Rio - Esta Copa, pelo visto, será marcada por jogos espetaculares e por sacrifícios extremos. Dos oito jogos da oitavas de final, cinco — mais da metade — tiveram prorrogação. Em dois casos, houve a maldade adicional da disputa de pênaltis. O equilíbrio entre as seleções indica que vem mais sofrimento pela frente.
Na segunda fase da Copa passada, na África do Sul, apenas duas das oito partidas foram para a prorrogação, mesmo número verificado na disputa de 2006, na Alemanha (lá, a Argentina encarou o tempo adicional duas vezes e acabou eliminada, nos pênaltis, pela Alemanha, na disputa pelas quartas de final).
Reabilitado em 1986, o mata-mata pode obrigar uma mesma seleção a participar de quatro prorrogações e disputas de pênaltis (nas oitavas, quartas, semifinais e na final). Isto, se depois de tanta crueldade ainda houver jogadores e torcedores vivos.
Em 1982, o número de participantes de copas pulou de 16 para 24; em 1998, mais oito equipes foram incorporadas, o que fez aumentar ainda mais o interesse pela competição e os lucros da Fifa. O número de 32 seleções impede que a segunda fase seja disputada por 16 equipes divididas em grupos de quatro: a competição não caberia no espaço de 30/31 dias reservados para sua disputa. Impossibilitada de aumentar o período de cada copa — os clubes não aceitariam ficar tanto tempo parados — a Fifa adotou o matar ou morrer e transferiu o problema para os jogadores e torcedores, obrigados a sofrer a cada rodada.
A sucessão de jogos eliminatórios transformou cada um de nós em masoquistas profissionais, torcemos para que a tortura não tenha fim — depois de uma sessão de sofrimento como a de sábado, ficamos felizes porque a Seleção não foi despachada, o que garantiu a nossa presença em outro passeio pelo inferno. Não ficarei surpreso se, daqui a alguns anos, vier à tona algum acordo secreto que prove a união entre os organizadores da copa e clínicas cardiológicas. Algo tem que justificar tanta maldade.