Por ulisses.valentim

Rio - Os torcedores que sentam atrás do banco de reservas gostam de chamar o lugar de Fla-Mureta. Ali, pela proximidade do campo, se sentem um pouco auxiliares do treinador, no melhor estilo geral do Maracanã, apesar dos ingressos do setor Premiere Oeste custarem salgados R$ 120.
Na véspera do jogo, Mano Menezes tinha garantido que iria até o fim com o Flamengo. Não foi o que aconteceu. E a demissão pegou de surpresa até seus “auxiliares”, que em noventa minutos de partida sugeriram, gritaram e até xingaram algumas atitudes do até então treinador rubro-negro. Mas em nenhum momento pediram sua saída.

Mano deixou o comando do FlamengoAndré Mourão / Agência O Dia

Mano sempre falou em coragem, mas se via no time uma dependência do treinador. Durante todo o primeiro tempo, mesmo com uma vantagem de 2 a 0 no placar, os jogadores, quando passaram a ser encurralados pelo Atlético-PR, olhavam para o treinador, desorientados, procurando soluções naquele que foi o comandante da seleção brasileira, e ajudou a reconstruir Corinthians e Grêmio, quando estes foram rebaixados para a Série B.

A partir do terceiro gol dos paranaenses, Mano ficou em pé, de braços cruzados, sem reação. Parecia não acreditar no que estava acontecendo e já planejando a demissão que se concretizaria algumas horas depois.

A coragem que o treinador pedia para o time demonstrar em campo faltou na hora em que a tabela do Campeonato Brasileiro apertou e a zona de rebaixamento começou a flertar com o Flamengo. Uma paquera de anos, que nunca se concretizou, mas que não se pode bancar que não possa virar um casamento triste e infeliz. Antes disso, o treinador optou por sair.

Mano deixou o ônibus do Flamengo para trás em seu primeiro pedido de demissão na carreira. Vestindo camisa social branca, calça jeans e uma pasta na mão, deixou a pé o estádio e entrou em um carro já na rua. Para não voltar mais. Pelo menos por enquanto.

Jaime comandou treino nesta sexta após a saída de ManoCarlos Moraes / Agência O Dia

Multa e apelo não mudam os planos do treinador

Se a decisão de deixar o Flamengo não pesou na consciência de Mano Menezes, vai pesar no bolso. A multa rescisória prevista é equivalente a dois salários, valor que chega perto de R$ 1 milhão. Mas nem o dinheiro e nem o apelo dos jogadores conseguiram fazê-lo mudar de ideia.
Ainda no vestiário do Flamengo, após a derrota para o Atlético-PR, Mano ouviu dos jogadores pedidos para não abandonar o time. Chicão, Hernane, André Santos e Marcelo Moreno tentaram convencer o treinador a ficar. Em vão. “Nada vai mudar. Respeitem minha decisão”, respondeu o técnico, que explicou ao grupo que a decisão foi por conta de não conseguir passar para eles o que desejava.


Já na saída do estádio, os jogadores não conseguiram esconder a surpresa. O que se via era um clima de total abatimento entre eles.

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