Rio - O cantor e compositor Rogerio Skylab é uma figura única no meio da música. Seu som excêntrico atrai vários admiradores como Jô Soares e muitos críticos que não entendem sua poesia. Ao falar sobre futebol, o torcedor do Fluminense segue a mesma linha, com opiniões fortes, que causam divergências. O músico abre a série "O meu coração tricolor".
Para Skylab, Fred não é uma unanimidade na história tricolor. Além disso, o cantor, de 57 anos, destaca como sua equipe inesquecível o Flu do fim da década de 1960, que tinha como destaque o seu maior ídolo: Samarone, superando esquadrões mais gloriosos do clube das Laranjeiras, como a Máquina de 1975-1976, a equipe tricampeã carioca e campeã brasileira na década de 1980 e do Time de Guerreiros, bicampeão brasileiro.
O DIA: Com quantos anos você assistiu à primeira partida no Maracanã?
Rogerio Skylab: Bem novinho, com 5 anos. O curioso é que a minha primeira partida de futebol no Maracanã não teve Fluminense. Foi Flamengo x Botafogo. Meu pai era botafoguense e já tramava a minha captura. Eu me lembro desse jogo. Dida era o grande ídolo rubro-negro. Tinha também o Henrique na ponta esquerda. O Botafogo tinha Amarildo, Garrincha, Quarentinha. Fizeram de tudo para me levar para General Severiano. Resisti como um guerreiro tricolor.
O DIA: No seu programa no Canal Brasil, ''Matador de Passarinho'', você convidou Lula, ex-jogador do Fluminense. Como foi para você entrevistar um grande ídolo do Tricolor?
Rogerio Skylab: Fiquei muito emocionado. Porque Lula é que nem Castilho, faz parte da essência tricolor. Fazer parte dessa essência não é pra qualquer um. Jair Marinho, Pinheiro, Altair. O próprio Telê Santana. Tudo isso faz parte da essência tricolor. Alguns chegam mais tarde e se tornam essência: é o caso do Conca. Mas vou te dizer uma coisa e sei que vou estar sendo polêmico: não acho que Fred faça parte dessa essência.
O DIA: Na música ''Hino Nacional do Skylab'' você menciona o Fluminense. Já pensou em fazer uma música exclusiva homenageando o Tricolor?
Rogerio Skylab: No Hino Nacional do Skylab eu só cito pessoas e entidades que me são caras: é o caso da minha mãe, da minha tia, da minha mulher e, naturalmente, do Fluminense. Ao mesmo tempo, como tudo que eu faço, em termos de música e poesia, sempre existe uma ambiguidade. Eu diria que persigo essa ambiguidade. A ambiguidade, no meu caso, não é uma insuficiência, é um elogio. Misturado a essas pessoas e entidades fundamentais, tem também aquelas detestáveis: Luiz Inácio (Lula), Tony Blair, George Bush. E misturado a tudo isso, eu mesmo, vagabundo, fiá da p.... Esse tipo de postura na música popular brasileira não existe. Nossos compositores, e aí eu incluo Chico Buarque e Caetano Veloso, são meio tacanhos: egocêntricos demais, intelectuaizinhos demais, sob o beneplácito da nossa imprensa. Meus interlocutores vêm de outras áreas: Nelson Rodrigues, Gerald Thomas, Sérgio Sant'Anna, Machado de Assis, Jorge Luís Borges. Mas fazer música homenageando o Flu não rola.
O DIA: Qual a equipe do Fluminense que mais lhe marcou nesses anos?
Rogerio Skylab: Segunda metade da década de 60: Samarone, Castilho, Altair, Lula, Cafuringa, que me fazia soltar gargalhadas, Denilson, Pinheiro...
O DIA: Qual a sua partida inesquecível do Fluminense?
Rogerio Skylab: Foi a decisão do Campeonato Carioca em 71, quando fomos campeões em cima do timaço do Botafogo. Eu relembrei esse jogo com o Paulo Cézar Caju quando ele esteve no meu programa. Foi um jogo inesquecível. Todos reclamam da falta que o Marco Antônio fez no Ubirajara, mas ninguém lembra que o Lula foi empurrado na área. Foi um pênalti descarado. Foi aí que começou a fama de chorões, que os botafoguenses levam até hoje. O Paulo Cézar Caju nega que jogaram de salto alto, mas jogaram sim. Eu estava lá, bastava o empate. Perderam gols à beça e acharam que podiam decidir quando quisessem. Levaram ferro!
O DIA: Qual o seu principal ídolo pelo Fluminense?
Rogerio Skylab: Pra não citar Castilho, que é covardia, vou citar então o "diabo louro" Samarone.
O DIA: Como você enxerga o atual momento do Fluminense? Relação do clube com o patrocinador?
Rogerio Skylab: Pois é, complicado isso. Até onde o clube de futebol fica prisioneiro de seu patrocinador? Quais são esses limites? E quais as responsabilidade do presidente e da direção de futebol do clube? Por exemplo, na gestão anterior, a saída do Cuca foi uma coisa estranha. Saiu por quê? O Cuca tem uma relação profunda com o Fluminense por motivos óbvios. Outra coisa estranha que eu nunca compreendi: qual é a relação custo/benefício do Fred? Só para lembrar: na época do Muricy, em 2010, o Fluminense foi campeão brasileiro; se o Fred jogou 20% dos jogos foi muito. A maior parte do campeonato ele permaneceu na enfermaria, sendo sustentado a peso de ouro. Mais um exemplo: a saída do Sheik do Fluminense foi outra coisa estranha que eu nunca compreendi; saiu porque estava cantando o hino do Flamengo ou coisa que o valha? Não dá para engolir, não é? Enfim, em todos esses episódios, até que ponto tem o dedo do Celso Barros? Se é ele que realmente determina os rumos do futebol do Fluminense, está errado. O Fluminense é muito maior do que ele e a Unimed juntos. Se a presidência do clube e a direção de futebol foram omissas e tomaram decisões equivocadas, cabe à torcida cobrar e fazer valer a tradição do clube. Por isso que a minha cobrança maior é com a torcida. Nesse caso, a gente tem de aprender com rubro-negros e corintianos.
O DIA: Acredita que o Fluminense vai brigar por algo a mais no Brasileiro ou só contra o rebaixamento?
Rogerio Skylab: A Libertadores não é impossível. Uma coisa é certa: o velho Luxa é muito melhor que o Abel. Dizer que o Fluminense luta contra o rebaixamento é menosprezar a capacidade de reação de um grande clube. É um campeonato difícil e o rendimento do time aumentou. Com a volta do Jean e, quem sabe?, do delicado Fred, talvez possamos nos encostar nos quatro primeiros.
O DIA: Acha que o possível retorno de Conca vai melhorar muito o rendimento do Flu no próximo ano?
Rogério Skylab: O bom filho à casa torna. Retorna para onde nunca deveria ter saído. Conca faz parte da essência do Flu. Assim como Thiago Neves e Thiago Silva. A gente tem de aprender a valorizar o que é nosso.