Por gabriela.mattos

Rio - Alvo de críticas na Olimpíada, a torcida brasileira ficou em foco também na partida de goalball na Paralimpíada ontem. Dessa vez, é necessário silêncio na arquibancada nas competições de atletas com deficiência visual. O barulho pode afetar diretamente a performance dos competidores.

Nas partidas de goalball, os juízes pedem que os torcedores desliguem os celulares e repetem a cada jogada o pedido “quiet, please” (silêncio, por favor). Na modalidade, equipes de três esportistas têm que acertar a bola no gol do adversário usando as mãos. A bola é equipada com guizos para que o atleta a localize pelo som emitido.

O oftalmologista Helder Costa, membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) e classificador visual oficial da Paralimpíada, explica que, nos deficientes visuais, a audição fica mais aguçada como estratégia de adaptação do cérebro. “Para quem tem visão, 80% da interação com o meio é visual. Quem não tem, vai assumir outros sentidos”, disse.

Vibração da torcida nas competições de deficientes visuais afeta atletas e até interrompe jogosAntonio Lacerda / EFE

Não é só o goalball que requer silêncio do público. Competidores do salto em distância, judô e futebol de cinco também precisam de silêncio da plateia. A mestre em Medicina Esportiva Karina Hatano, responsável pela saúde de atletas de alta perfomance, explica que o barulho atrapalha em todas as competições de atletas com deficiência visual. “Se até para o atleta olímpico atrapalha, imagine para o paratleta, que depende quase que exclusivamente do tato e da audição. O rendimento do atleta é diretamente proporcional à audição”, explica.

Treino com barulho

Tanto que atletas fizeram preparação especial para lidar com a vibração da torcida brasileira. Um exemplo é a esportista Silvânia Costa, que treinou salto em distância com pessoas conversando e gravações de barulho de torcida. Os saltadores dependem da orientação dos treinadores para saber a hora de pular.

Conheça as regras do goalballArte O Dia

Para Hatano, o comportamento do público brasileiro é importante para alcançar a meta do quinto lugar no quadro de medalhas. “A torcida é fundamental para ganharmos mais vitórias”, disse.

Só de entrar em estádio, médico parou a partida

Se engana quem pensa que é preciso ficar 100% do tempo calado em um jogo de goalball. O público torce nos intervalos ou paradas de jogo.

Renata Fernandes, admitiu que a emoção complicou a missão de fazer silêncio. “É difícil se segurar. No lance que a bola bate na trave, não tem como não fazer “uhh”, diz.

O oftalmologista Helder Costa lembra da primeira Paralimpíada que participou, em Atlanta 1996. Os atletas tiveram de parar o jogo de goalball e esperar que ele se sentasse. “Qualquer barulho atrapalha muito”, disse.

Ter torcida é o mais importante

Com uma torcida digna de clássico de futebol nos intervalos dos jogos de goalball, a seleção masculina conheceu a diferença de se jogar em casa na estreia contra a Suécia.

“A torcida dá o ânimo que a gente precisa. E é bom sentir o calor da massa”, apontou o jogador da seleção Josemárcio. “É especial. Nunca tínhamos jogado com uma torcida só brasileira. O coração bate forte mesmo. E essa ligação vai nos levar ao título. E não tem essa de atrapalhar. Na hora de comemorar, tem que comemorar mesmo”, disse outro jogador.

O técnico, Alessandro Tozim, agradeceu ao público. “É difícil ter no goalball tanta gente assistindo. A primeira coisa é agradecer. O segundo lance é educar as pessoas.”

Reportagem da estagiária Alessandra Monnerat

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