Presidente francês Emmanuel Macron - AFP/POOL/Claude Paris
Presidente francês Emmanuel MacronAFP/POOL/Claude Paris
Por AFP

Paris - O presidente francês, Emmanuel Macron, reconheceu nesta quinta-feira (13) que a França instaurou um "sistema" que resultou em atos de "tortura" durante a guerra de independência da Argélia (1954-1962) - anunciou o Palácio do Eliseu.

O chefe de Estado francês admitiu que o matemático Maurice Audin, um militante comunista pró-independência que desapareceu em 1957, "morreu sob a tortura derivada do sistema instaurado enquanto a Argélia era parte da França".

Membro do partido do presidente, o deputado Cedric Villani disse que Macron deve comparecer nesta quinta-feira à residência da viúva de Audin e, durante uma entrevista por rádio, classificou o fato como um "momento histórico".

O Estado francês nunca havia admitido de maneira oficial o uso de tortura por parte de suas Forças Armadas durante o conflito, no qual quase 1,5 milhão de argelinos morreram.

"Vai reconhecer que a verdade é que Maurice Audin foi parte de todos aqueles que foram vítimas de um sistema", disse Villani - próximo à família de Audin -, em referência aos episódios da luta pela independência deste país colonizado pela França durante 130 anos. Trata-se de um tema ainda delicado na história dos dois Estados.

Audin, matemático e auxiliar universitário, foi preso em 1957 durante a batalha de Argel e torturado durante várias ocasiões no bairro de El Biar. Era suspeito de abrigar integrantes de um grupo armado do Partido Comunista Argelino.

A razão oficial para o desaparecimento informada a sua viúva, Josette Audin - a de que Maurice Audin fugiu durante uma transferência -, foi mantida até 2014, quando o ex-presidente francês François Hollande desmentiu a versão e reconheceu que o matemático morreu quando estava em detenção.

O jornalista Jean-Charles Deniau afirma em um livro que Audin, que tinha 25 anos, foi assassinado por ordem do general francês Jacques Massu.

Villani estabeleceu um paralelo entre a decisão da administração Macron e o reconhecimento, por parte da presidência de Jacques Chirac, do papel desempenhado pela França durante o Holocausto.

Ele destacou um "momento de verdade, cujo objetivo não é fazer acusações sem distinção, e sim encarar a história e convidar todos a falar e a curar as feridas".

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