Por pedro.logato

Rio - Mulher, mãe, treinadora, melhor amiga. Rosicleia Campos tem muitas faces e em todas se considera bem-sucedida. A ex-judoca mudou a história do seu esporte há dez anos — quando assumiu uma seleção sem resultados expressivos e a transformou numa potência, com medalhas olímpicas e títulos mundiais. Mas ela também mudou seu próprio destino ao gerar os gêmeos Ana Clara e Matheus, de 2 anos e nove meses. Ser mãe ampliou os horizontes da principal mulher em cargo de liderança do esporte brasileiro. Uma barreira que foi quebrada com perseverança e que abre caminho para o sexo não tão frágil assim.

“Consegui conquistar o meu espaço e outras estão seguindo o meu exemplo. A gente vive em um país preconceituoso, mas isso é em escala global. Acho que as mulheres precisam ocupar os espaços. O cargo não tem gênero e, sim, leva em conta a capacidade”, decreta Rosicleia. E diz como é viver em um esporte que já fora estritamente masculino: “Metade de mim é homem. Se é para guerrear, sou muito boa de briga. Não é porque sou mulher, essa é minha personalidade.”

'Acho que as mulheres precisam ocupar os espaços. O cargo não tem gênero e, sim, leva em conta a capacidade’, afirma RosicleiaJoão Laet / Agência O Dia

Desde pequena ela aprendeu com o pai que deveria saber fazer de tudo e nunca depender de homem. Com nove anos aprendeu a trocar pneu de carro e, com 13, já sabia dirigir. Rosicleia é independente e por isso lida tão bem com todas as esferas da sua vida.

“Eu fui criada assim. Meu marido é fantástico, me ajuda na criação dos meus filhos e foi quem eu escolhi, mas não sou uma pessoa dependente. Seja homem ou mulher, você precisa ser diferenciada. Não podemos ficar na sombra só porque é mulher, é coitadinha. Nada disso”, enaltece.

Trabalho dobrado

Conciliar a vida pessoal e o trabalho à frente da Seleção feminina de judô é algo conflitante e bem difícil. Sem perder a alegria, Rosicleia se desdobra para agradar aos filhos. Aos 46 anos, ela tem a maturidade necessária e que transformou judocas talentosas em campeãs.

O ouro conquistado por Sarah Menezes nos Jogos de 2012 e os títulos mundiais alcançados por Rafaela Silva, em 2013, e por Mayra Aguiar, em 2014, são consequência do trabalho de Rosicleia. Uma semente plantada em 2006 e que ainda vai frutificar até a Olimpíada do Rio.

‘Metade de mim é home, se é para guerrear, sou muito boa de briga. Não é porque sou mulher, essa é a minha personalidade", disse a técnica .João Laet / Agência O Dia

“O que tem meu dedo é a unidade. Tenho certeza de que esse é o meu legado no judô. Venho de uma época em que as atletas competiam internamente, torciam uma contra as outras. Hoje nós somos uma equipe unida. Juntas, somos fortes”, afirma. E fala de suas expectativas para os Jogos deste ano: “O judô feminino só precisava desse direcionamento e hoje temos uma ótima safra de atletas jovens, mas experientes. Nós temos sete tiros na Olimpíada, sete possibilidades. Tudo pode acontecer em casa. Estamos trabalhando demais para isso e a entrega é total.”

A profissão e a maternidade são dois lados que se misturam na vida dessa guerreira.

Tecnologia é aliada na hora de matar a saudade

A solução encontrada por Rosicleia para matar a saudade dos filhos durante as viagens é inusitada e lembra um programa de TV. Ela mesma apelidou de Big Brother e costuma espiar as crianças pelo celular, através de câmeras instaladas nos cômodos da casa. Vale tudo para ser mãe em tempo integral.

“A ideia foi minha, queria poder vigiar a minha casa de longe. Foi bem Big Brother”, brinca. “Eu fico sempre olhando e babando. Eu me sinto mais próxima, mais participativa. Hoje, com a modernidade, a tecnologia acaba aproximando quem está longe e distanciando quem está perto”, ressalta.

Essa lição Rosicleia leva aos pupilos do judô e tenta unir as meninas, cada dia mais viciadas em internet. “Quando a Seleção está junta, a gente procura interagir com as meninas o máximo possível, e fazer jogos para não deixar que elas fiquem tempo demais no celular.”

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