Rio - De tanto observar prédios quando menino, Hernanes sonhava ser engenheiro civil e até hoje não desistiu da ideia; apenas adiou os planos para quando encerrar a carreira nos gramados. Enquanto esse dia não chega, ele constrói seu caminho rumo à Copa de 2014, no Brasil. A um ano do Mundial, o volante da Lazio virou o 12º jogador do time de Felipão e foi o reserva que mais atuou na Seleção na conquista da Copa das Confederações. Hernanes esteve presente em todos os cinco jogos da vitoriosa campanha brasileira e chegou a ser titular diante da Itália, substituindo Paulinho, ainda na primeira fase. Convocado para o amistoso diante da Suíça, na quarta-feira, em Basel, o jogador festeja ter conquistado a confiança de Felipão.
O DIA: Você foi o décimo segundo jogador da seleção brasileira na Copa das Confederações. Tem algum sentimento de gratidão pelo Felipão ter voltado a lhe chamar?
HERNANES: Tenho sim. Ele me deu oportunidade, confiança. Eu estava preparado para conquistar a confiança dele. Acho que faltava isso. A confiança do treinador. Mostrei que podia e sou grato a ele por tudo.
Algum momento específico marcou você?
Foram vários momentos legais, mas quando o torcedor no Maracanã começou a gritar “o campeão voltou” foi o máximo. Eu e o grupo todo tínhamos como objetivo reconquistar o torcedor. Que ele voltasse a parar para ver a Seleção jogar. Que gostasse. E nós conseguimos isso. Reacendemos a chama do que é vestir a Amarelinha.
Você trabalhou com três treinadores na Seleção: Dunga, Mano Menezes e Luiz Felipe Scolari. Quais são as peculiaridades desses três gaúchos?
Olha (respira e pensa), é difícil falar. Eu não tive muitas chances de competição com o Dunga e Mano. Só a Olimpíada mesmo. Mas não muda muito. Tem a parte tática, a maneira de encarar. Os três levam a raça do futebol gaúcho. A escola gaúcha de marcar é semelhante. O Felipão tem mais experiência e se destaca por suas conquistas.
Na sua cabeça, você consegue entender o fato de ter se destacado na Olimpíada de Pequim (2008) e ter ficado fora da Copa da África do Sul (2010)?
O mais importante é conseguir a confiança do treinador. Aparentemente, você teve destaque, mas pouco adianta se não consegue conquistar o cara. Às vezes, ele achava que eu não estava preparado para a Seleção principal. Não sei...
Você declarou que ficou deprimido após a Olimpíada de Pequim porque o Brasil não conseguiu a inédita medalha de ouro. Aquele foi o momento mais frustrante de sua carreira?
Foi sim. Até então eu tinha mais vontade de conquistar a Olimpíada do que a Copa do Mundo. Queria muito a medalha de ouro. Queria algo inédito.
Você ficou marcado por uma expulsão contra a França, num amistoso em fevereiro de 2011. Ali, você chegou a temer que seu ciclo na Seleção pudesse ter chegado ao fim?
De nenhuma maneira. Sempre pensei que iria conseguir dar a volta por cima. Meu ponto forte é a determinação. Não iria abrir mão. Sabia que tinha sido um acidente e seria superado.
Você teve propostas para deixar a Lazio. O que pesa para a sua permanência no clube?
Propostas, não. Conversas. Até agora não sei o que teve. Jogador geralmente é o último a saber dessas coisas. O presidente da Lazio foi categórico ao dizer que eu não estava à venda. Falou tá falado (contrato até 2015).
O que você acha que precisa mudar na Seleção para a Copa do Mundo e o que deveria ser mantido?
Acho que devemos manter o espírito e a enorme determinação. A gente entrava em campo sempre para ganhar. Precisávamos vencer. Era fundamental. Temos que sempre melhorar as questões técnicas e táticas.
Como ex-jogador do clube, como você tem acompanhado a atual fase do São Paulo no Brasileiro?
Tanto como jogador quanto como torcedor do clube eu nunca tinha visto o São Paulo passar por uma fase tão complicada como essa. Mas acho que é uma questão de tempo. Quando a primeira vitória vier, tenho certeza de que o time tem tudo para se recuperar. Com o Autuori, que é um grande treinador, e os bons jogadores que o time tem vai sair dessa situação. Estou na torcida.
Antes da final da Copa das Confederações, contra a Espanha, você entregou uma foto da taça para os companheiros de Seleção. Foi uma profecia?
Não foi nenhum tipo de profecia, foi apenas uma maneira de focar um objetivo. Queria passar para os outros jogadores que nós não estávamos ali para esperar as coisas acontecerem e sim para sermos campeões. Era essa imagem que eu queria passar para os meus companheiros e a maneira que encontrei foi entregando uma foto da taça com uma mensagem para cada um deles.
Se você não tivesse ido para o futebol, o que seria?
Seria engenheiro. Engenheiro civil. Desde pequeno sempre gostei. Olhava os prédios. Sou observador. Se der tudo certo, vou ser depois que encerrar a carreira.
O que você anda lendo?
Tô lendo Augusto Cury. O título eu não lembro.
Sobre o que é? Ajuda em campo?
Sobre como funciona o cérebro, inteligência. O autoconhecimento é realmente a melhor arma psicológica.