Por bferreira
Rio - Quase 24 horas após o início dos tumultos que levaram muita desordem ao entorno do Maracanã, o Flamengo divulgou nota externando sua "indignação" com os episódios de violência registrados na noite de quarta-feira. Na ocasião, o time carioca disputou a final da Copa Sul-Americana com o Independiente e ficou com o vice-campeonato, depois do empate por 1 a 1.
Motorista atropelou um torcedor. Após parar para prestar socorro foi agredido e roubadoReprodução TV Globo
O clube rubro-negro citou a "infiltração de desordeiros" entre os torcedores e a "tradição nefasta do torcedor que não possui ingresso em forçar a entrada no estádio". O Flamengo ainda classificou os atos de violência como "ação de selvagens" e rebateu uma afirmação da Polícia Militar de que o sistema de ingressos oferecido tenha dificultado o trabalho de segurança.
Publicidade
No texto, o Flamengo disse que "a confusão antes do jogo foi provocada primordialmente por um grande número de pessoas tentando entrar no estádio sem ingressos, o que, infelizmente, é um hábito comum e histórico em todas as partidas de grande apelo do clube no Maracanã". O clube afirmou ainda que o tumulto após a partida, por sua vez, "foi fruto da frustração de torcedores com o resultado, mas de forma alguma se justifica".
No comunicado, o Flamengo garantiu "se solidarizar com todos os torcedores que, de alguma maneira, foram afetados pela selvageria, violência e falta de cidadania daqueles que provocaram tumulto".
Publicidade
Ao mesmo tempo, o clube carioca rebateu declarações do major Silvio Luiz, comandante do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe). Em entrevista à TV Globo, o major declarou que o sistema de ingressos oferecido pelo Flamengo - mediante cartão de sócio que precisa ser carregado - prejudica o controle de acesso, já que muitos passam pelas barreiras sem ter o cartão habilitado para o jogo.
Confira na íntegra a nota do clube:
Publicidade
O Clube de Regatas do Flamengo vem a público expressar sua indignação com os fatos ocorridos na noite desta quarta-feira, no Maracanã, durante a final da Copa Sul-Americana. E também se solidarizar com todos os torcedores que, de alguma maneira, foram afetados pela selvageria, violência e falta de cidadania daqueles que provocaram tumulto antes e depois da partida.
Publicidade
A confusão antes do jogo foi provocada primordialmente por um grande número de pessoas tentando entrar no estádio sem ingressos, o que, infelizmente, é um hábito comum e histórico em todas as partidas de grande apelo do clube no Maracanã.
O problema ocorrido após o apito final foi fruto da frustração de torcedores com o resultado, mas de forma alguma se justifica. Torcedores que amam o clube, suas famílias, além de profissionais atuando no jogo não podem ficar reféns, retidos no estádio, em função da ação de selvagens.

Cabe reflexão mais ampla e profunda sobre os fatos por parte da sociedade. Diferentemente de outros eventos no Rio de Janeiro, como o Rock In Rio ou o Carnaval que mobilizam enorme interesse e têm escassez de ingressos, o futebol padece de problemas mais graves. Existe a "tradição" nefasta do torcedor que não possui ingresso em forçar a entrada no estádio; a infiltração de desordeiros em torcidas organizadas e o espírito de agressividade muito maior do que em outras atividades culturais. Tudo isso faz com que o controle de público em jogos de futebol seja muito mais complexo.

Publicidade
Se considerarmos a praça em que o espetáculo é realizado, cabe ressaltar que o Maracanã é um estádio grande, urbano, dentro de um bairro populoso, o que faz com o que o acesso a ele seja fácil e, paradoxalmente, facilite a invasão de torcedor, o que aconteceu até mesmo na Copa do Mundo.
Portanto, consideramos equivocada a justificativa dada pelo comandante do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios de que apenas um fator – o uso de cartões-ingressos descarregados por sócio-torcedores mal-intencionados – seja a razão predominante para os acontecimentos de ontem. É importante citar que cartões-ingresso são amplamente utilizados em eventos esportivos no mundo todo, inclusive no Brasil, e são uma forma de oferecer conforto e comodidade aos torcedores que fazem uma contribuição fundamental ao Flamengo, além de representarem um fator inibidor do cambismo e de confusões na venda de ingressos, como as grandes filas e quebra-quebras em bilheterias.
Publicidade
Um jogo decisivo do Flamengo, com lotação máxima apresenta muito maior risco e complexidade no que diz respeito ao acesso de torcedores do que uma partida de Copa do Mundo, em função das diferenças de perfil dos públicos envolvidos. Em compensação, a mobilização e o planejamento dos órgãos públicos para uma partida como a de ontem é incomparavelmente menor do que o realizado nos jogos do Mundial de 2014.
Outro ponto que torna o planejamento para partidas de grande apelo é o fenômeno das torcidas organizadas, movimento criado há cerca de 50 anos, que surgiu com o propósito de incentivo ao time, mas que hoje é associado a episódios de invasão, vandalismo e violência.
Publicidade
Some-se a isso o hábito dos torcedores em geral em postergarem sua entrada no estádio, a compra de ingressos, muitas vezes falsos, em cambistas e a já citada utilização indevida dos cartões de sócio-torcedor.
A título de informação, em reuniões operacionais antes da partida, o Flamengo notificou o Comando Maior da Polícia, assim como o GEPE, o 6º Batalhão (Tijuca) e a Guarda Municipal, solicitando o maior efetivo possível, dado o grande apelo da partida. Por sua vez, contratou quase mil seguranças privados para atuar a partir do momento da revista e acesso a catracas e em vários setores dentro do estádio.

Mesmo assim, tal mobilização pública e privada não foi suficiente para impedir os problemas, que aconteceram não só no Maracanã, como também em diversas ruas dos bairros próximos ao estádio, estações de trem e estações de metrô.
Publicidade
Dada tal escalada de violência, o Flamengo se propõe a, junto com os órgãos públicos, encontrar soluções para que seus jogos decisivos no Maracanã tenham o efetivo de segurança adequado, planejamento e bloqueios de ruas compatíveis com sua complexidade, uma vez que a Polícia Militar do Rio de Janeiro tem encontrado muitas dificuldades do ponto de vista de estrutura e contingente para realizar seu trabalho nas praças esportivas e outros pontos do Estado.
Com informações do Estadão Conteúdo