Por rafael.arantes

Rio - O alto valor dos ingressos para a final da Copa do Brasil continua tomando ares de guerra. Em razão do não comparecimento do Flamengo na reunião convocada pelo Procon-RJ para esta quarta-feira, a entidade entrou com Ação Civil Pública, na 1ª Vara Empresarial, proibindo o aumento abusivo cobrado pelo clube e estabelecendo a majoração das entradas em, no máximo, 30% do valor praticado habitualmente. Após a ausência do clube na reunião, a entidade foi até a Gávea em busca de esclarecimentos sobre o aumento abusivo no preço das entradas para o segundo jogo da decisão, marcado para o dia 27 de novembro, no Maracanã, e de uma lista de sete documentos para maiores análises. Sem encontrar o presidente Eduardo Bandeira de Mello, o órgão acabou fazendo com que o caso virasse de polícia e fosse parar até mesmo na justiça.

O que mais complica a situação entre Flamengo e Procon é que o clube se recusa a entregar ao órgão uma cópia do contrato com o Maracanã, que passaria por análises sobre os percentuais de renda direcionados a cada parte. Segundo o o diretor de fiscalização do Procon Fábio Domingos, o Rubro-negro não compareceu à reunião marcada e enviou apenas dois dos sete documentos pedido pelo Procon (Cópia do contrato com o Maracanã, cópia do contrato padrão do Sócio-Torcedor, relatório financeiro do clube nos últimos 12 meses, planília demonstrativa da renda de bilheteria dos jogos do Flamengo na Copa do Brasil, planília demonstrativa do faturamento obtido com o arrendamento do imóvel do Morro da Viúva e que seja comprovada a destinação deste valor, borderô dos jogos do Flamengo na Copa do Brasil, relação dos valores cobrados pelos ingressos dos jogos anteriores na Copa do Brasil). Fábio ainda afirma que o clube da Gávea não explicou o motivo dos aumentos abusivos nos valores dos ingressos.

'Guerra dos ingressos' teve presença do Procon e PM na GáveaDivulgação

A PM chegou a comparecer na sede rubro-negra para tentar controlar a situação e o caso foi direcionado para a Delegacia do Consumidor, na Cidade da Polícia, onde Leonardo Ribeiro (Capitão Leo) e Gonçalo Veronese, ex-membro e integrante, respectivamente, do conselho fiscal do Flamengo e responsáveis pela denúncia do caso ao Ministério Público, também compareceram para prestar queixa contra o clube. A dupla alega que o Rubro-Negro esteja praticando o crime de venda casada, obrigando os torcedores a se tornarem sócios para adquirirem descontos na compra do ingresso: "Venda casada é crime contra a economia popular. O Flamengo extrapolou e vai ter que recuar", afirmou Leonardo.

Em conversa com O DIA, Fábio Domingos afirmou que a entidade foi a responsável por acionar a PM na sede da Gávea. Segundo ele, o objetivo é que o Flamengo responda pelo crime de desobediência, já que não compareceu à audiência convocada para esta manhã. Acompanhado do chefe de segurança do clube, os diretores do Flamengo Bernardo Accioly e Marcelo Helman compareceram à Delegacia do Consumidor para prestar esclarecimentos.

"Fomos nós que chamamos a PM. Quem está indo para a delegacia é o diretor jurídico (Bernardo Accioly). Não houve confusão, sempre tem alguém querendo falar algo a mais na situação, mas vamos continuar correndo atrás desta situação", afirmou Fábio.

Já a secretária Cidinha Campos garante que o Procon vai buscar também a suspensão da venda dos ingressos para o segundo jogo da final da Copa do Brasil, marcado para o dia 27 de novembro, no Maracanã: "Nós vamos tentar suspender esta venda. O Procon não tem esse poder, mas vamos correr atrás até o fim", garantiu. 

