Por felipe.martins

Rio - O horário de verão terminou, mas a estação só acaba em 20 de março e, a julgar pela sensação térmica dos últimos dias, que beirou os 45 graus, os termômetros podem permanecer em alta pelo menos até abril. Muito além da zika, que tem assustado os cariocas, a temporada de calor intenso é propícia a várias doenças que causam desconforto e muitas vezes, sérios problemas.

Menos perigosas — e também subnotificadas como a zika — elas continuam atormentando a vida de muita gente nesta época do ano. Conjuntivite, desidratação, micoses e outros problemas de pele e também vasculares são muito comuns e, segundo especialistas, podem ser evitados ou tratados.

Letícia pegou conjuntivite e Jorge sofre com a micose na pele. São doenças que se proliferam com o calorAcervo Pessoal

“Meu amigo teve contato com o vendedor de uma loja que estava com os olhos irritados. Quando nos encontramos, ele estava com os olhos coçando e pediu meu colírio. Com isso, acabei pegando conjuntivite”, disse a jornalista e empresária Leticia Val de Oliveira do Rio Branco, de 38 anos.

Altamente contagiosa, a doença viral aumenta muito no verão. “Isso se deve ao aumento da umidade do ar, que faz crescer também a concentração de alergenos, tornando mais frequentes as reações alérgicas, entre elas a conjuntivite alérgica”, explica o oftalmologista André Cechinel, do Conselho Brasileiro de Oftalmologia. Segundo ele, a maior afluência às praias, quase sempre poluídas, também faz aumentar as conjuntivites bacterianas.

Praias lotadas e impróprias ao banho também contribuem para aumentar os casos de micose cutâneas. “Percebemos um aumento de mais de 70% de casos desse tipo no verão, pois as pessoas frequentam ambientes ideais para a proliferação dos fungos”, afirma Mário Novais, diretor do Hospital Daniel Lipp. “Sempre que começa a esquentar e começo a suar, aparecem essas bolinhas no meu corpo”, diz Jorge Bacelar de Souza, montador de móveis, que sofre com micose.

Segundo Novais, os fungos encontram o ambiente ideal para se reproduzir, com calor e umidade. “As dermatomicoses são transmitidas de uma pessoa para outra, principalmente roupas, chinelos, bordas de piscina e saunas, e podem acometer o couro cabeludo (provocando queda do cabelo), o corpo, os pés e mãos e as unhas”, explica.

A professora Márcia Ramos e Silva, chefe do Serviço de Dermatologia da UFRJ, explica que aumentam também os casos de viroses como o herpes simples, em especial do lábio, já que a exposição solar em excesso faz com que o vírus reapareça. “É preciso proteger a pele com hidratantes e protetores solares”, afirma.

Risco maior para quem tem varizes

De acordo com a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV-RJ), as altas temperaturas aumentam de 20% a 30% o risco dessas doenças, por conta da dilatação das veias. “Quem tem varizes (aproximadamente 70% da população brasileira) deve redobrar a atenção”, diz Julio Peclat, presidente da SBACV-RJ.

O calor pode provocar edemas, eczema, feridas de perna de cicatrização difícil e úlceras varicosas, além de favorecer o aparecimento de trombos. “Recomendamos que a pessoa ingira bastante líquido e, sempre que possível, estique e eleve as pernas. Isso promove a drenagem fisiológica e melhora muito o inchaço”, ressalta.


Intoxicação alimentar é outro mal

A perda de líquidos e sais minerais é muito grande no verão devido à transpiração intensa. Por isso, deve-se aumentar a ingestão, em especial de água, chás, sucos, entre outros. “A alimentação deve ser acima de tudo equilibrada, contendo alimentos saudáveis, com muitas frutas, legumes, verduras, cereais, proteínas e carboidratos”, explica a especialista Márcia Silva.

As temperaturas elevadas, associadas ao armazenamento e manipulação sem a higiene adequada, aumentam as chances de proliferação de microorganismos, bactérias ou vírus nos alimentos. Isso faz multiplicar os casos de intoxicação alimentar, que provocam náusea, vômito, diarreia, febre e desidratação.

As crianças são as que mais sofrem com as doenças relacionadas ao verão. Davi, de 10 meses, tem muita brotoeja. “Eu consegui aliviar a coceira com pasta d’água. Ele tem alergia a suor, então o corpo dele fica cheio de bolinhas e só passa no inverno”, diz a mãe, Beatriz Constant de Carvalho Salviano.

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