Por rafael.arantes

Rio - Andrade conhece o Maracanã como poucos, foram 256 jogos só pelo Flamengo no principal palco do futebol brasileiro. Mas o reencontro com o reformado estádio, na última fria e chuvosa quarta-feira, mexeu com ele. Para o bem e para o mal. Mesmo impressionado com a beleza do que se convencionou chamar de “arena”, o ex-jogador não escondeu certo desapontamento com o que vivenciou em sua primeira visita ao local desde o fechamento para a reforma visando a Copa do Mundo de 2014.

Andrade analisa futuro das torcidas no MaracaUanderson Fernandes / Agência O Dia

Tanto que nem se animou a ir ao clássico deste domingo, entre Flamengo e Botafogo. Um dos principais motivos é o valor dos ingressos. “Seria hipocrisia eu dizer que não posso pagar R$ 100 pela arquibancada, mas é uma questão de princípios. Só venho ao Maracanã se for convidado. O torcedor não merece um bilhete tão caro”, disse.

Nostálgico, Andrade admitiu sentir falta do antigo Maracanã: “Ficou um estádio de primeiro mundo, bonito e moderno. Mas hoje é só mais um, igual a muitos que existem por aí. O Maracanã perdeu o glamour, o charme. Não terá mais a geral e as figuras folclóricas que faziam parte do setor”, lamenta.

A elitização do Maracanã, agora privatizado, incomoda Andrade, que desfilou seu talento no ex-Maior do Mundo vestindo a camisa não só do Rubro-Negro, mas a do Vasco. “O povão, que é quem realmente adora futebol, não terá mais chance de torcer perto de seus ídolos, está barrado da festa. Até para os jogadores deve ser ruim atuar diante de um público mais frio”, avalia o ex-jogador, que, de casa, pela televisão, irá torcer para o Flamengo hoje à noite.

“Será um clássico equilibrado. O Botafogo tem um time melhor no momento, mais consistente, mais arrumado taticamente, mas tudo pode acontecer. Não diria que o Botafogo é o favorito, mas leva certa vantagem. Só que o Flamengo, pela tradição, vai vencer por 1 a 0, gol de Marcelo Moreno”, arrisca o treinador campeão brasileiro pelo Flamengo, em 2009.

Por falar em técnicos, Andrade é só elogios a Mano Menezes e Oswaldo de Oliveira: “Mano está no caminho certo. O Flamengo já tem uma cara, um padrão de jogo definido. Só precisa de reforços. Já Oswaldo é excelente. Passou por momentos difíceis quando chegou ao clube, mas agora tem os jogadores na mão”, observa.

Técnico já planeja volta à ativa e alfineta a diretoria
Recuperando-se de uma das fases mais difíceis de sua vida, ficou internado de dezembro a março, vítima de embolia pulmonar e trombose, após uma inflamação no joelho esquerdo, Andrade, aos 56 anos, quer voltar a exercer a função de treinador. Há um ano parado (seu último clube foi o Boavista, no Carioca de 2012), ele se diz preparado para comandar novamente um time.

“Já estou pronto. Por isso, aviso: ‘Se alguém quiser um campeão brasileiro, pode me procurar’”, brinca Andrade, referindo-se ao título de 2009 ganho pelo Rubro-Negro, que continua sendo uma de suas paixões. Antes de pensar na volta à beira do gramado, Andrade conversou com a diretoria e se ofereceu para colaborar com o clube:

“Estive com o Wallim (Vasconcelos, vice de futebol) e o Paulo Pelaipe (diretor de futebol) e sugeri ser observador ou coordenar as divisões de base, mas não tive retorno. Não quero impor nada, mas é impossível que eu não possa ser útil ao Flamengo”.

Andrade projeta retorno à ativaUanderson Fernandes / Agência O Dia

Dois 6 a 0 e uma ‘virada de casaca’ em grande estilo
Juiz de Fora, 15 de novembro de 1972. Da sala de casa, o jovem Jorge Luís Andrade da Silva, então com 14 anos, ouve, emocionado, seus ídolos Jairzinho, Fischer e Ferreti comandarem o Botafogo na goleada histórica sobre o Flamengo, por 6 a 0, no aniversário de 77 anos do rival.
Difícil acreditar, mas, nove anos depois, este mesmo menino, agora com 23 anos e dono da camisa 6 do Flamengo, fez o sexto gol nos 6 a 0 que enlouqueceram os flamenguistas, no Maracanã lotado, e enterraram um dos maiores tabus do futebol brasileiro.

“Sim, eu fui torcedor do Botafogo até os 15 anos, pouco antes de entrar nas divisões de base do Flamengo. Torcia para o Alvinegro porque ele tinha um grande time, com Paulo Cesar Caju, Fischer, Ferretti, Rogério, Vicentinho, Narciso... Mas quando fui para a Gávea, vi o que é o Flamengo, a sua grandeza e virei casaca”, admite.

Andrade tem o Flamengo x Botafogo de 8 de novembro de 1981 como libertador. “Aquele gol foi uma declaração de amor aos rubro-negros, lavou a alma dos jogadores e da torcida, que sofria com a provocação rival. Se tinham dúvidas sobre para qual time eu torcia, ela foi embora logo”, diz o quinto jogador que mais vezes (566) vestiu a camisa do Fla na história.

Clássico entre Fla e Bota marca vida do ex-jogadorUanderson Fernandes / Agência O Dia


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