Por pedro.logato

Minas - O mistério que cerca o destino das amaldiçoadas traves da Copa de 50 está perto do fim. Nos últimos meses, o Ataque encontrou peças chaves que podem montar o enigmático quebra-cabeça de mais de seis décadas. As apurações indicam que o goleiro Barbosa pode até ter feito um churrasco com uma das traves do Maracanã, mas não com a da Copa de 50. Pelo menos três anos antes, as balizas já haviam chegado a Muzambinho, Sul de Minas, onde estão há pelo menos meio século.

“As traves foram inauguradas em um jogo contra o Olaria, que fazia excursão pela região, em 1960, no estádio Professor Milhão. Não esqueço porque foi o primeiro jogo depois do estádio ficar fechado por quase oito meses, por causa do plantio da grama. O nosso time estava sem jogar há muito tempo e levamos de 12 ”, relembra o escritor Amír Além Aquino, 69 anos, que é conhecido em Muzambinho pela facilidade que tem em guardar datas. Na época, ele tinha 16 anos e era goleiro.

Traves de 1950 foram para cidade de MinasArquivo

O jogo citado por Amír terminou em 12 a 0 e ocorreu no dia 17 de maio de 1960. Doze dias antes, a ADEM, que administrava o Maracanã, comunicou à Federação Metropolitana de Futebol, do Rio, que o estádio ficaria interditado até o final do mês para a recuperação do gramado e, principalmente para a substituição das traves da época (quadrada) pelas cilíndricas. Como o Maracanã ficou fechado do dia 3 ao dia 31 de janeiro é bem provável que as balizas tenham sido buscadas no início do mês pelo motorista Geraldo Tardelli ‘Sapo’ para serem levadas para a cidade mineira. O radialista e publicitário Regis Policarpo, 70 anos, nascido e criado em Muzambinho, também conta a mesma história.

“Tenho certeza que foi em janeiro de 1960 que as traves da Copa de 50 foram inauguradas na cidade. Foi o Urias Oliveira, que era diretor do Maracanã e nascido na cidade que conseguiu.

"Lembro que o futebol ficou parado porque estavam gramando o campo”, garante. O ex-goleiro Wilian Peres Lemos, hoje com 71 anos, não tem boas lembranças daquela partida. “Eu tinha 17 anos e foi a primeira vez que entrei como titular. Lembro que perdemos o cara e coroa e ficamos na trave do gol do Barbosa. Foi um vexame! Quando saí já estava 6 a 0”, relembra bem-humorado Wilian, que hoje mora em Belo Horizonte.

Moradores da cidade garantem que a transferência das traves para Muzambinho foi feita às escuras. “Eles tiraram às escondidas. Meu pai me contou que os clubes do Rio resolveram trocar as traves pela redonda (cilíndrica) não por determinação da Fifa, mas por pura superstição. Achavam que dava azar”, revelou Célio, 66 anos, que era filho de José Otaviano Sales, o primeiro a pedir que as traves fossem levadas para a cidade para incentivar o futebol na região.

Tereza não crê em traves queimadas por BarbosaMárcia Vieira / Agência O Dia

Caliedônio Abreu, o “Calé”, trabalhou 56 anos no Maracanã, e nunca soube nada das traves. “ Só se saiu escondido senão eu saberia pois trabalhei no gabinete de diversos presidentes. Recentemente, passaram a dizer que o Barbosa ganhou uma trave do diretor Aberlard França e fez um churrasco. Mas isso também não tem fundamento. Inventam muita história”.

Tereza Borba, filha de coração de Barbosa, também tem dúvidas sobre o churrasco do goleiro. “O Barbosa dizia que tinha ganhado a trave e feito um churrasco mas depois dava uma risada. Mas quem é que não fazia um churrasco, em Ramos”, questiona. “Depois soube que as traves foram parar em Muzambinho. Hoje não banco mais a história. É um mistério que não sei será algum dia decifrado”.

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