredir. Eu era muito explosivo, fosse no trabalho, em casa. Hoje, já estou bem menos explosivo. Claro, eu não vou perder uma carga cultural de 43 anos. Estou aprendendo a me controlar. Minha esposa me aconselha a não gastar energia com certas coisas, nem ficar irritado com determinados assuntos. Porque isso não leva a lugar algum. Ela tem razão”.

“Por que deixar para amanhã? Por que deixar para a semana que vem se você pode fazer hoje o amanhã? Não deixe de conversar, de se inteirar dos problemas dos outros. Porque as pessoas querem você por perto por segurança da sua presença. Pela amizade que têm por você, por uma questão familiar. Os motivos são tantos! Elas querem a sua presença, sentem-se fortes e seguras ao seu lado, gente que gosta de você e da qual você se afasta, às vezes, inconscientemente. Você priva as pessoas da sua presença quando poderia fazer tão bem a elas. Quantos não puderam se despedir? Quantos problemas poderiam ser resolvidos com um telefonema, com um carinho e ficaram para trás? A oportunidade não volta”.

“Repito. A vida é um sopro. Muitas vezes nos esquecemos de viver por causa do nosso trabalho, das nossas obrigações. Só que isso não é viver, mas sim sobreviver. Viver é outra coisa. Sobreviver é o que a gente faz todos os dias, sem nos dar conta. Viver é um pouco diferente. Ter vida é diferente. Quem sabe com um pouco de tranquilidade e reflexão possamos viver, ter uma vida plena e não apenas sobreviver. Se não pararmos com esse ciclo vicioso, continuaremos apenas sobrevivendo”.

“Muitos me perguntam qual é a minha missão. Todos têm uma tarefa a cumprir na vida. A minha é espalhar que o milagre existe, que as pessoas precisam acreditar em algo, que não podem se entregar. Quando as pessoas me falam em milagres, eu sempre lhes digo: 'Não deixe de acreditar. Tenha fé. A gente não pode se entregar na primeira dificuldade'. Porque alguns estão com problemas bem maiores”.

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