Na manhã desta quarta-feira, o Flamengo liberou a venda dos ingressos para todos os planos de sócio-torcedor do clube. Na segunda-feira, as vendas foram iniciadas apenas para os sócios do plano "Mais Paixão". Com o site dos sócios-torcedores rubro-negros fora do ar por algumas horas desta manhã, muitos torcedores reclamaram das complicações até mesmo no sistema da venda. Os preços exorbitantes também são alvos das críticas constantes da torcida.

Torcida do Flamengo se surpreende com alto valor dos ingressos para a final da Copa do BrasilJoão Laet / Agência O Dia

O CASO

A polêmica iniciou quando o Flamengo divulgou o preços dos ingressos para a decisão do dia 21 (entradas variam de R$ 250 a R$ 800) e acabou surpreendendo até mesmo os próprios torcedores. A secretária do Procon-RJ, Cidinha Campos, garantiu que a entidade irá correr atrás para que o clube reduza o valor dos bilhetes e chegou a entrar com uma ação judicial e uma representatividade por desobediência na Delegacia do Consumidor contra o presidente Eduardo Bandeira de Mello.

"O Flamengo deu uma desculpa esfarrapada e não mandaram os documentos e nem vieram até aqui. Já fizemos nossa parte e demos entrada numa ação judicial e estamos fazendo uma representação contra o presidente por crime de desobediência", afirmou.

Cidinha também afirmou que o Flamengo estaria agindo de má fé ao vender os ingressos de maneira antecipada e com preços tão exorbitantes, já que a equipe da Gávea ainda tem pela frente o primeiro jogo da final contra o Atlético-PR, que será disputado na próxima quarta-feira, no estádio Durival de Britto, no Paraná.

Bandeira de Mello critica atitude do ProconDivulgação

"Esta nova etapa da venda, de hoje (quarta-feira), configura ainda mais a má fé do Flamengo, que está tentando vender todos esses ingressos antecipadamente numa promessa de que o jogo no Rio será importantíssimo, antes mesmo de jogar no Paraná, no dia 21", afirmou.

Na manhã da última terça, o diretor de marketing do Flamengo, Fred Luz, deixou claro que o clube não trabalha com a hipótese de redução dos valores e ainda afirmou que os esclarecimentos ao Procon não deveriam inteferir no processo de venda dos ingressos.

"Nós não trabalhamos com a possibilidade de reduzir os valores, não sei nem se isso é possível. O jogo vai lotar, a procura está enorme. Temos uma estimativa de renda entre R$ 8 e R$ 9 milhões. Não sei nem se é possível (que o Procon interfira nas vendas), acho que não", disse Fred.

Além da situação envolvendo o Procon, o Flamengo também se depara com um inquérito aberto pela 4ª Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor do Ministério Público do Rio de Janeiro para a investigação do aumento gradativo no valor dos ingressos, para verificar se houve algum tipo de abuso por parte da diretoria do clube. O promotor Paulo José Sally emitiu notificações para que o clube da Gávea e o Consórcio Maracanã justifiquem os aumentos.

Pelo lado do Flamengo, o presidente Eduardo Bandeira de Mello explicou em entrevista coletiva os motivos pelo qual o clube decidiu aumentar o valor dos ingressos. Segundo ele, a atitude do Procon é uma "maneira covarde" de impedir a geração de recursos do Rubro-Negro.

"Tudo isso faz parte de uma política de geração de recursos. Estão tentando nos impedir da maneira covarde. Para grande parcela da torcida, cobrar R$ 10 reais no Maracanã continua sendo caro, até porque para pagar o transporte boa parte vai ter dificuldade. Mas boa parte vai entrar de graça, e a maior vai pagar R$ 75, que é o sócio que vai ter direito a meia. No Rio, 80% dos ingressos são meia. Nós precisamos muito desses recursos para pagar os compromissos, temos direito de fazer e não podemos ser vítimas de arbitrariedade, só se compara ao que acontecia no regime militar", esbravejou.

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