Por fabio.klotz
Rio - Ele freia a euforia. Quem acha que o Flamengo abrirá os cofres pela Libertadores se engana. O vice de finanças, Rodrigo Tostes, não apostará tudo em 2014, que será novamente de arrocho, embora projete arrecadar R$ 40 milhões com o sócio-torcedor no ano novo, e dias melhores para 2015 e 2016. Seu grande desafio para a temporada será reduzir as despesas sem abrir mão de um time competitivo. Enquanto busca reforços com a cara do Rubro-Negro, ele espera a resposta final do Sporting por Elias, sem pessimismo ou otimismo, mas certo de que o clube chegou ao seu limite financeiro na proposta que fez para clube e jogador.
Rodrigo Tostes prega cautela para 2014Divulgação

O DIA: O Flamengo aumentou as receitas, mas você já disse que ainda precisa diminuir as despesas. Como fazer isso em um ano de Libertadores?

Rodrigo Tostes: Esse é o grande desafio. Mas não podemos cortar a ponto de não sermos competitivos. Faremos contratações pontuais, sem loucuras, de forma cirúrgica, assumindo compromissos que possamos pagar. Teremos a oportunidade de investigar mais a fundo o clube. Ainda existem vícios de clube desorganizado no passado. As despesas eram controladas como em numa empresa. Isso envolve gestão de pessoas, fornecedores, conta de água, luz, verificar tudo. O quadro funcional. Uma investigação geral. Hoje não posso dizer que boto a cabeça no travesseiro e digo que clube está enxuto, organizado.

Dá para ganhar a Libertadores sem gastar muito?
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Não temos que prometer título, temos que disputá-lo. A primeira coisa que temos que deixar para trás, e foi o que me trouxe a ajudar esse grupo que se uniu para levantar o Flamengo: não existe mais isso de entrar para cair. Ganhar a Libertadores ou não é consequência do que será feito em campo, não só do investimento. Há casos de clubes que gastam uma fortuna e não conseguem resultado, e outros modestos conseguem. Mas temos que nos reforçar.
O Corinthians foi campeão investindo muito. Há algum clube que venceu sem gastar que você use como referência?
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O Flamengo tem potencial muito maior que o Corinthians de captação de receita. O nosso sócio-torcedor mostra isso. A gente espera em 2014 arrecadar R$ 40 milhões. Mais projetos incentivados para o esporte olímpico, que passará a ser superavitário, não dependerá do futebol. O Flamengo é incomparável em termos de Brasil.
Com a Libertadores, qual foi o tamanho do salto no orçamento de 2014?
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A gente tem reunião de planejamento marcada. Em breve vou conversar com o futebol para definir isso, mas lógico que terá um salto. Só não podemos fazer loucuras. Não adianta ganhar um campeonato e no outro ano cair. Não vamos apostar todas as fichas em 2014. O nosso trabalho é de médio prazo para sanear o clube. Não vamos botar a Libertadores acima de qualquer coisa. Teremos um time mais forte, mas não podemos prometer Messi e Cristiano Ronaldo.
O programa sócio-torcedor já alcançou quase 60 mil adeptos e, até setembro, arrecadou R$ 4,3 milhões. Como continuar atraindo novos sócios?
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Isso é uma ação do time do marketing, capitaneado pelo Fred Luz. O que eu sei é que haverá a venda do pacote para a Libertadores. Soltaremos este ano ainda, para os jogos aqui e fora, com limite. Isso vai atrair muito mais sócios, como atraiu a final da Copa do Brasil. A tendência é, em grandes clássicos e jogos importantes, como na Libertadores, ser muito difícil comprar para quem não for sócio-torcedor. É a percepção de que precisa ser sócio-torcedor para ir ao estádio e ter a comodidade de comprar em casa, passar roleta com o próprio cartão, com ingressos mais baratos, descontos em estabelecimentos... Assim a gente consegue dar ao torcedor uma contrapartida. Ano que vem projetamos essa receita como a nossa segunda maior, atrás da TV.
Como está a negociação com o Sporting para a compra do Elias?
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Está tendo uma negociação, e a gente espera evoluir nas próximas semanas para ter uma posição final. Não estou nem otimista e nem pessimista. É uma negociação. O Flamengo chegou ao seu limite. Agora cabe ao Sporting e ao Elias tentarem digerir a nossa proposta.
Foi o primeiro ano dessa gestão. O que deu certo e o que não pode se repetir?
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O que deu certo foi pagar as contas em dia e cumprir compromissos. Trazer credibilidade foi primordial. Manter a lisura, a transparência. Do contrário, não teríamos atraído esse número de sócios-torcedores, patrocinadores, que o clube não tinha há três anos, nem todas as receitas que passamos a gerar. Evoluímos muito no sentido de entender como funciona o meio. Tomamos decisões certas e erradas, que serão avaliadas para não tomarmos mais da mesma forma. Ainda não é um clube eficiente, mas evoluiu muito. Antes, as negociações eram feitas por uma pessoa. Não se pode deixar na mão de uma pessoa pagar R$ 500 mil, R$ 1 milhão para um jogador. Hoje há um contrato padrão que o jogador aceita ou não, e as coisas são discutidas, com critério.
Que perfil de reforços o Flamengo busca?
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Cabe ao futebol trazer a lista para avaliarmos em conjunto. Mas é jogador que vai representar a nova cara do Flamengo. Aquele atleta que não é atleta, a gente não vai buscar, por melhor que ele seja. Queremos profissionais sérios, como os que temos hoje. Não se ouve mais as coisas que ouvíamos no passado.
Em 2013 houve atraso nos direitos de imagem. Como controlar isso?
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Controle a gente tem 100%. O problema deste ano foi porque chegamos devendo R$ 124 milhões. Ano que vem estamos projetando não ter qualquer atraso. Mas os salários estão em dia.
Quando você assumiu o cargo, disse que o bicho era mais feio do que imaginava. Agora como está?
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Está bem menos feio. A primeira coisa era identificar o tamanho do buraco. Traçamos a estratégia para reduzi-lo, e ela foi totalmente cumprida. Tínhamos R$ 124 milhões de buraco. Postergamos, negociamos, mas geramos muita receita. Pagamos R$ 100 milhões em impostos do passado e do presente. Imagina se tivéssemos R$ 100 milhões a mais para investir em jogadores? Mas o mundo não admite isso. Nem todos os clubes pagam, e isso cria uma disparidade grande na capacidade de investimento. Isso tem que ser discutido. Teremos um 2014 muito difícil ainda, mas para 2015 e 2016, já vemos uma luz muito intensa no fim do túnel. Todos os acordos, com a exceção dos fiscais e trabalhistas, se encerram em 2014 e 2015. Não se mata R$ 750 milhões de dívida em três anos, mas a gente espera chegar ao fim da gestão com pelo menos 40% da dívida pagos.