Por pedro.logato

Rio - A geração que perdeu a Copa de 1950 foi redimida — não por uma vitória em casa como tanto desejávamos, mas por uma derrota humilhante. A goleada de ontem ressalta a dignidade daqueles homens que, por toda a vida, ficariam marcados por jogo perdido por 2 a 1, resultado possível numa partida entre duas grandes equipes. Os vice-campeões de 1950 não podem ser comparados aos atletas e integrantes da comissão técnica que protagonizaram o maior vexame do nosso futebol.

Os jogadores que entraram em campo nesta terça não formavam um time. Jornalistas que cobriam a Granja Comary registravam que a seleção não treinava, não ensaiava jogadas. Felipão comportava-se como técnico de time de pelada: distribuía camisas e organizava um rachão. O choro de alguns nos pênaltis contra o Chile revelou a insegurança de atletas que conheciam as limitações do time, que se sabiam despreparados. O apagão depois do primeiro gol alemão reforçou que o problema era técnico, não psicológico.

Oscar deixa o campo desolado no MineirãoReuters

A seleção chegou à semifinal apenas por ter um grande craque. Sua ausência evidenciou ainda mais a fragilidade daquele bando vestido de amarelo. Sem saber o que fazer — pelo visto não contava com a possibilidade de Neymar se contundir —, Felipão organizou um coletivo com dois possíveis substitutos, e optou por um terceiro, Bernard.

Desde a sexta passada que eram citadas alternativas a Neymar. Havia alguma discussão tática, mas eram ouvidas, principalmente, palavras como superação, garra, vontade — como se esses fossem elementos capazes de superar a incompetência e o despreparo. O patético seria acentuado pela decisão de se levar a camisa 10 para o campo, uma admissão prévia da derrota. Sem o craque e diante, enfim, de um adversário forte, a seleção mostrou que não dispunha de qualquer entrosamento ou de alternativas de jogadas, a ligação entre defesa e ataque era feita por David Luiz (o mesmo que falharia no primeiro gol alemão).

A derrota de 50 mostrou que era preciso melhorar a estrutura do futebol brasileiro, mudança que não se restringiu à simbólica troca na cor da camisa da seleção. Agora são necessárias alterações ainda mais profundas, a Alemanha que nos impingiu a vergonhosa goleada é fruto de anos de planejamento, de trabalho sério.

Não basta ter bons jogadores, é preciso transformar os clubes, acabar com o amadorismo de suas administrações, útil apenas para viabilizar a roubalheira que enriquece quase todos os que gravitam no futebol. É preciso estancar a saída precoce de jogadores, criar condições para que eles permaneçam por aqui. Necessário também criar uma espécie de Lei Áurea que elimine a escravidão imposta a jovens talentos por traficantes de gente, empresários que se tornam proprietários de garotos de 11, 12 anos.

É fundamental trazer técnicos de outros países, profissionais que superem a lógica do vamos que vamos, que parem de falar em grupo fechado, que deixem de equiparar seus elencos a famílias. Times não são para encontros de família — para ser formados exigem trabalho, esforço e talento. Nada disso foi mostrado pela seleção, que aqui escrevo com minúscula. Que esta Copa marque o fim da complacência com os ladrões e com os incompetentes que vampirizam o nosso futebol.

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