Por edsel.britto
Rio - Por trás da aparente tranquilidade, Cristóvão Borges não deixou transparecer ao longo da temporada a série de problemas que teve que administrar à frente do Fluminense. Autocrítico, ele considerou satisfatória a missão de recuperar o respeito da equipe depois do rebaixamento não consumado para a Segundona no ano passado.
Cristóvão Borges admitiu que teve dificuldades para administrar o Fluminense durante a temporadaMárcio Mercante

Conformado com as reduzidas chances de ir à Libertadores da América, o treinador acredita que ainda tenha muito trabalho a fazer em 2015 e deseja continuar nas Laranjeiras. Sincero, Cristóvão não se iludiu pelas elogiadas apresentações, pois tinha consciência de que a equipe não conseguiria sustentar o futebol que se propôs pela carência de reforços e pelo reduzido elenco tricolor.

O DIA: Com a obrigação de vencer Corinthians e Cruzeiro para manter viva a chance de ir à Libertadores, qual é o balanço do trabalho no Fluminense?
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Cristóvão Borges: As chances (de classificação à Libertadores) caíram muito em razão dos últimos resultados. Em relação ao futuro, com essas movimentações de fim de ano, sem dúvida alguma, essas próximas duas rodadas serão de extrema importância para todos os clubes. Olhando o cenário vivido pelo Fluminense desde 2013, pela dificuldade que teve, a queda no campeonato e o benefício pelo erro da Portuguesa, o saldo do trabalho é positivo.
ODIA: Como é possível considerar positivo o desempenho da equipe que manteve a base campeã brasileira em 2010 e 2012?
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Cristóvão Borges: Foi um ano de grande dificuldade financeira. A patrocinadora perdeu poder de investimento. A necessidade de um jogador de velocidade não foi atendida. Ainda assim somos a terceira equipe que mais faz gols no Brasileiro. A indefinição dos jogadores em fim de contrato complica. Administrar tudo isso foi duro, muito pesado. De alguma forma ou em algum momento influencia de maneira que nem sempre é tão boa.
ODIA: Qual foi o impacto da carga que o Fluminense trouxe com o rebaixamento não consumado para esta edição do Brasileiro?
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Cristóvão Borges: O Fluminense não teve nada a ver com isso (escalação irregular de jogadores de Flamengo e Portuguesa, que perderam pontos e evitaram a queda do clube). O Fluminense iniciou o ano como o clube mais odiado do Brasil. Sabíamos que seríamos o adversário de todos. A grande preocupação para a temporada era o Campeonato Brasileiro, como seria, de que maneira a equipe se comportaria, se jogaria para não cair. Era esse o cenário. Trabalhando, os jogadores conseguiram reverter isso de forma positiva. Hoje, vejo o Fluminense como um clube respeitado. No início do Brasileiro e da Copa do Brasil, fomos muito hostilizados. Era real. Os jogadores entravam em campo para aquecer e eram vaiados.
ODIA: Qual a explicação para a queda do time depois de perseguir o campeão Cruzeiro na ponta da tabela no início do Brasileiro?
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Cristóvão Borges: A equipe achou uma maneira diferente de jogar, recebeu críticas muito boas, mas não estava preparada para sustentar aquele nível. Não conseguiríamos esconder isso a temporada inteira. Quando passamos a disputar competições simultâneas (Brasileiro, Copa do Brasil e Sul-Americana), ficou claro que não tínhamos elenco do tamanho do Cruzeiro, por exemplo. Temos um elenco de bom nível, mas pequeno. Quando jogou duas competições ao mesmo tempo, a equipe caiu assustadoramente de produção. Já sabia que isso aconteceria. Quando passamos a disputar apenas o Brasileiro, a equipe melhorou. E isso criou uma expectativa. Tivemos uma sequência positiva que nos deixou próximos do G-4. A não continuidade criou uma frustração muito grande. E, na hora de avaliar, vai ser avaliado o fim da temporada.
ODIA: Pelos nomes, como Cavalieri, Conca, Cícero, Wagner e Fred, o time poderia buscar algo mais de forma mais convincente?
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Cristóvão Borges: É bem difícil. Todos esses grandes jogadores, em sua maioria, são os mesmos que estavam em 2013, quando o time caiu. O torcedor não quer saber, está na posição dele e vai exigir que seu clube ganhe tudo. Cabe a nós darmos essa satisfação, mas não podemos esconder as condições que se apresentam para se atingir isso. O torcedor está correto ao cobrar, mas temos limitações, que podem ser solucionadas ou não. No nosso caso, muitas não foram.
ODIA: Wagner externou problemas extracampo, como atraso salarial e de prêmios, além da indefinição do futuro do grupo, como fatores que dificultaram o trabalho. Até que ponto isso influenciou a equipe?
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Cristóvão Borges: Tudo o que Wagner falou é correto. Se a equipe virou o ano com praticamente a mesma base que caiu, precisava ser muito reforçada este ano. E não foi. Aquilo que veio de melhora, sabíamos que não sustentaria a temporada inteira. Os jogadores recebem uma carga de cobrança muito alta e, às vezes, não podem ou não devem falar, apesar da vontade. Passamos o ano inteiro calados, apanhando de maneira injusta, mas temos de sustentar.
ODIA: Você permanecerá no comando do time?
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Cristóvão Borges: A situação de todos nós está indefinida desde que cheguei. Continua e vai continuar. O meu grande desejo é ficar porque nesse tempo em que estou aqui conheci bem o clube, os jogadores, as carências de todas as coisas e o que é possível fazer para a temporada seguinte. Mas acredito que exista uma avaliação que pode se fazer sobre o trabalho e exista uma outra que vai ser feita sobre o resultado das últimas partidas. Então, não posso falar pelas pessoas que dirigem o clube, sobre qual pensamento elas vão ter.
ODIA: E por que você não aceitou a proposta de renovação antecipada?
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Cristóvão Borges: Não quis conversar na época (logo após a eliminação na Copa do Brasil) porque foi um período em que todos os jogadores estavam inquietos demais, sem saber o destino no próximo ano. Era um momento de indefinição. Minha situação não seria resolvida naquele momento. Agora é obrigatório conversar porque faltam dois jogos para o fim do Brasileiro. A diretoria vai se posicionar e vamos discutir.