Por edsel.britto
Rio - Antes mesmo de dar seus primeiros passos no taekwondo, Iris Tang Sing recebeu do pai o apelido de ‘Olímpia’. Uma premonição sobre o futuro glorioso que a aguardava. Conforme as vitórias aconteceram, as coisas passaram a fazer sentido. Classificada para os Jogos Olímpicos do Rio, Iris é apontada como esperança de medalha, principalmente após o bronze no Mundial (46kg) e no Pan (49kg). No entanto, sua maior conquista foi ter transformado Porto das Caixas, em Itaboraí, no principal celeiro de atletas da modalidade no país. E sua luta hoje também é para buscar patrocínio para que outros trilhem o mesmo caminho.
“A gente treinava na varanda de casa, sem apoio e estrutura. O taekwondo não precisa tanto de material, mas de patrocínio. São muitas viagens. Consegui minha vaga pelo ranking e tive de viajar muito. Conseguimos isso com determinação do meu treinador, que nunca me deixou desanimar. Imaginava chegar na seleção, mas nunca numa Olimpíada. Agora luto para trazer apoio para outros atletas de Itaboraí que têm chance de ir aos Jogos”, revela Iris.
Iris Tang Sing é uma das esperanças de medalha do Brasil na OlimpíadaEstefan Radovicz / Agência O Dia

A realidade dos treinos mudou muito, é verdade. Mas as condições ainda não são as melhores para quem está entre as melhores do mundo. Num espaço do que era para ser uma garagem, com 45 placas de tatame, Iris treina forte e passa sua experiência para crianças de um projeto social que ela ajuda a comandar. Seu treinador, Diego, é peça-chave nessa história para alavancar o esporte em Itaboraí.

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“Somos uma potência do taekwondo. Gente de vários estados vêm treinar aqui. A academia é pequena e não tem como comportar muita gente. Não tem espaço. Mas imagina se tivesse uma estrutura, um CT? Seria ótimo. Itaboraí já é conhecida lá fora como celeiro de lutadores e só vai aumentar”, aposta.

Aos 25 anos, Iris fala como se fosse uma veterana. As conquistas da guerreira estão espalhadas pela parede da academia, mas nem todas estão visíveis. Uma delas foi ter lutado pelo direito de permanecer no esporte. Uma vez que sua mãe sempre foi contra. Seu maior incentivador foi o pai, Carlos Alberto, já falecido, que enxergava muito mais além a carreira da filha.

Nos treinos em Itaboraí%2C Iris passa um pouco de sua experiência aos atletas mais novosEstefan Radovicz / Agência O Dia

“Eu tenho uma irmã gêmea e ele me escolheu para dar o apelido de Olímpia. Antecipou o futuro (risos). Depois que eu consegui a vaga, tudo fez sentido para mim. Ele queria muito que eu chegasse na Olimpíada. Ele foi maravilhoso. Ele faz muita falta”, lembra.

TREINADOR E ORÁCULO

Humilde, Iris não aceita os louros de que tenha mudado o esporte com seu sucesso. Ela mantém seu objetivo apenas na sua evolução para brigar pelo ouro olímpico e conta com um inusitado oráculo que previu sua caminhada.

“Confio no meu treinador e no que ele diz. Ele garantiu que eu ia conseguir uma vaga na seleção brasileira e eu conquistei. Ele disse que eu ia levar a vaga pelo ranking e eu consegui. Tudo que ele colocou como objetivo, se concretizou. Agora, ele me disse que não me promete uma medalha de ouro e nem garante a cor, mas vamos trabalhar para conquistá-la. Vou estar feliz de qualquer forma. Uma medalha mudará a minha realidade e a das crianças do projeto social”, afirma, sem esconder a emoção.

Iris é um dos principais nomes do Taekwondo brasileiroEstefan Radovicz / Agência O Dia

Essa expectativa não lhe causa pressão, como garante. Iris sabe que pode estar no pódio na Olimpíada, mas mantém pés no chão e faz da rotina dos treinos seu combustível para vencer.

“Penso todos os dias na Olimpíada, mas não tento me pressionar com isso. A pressão só tende a aumentar a partir de agora, mas estou preparada”, garante Iris com a firmeza com que golpeia a cabeça das adversárias.