Gentil Cardoso com seu inseparável megafone durante um treino na Ilha do Governador - banco de imagens
Gentil Cardoso com seu inseparável megafone durante um treino na Ilha do Governadorbanco de imagens
Por Flavio Almeida

Rio - As lendas são transmitidas geralmente de maneira oral, de geração em geração, como se fosse um dispositivo de sobrevivência de caráter cultural, sejam do folclore brasileiro, das sagas nórdicas ou da mitologia grega. O mesmo acontece no futebol. Diz uma delas que a expressão "vai dar zebra" ganhou notoriedade por causa de um jogo Portuguesa x Vasco. A frase teria sido proferida pelo técnico Gentil Cardoso às vésperas do encontro, que terminou com a vitória do time insulano por 2 a 1. Bem, até as lendas carregam dentro de si outras lendas. Em parte, a história é verdadeira.

Em parte.

O ano era o de 1964 e Gentil Cardoso, um conhecido frasista, estava no comando da Portuguesa. Na estreia no Campeonato Carioca, no dia 5 de julho, em pleno Maracanã, o time ficou no 0 a 0 com o Bangu, um dos favoritos ao título. Encantado com a maneira de jogar da Portuguesa e irritado com o desempenho de seu Bangu, o presidente Castor de Andrade tentou convencer Gentil a trocar a Ilha por Moça Bonita. O treinador agradeceu e negou. Para o espanto geral.

"Nós não somos favoritos porque a imprensa arranjou os donos das vagas (...) mas continuamos aqui, trabalhando escondidinhos e pode ser que dê zebra", justificou Gentil Cardoso em entrevista ao extinto 'Jornal dos Sports', na edição do dia 9 de julho.

A zebra de Gentil soou como uma vidência, um vaticínio que em breve se concretizaria. A profecia, de fato, se cumpriu alguns dias depois, em 23 de julho, na vitória de 2 a 1 sobre o Vasco no Estádio das Laranjeiras.

"Eu não disse que ia dar zebra, que ainda vai dar muita zebra neste campeonato? Pois é, acharam graça, zombaram. Agora, aguentem!", disse Gentil no vestiário da Portuguesa logo após o galope de sua zebra.

Naquele Carioca de 1964, a Portuguesa não voltaria a atacar ferozmente. Conseguiram depois um empate com Flu e outro com o Botafogo. Terminou em oitavo na classificação geral.

Mas a lenda estava construída e Gentil ainda viveu por mais seis anos para ver em vida a sua expressão ser usada e abusada. O futebol agradece a Gentil. Principalmente a Portuguesa, que tem no simpático animal a sua mascote.

Flávio Almeida é editor assistente do caderno Ataque

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