Atualmente se dividindo entre o nado e os estudos na faculdade de jornalismo, Marcela faz de tudo para evitar o distanciamento entre as vertentes, mas não deixa de lado a importância dos distintos sonhos profissionais. Campeã brasileira com o Flamengo nos últimos cinco anos, a atleta vem conseguindo separar a rotina de treinos dos momentos de estudo e o fato também é visto como incentivo para seguir nas caminhadas, onde o clube da Gávea se fez presente em peso.
Confira, na íntegra, a entrevista com Marcela Pereira:
ATAQUE: Como você começou no esporte?
Marcela Pereira: Comecei fazendo natação no Flamengo e sempre ficava vendo as meninas do nado sincronizado, namorando aquilo tudo. Meu colégio tinha uma parceria com o clube e a única modalidade em período integral era justamente o nado. Como eu fazia natação à parte, sempre queria estar mais perto das meninas do colégio, até que não teve jeito e comecei a fazer. Desde então não larguei mais, foi uma grande afinidade. Comecei em 2000, na categoria Infantil A, para menores de 12 anos. Em 2008, quando fiz 18, passei a fazer parte do Sênior, mas é possível competir nessa categoria estando em outras, eu mesmo cheguei a disputar mais jovem. Mas, no geral, foi uma grande influência do meu pai.
Isso, posso dizer que foi influência do meu pai sim. Ele sempre praticou esportes, até hoje está na ativa. Sempre gostou de boxe, muay thay, capoeira, de corrida então.. Sempre gostou muito e me mostrou o lado bom do esporte, foi um dos grandes motivos de estar aqui.
E os treinos? Como divide os horários?
Treinamos de segunda à sexta-feira, na parte da tarde. É aqui na Gávea mesmo, das 14h às 18h. Quando vai chegando mais perto das competições acabamos passando a treinar aos sábados também. Atualmente, estou estudando a noite, mas quando quando mais jovem era mais complicado de conciliar. Infelizmente, moramos num país que não dá para conciliar os estudos com os treinamentos. Ou você se dedica ao estudo ou ao esporte, tenho certeza que esta é a dificuldade de muitos atletas que passaram por aqui. É muito puxado, houve momentos que pensei em desistir, mas fui além. Tem certos momentos que é preciso saber qual caminho seguir, na Seleção mesmo era ainda mais complicado pois treinavamos em jornada dupla e em todos os sábados e feriados.
E se pintasse uma oportunidade no Jornalismo..
Com certeza daria um jeito de seguir. Não tem como deixar esse lado mais profissional de lado. A questão é a afinidade com o esporte, gostar muito, vivenciar isso desde pequena. Mas não dá para fechar os olhos para o futuro também. É difícil viver tendo o esporte como sustento.
Como é a relação com as outras meninas?
Estamos juntas há muito tempo. Muitas das meninas estão comigo desde o Infantil A e isso é um dos grandes fatores que me motivam até hoje. Estamos sempre juntas, nos gostamos muito. Inclusive, minha técnica Roberta também faz parte disso. Treino com ela desde essa primeira categoria, temos todas uma grande afinidade. Nossa relação passa do lado profissional, realmente criamos uma família, costumamos chamar até mesmo de 'fla-mília', pode colocar aí(risos)..
Nossa equipe tem uma cumplicidade enorme, é uma amizade dentro e fora d'água. Em 2012 tivemos uma grande dificuldade durante o Campeonato, estava bem difícil, e juntas conseguimos deixar para trás e garantir mais um título. Nossa amizade e nossa união fazem a diferença.
Preocupação total, com certeza. Pensamos muito nisso, chegamos a conversar muito com a nossa treinadora e ela sempre jogou limpo com a gente. Chegou uma nova gestão e sabemos que estava uma situação complicada para manter todo mundo. Imagino que é complicado para o clube conseguir sustentar tudo, mas graças a Deus continuamos aqui. É um esporte que não tem tanto espaço mas que não pode chegar ao fim. Aqui no Rio mesmo, atualmente, só existe equipe de nado no Flamengo, no Tijuca e no Fluminense.
Uma grande sensação de alívio né?! Seria uma tristeza imensa ver o esporte que me criou, e já não tem uma estrutura muito grande, estar perdendo cada vez mais espaço.
É realmente o amor. A vida de um atleta é muito difícil. Não temos um grande apoio em relação ao estudo e, realmente, vivemos em uma grande batalha. Mas fazer parte é indescritível. Muito bom mesmo.
Dos 13 anos no esporte, quais momentos foram mais marcantes?
São muitos. Estar fazendo o que a gente gosta é sempre muito bom. Posso enumerar muitos torneios, muitas competições, mas acho que cada um tem seu valor, são situações distintas. Para enumerar alguns, eu falaria de todos esses últimos Campeonatos Brasileiros, o Argentina Open, ano passado. Ah, muitos.. Os Mundiais, da China e Rússia, os Sul-Americanos que consegui conquistar também. Estar no esporte já é um fato marcante.
E qual o maior sonho?
Seria participar das Olimpíadas no Brasil, mas atualmente está fora de cogitação.
Fora de cogitação?
É. Tenho prezado mais o meu lado profissional na faculdade, buscando estágios e tudo mais. Também tem o fato de ter deixado a Seleção há alguns anos já, então meio que esse foco se distanciou um pouco.
Qual lição fica de toda essa vivência?
Só há uma coisa. O meu recado é de incentivo ao esporte. Assim como eu encontrei o meu dom no nado, cada um tem a capacidade de poder se descobrir melhor numa atividade. Para mim sempre foi tudo muito bom, além de ser algo que trabalha o corpo, também trabalha a mente. O Flamengo me ensinou muita coisa. Aprendi a trabalhar em equipe, a manter o foco e, com certeza, isso só tem a somar. Sobre esse esporte, no geral, só penso em coisas boas, espero que continue crescendo e evoluindo, pois além de ser muito bonito, também tem um grande potencial.