Por roberta.campos

Rio - O estudante universitário Luiz Amaral, de 24 anos, coloca o celular em modo avião - sem acesso à internet – quando está no estágio ou estudando. Ansioso, o jovem comenta que se distrai facilmente quando está muito vidrado no aparelho, principalmente nas redes sociais. A providência de Amaral tem o apoio de especialistas, que destacam o quanto é prejudicial o uso excessivo de smartphones, principalmente para quem já sofre de problemas como ansiedade, transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).

O neurologista Oscar Bacelar, membro titular da Academia Brasileira de Neurologia, explica que os ansiosos, que já costumam sofrer pela grande quantidade de informação no cérebro, acabam prejudicados pelo excesso de conteúdo vindo do aparelho. "Sinto que perco muito o sono quando fico deitado e mexo nas redes sociais", confirma Luiz Amaral.

Estes são alguns dos vários efeitos negativos que o uso excessivo de smartphones pode causar à saúde. Há vários outros. De acordo com estudo do professor Dan Siegel, da Universidade da Califórnia, a luz dos aparelhos nos passa a mensagem de que não é hora de dormir. É como se ela pedisse ao nosso cérebro para segurar a melatonina, hormônio responsável pelo sono. O ideal, defende Siegel, é desligar o celular 1 hora antes de deitar.

Do ponto de vista da fisioterapia, o modo como usamos os celulares também pode causar problemas, principalmente no pescoço e na coluna dorsal, ressalta o fisioterapeuta André Luis dos Santos. “Também pode provocar problemas respiratórios, a traqueia passa por aquela região”, completa. A visão, por causa do olhar fixo na tela, e os braços, por causa do uso dos dedos, também estão propensos a lesões, afirma.

Para evitar problemas, ele recomenda deixar o celular na direção do olhar o máximo que der. Uma pesquisa feita no Reino Unido pela Chatered Society of Physiotherapy complementa o que diz o fisioterapeuta. O estudo constatou, depois de consultar mais de 2 mil escritórios, que a maioria das pessoas, ao sair do trabalho, continua trabalhando com os smartphones e tablets. O resultado, perceberam os inglreses, é um indivíduo com mais dores nas costas e no pescoço, além de um nível muito maior de estresse.

Para a psicóloga Vânia Calazans, especialista em terapia cognitivo-comportamental pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, o uso excessivo pode levar à compulsão pelo aparelho. "Está cada vez mais comum e se tornou uma doença que vem sendo motivo de muita preocupação para os especialistas", comenta. "As queixas de que filhos, cônjuges e amigos passam a maior parte do tempo conectados são recorrentes e levam a desentendimentos, queda no desempenho profissional e escolar, distanciamento afetivo e isolamento social, que pode levar a sintomas depressivos", completa. Ela destaca, porém, algumas vantagens propiciadas pelo manuseio dos dispositivos. "O uso adequado auxilia na aprendizagem, estimula o raciocínio e facilita o acesso à informação."

O vício em smartphone tornou-se uma síndrome, já catalogada: a nomofobia, que, em inglês, é a junção de "no mobile phobia", ou seja, a fobia de ficar sem celular. Concebido pelo instituto YouGov, da Inglaterra, a nomofobia defende que o problema não está relacionado ao tempo de uso do aparelho, mas à dependência dele. Deixar de fazer algum programa ou abdicar de qualquer outro tipo de interação social, por exemplo, se enquadraria na síndrome.

Qualquer pessoa que tenha crianças na família já deve ter percebido: os pequenos estão cada vez mais precoces com as tecnologias. Para a pediatra Carla Dall Olio, do Hospital Barra D'Or, os pais deveriam proibir os menores de 2 anos de acessar os dispositivos. "Dos 3 aos 5 anos, devem limitar a no máximo 1 hora de uso por dia, e, dos 6 aos 18 anos, no máximo 2 horas diárias", opina. Segundo Carla, os possíveis danos causados pelo exagero do uso do celular são referentes ao desenvolvimento psicossocial e neurológico, como alteração no sono, déficit de atenção, problemas de aprendizado, obesidade pelo aumento do sedentarismo, depressão, ansiedade e alterações de comportamento.

Principais danos à saúde: 


Dores - Muitos internautas de smartphones reclamam de dores no pescoço e na coluna dorsal. Elas são causadas pelo mau posicionamento do celular, que deveria ficar o mais próximo possível de nosso rosto. Normalmente, usamos o aparelho bem abaixo da posição ideal recomendada pelos médicos.

Respiração - As dores na coluna dorsal e no pescoço podem atrapalhar o sistema respiratório.

Sedentarismo - O vício, alegam especialistas, pode gerar uma compulsão pelo aparelho, o que tende a atrapalhar laços sociais. Uma consequência é a obesidade.

Nomofobia - Do inglês ‘no mobile phobia’, medo de ficar sem o dispositivo móvel causa angústia.

Depressão - Doença pode ser consequência do isolamento social causado pelo uso excessivo do celular;

Trantornos - Ansiedade, Transtorno Obsessivo Compulsivo e Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade podem ser potencializados pelo excesso de informação oferecida pelos smartphones

'Text Neck' - O ‘pescoço de texto’ é resultado da nossa má postura ao usar o celular.

Prejudica o sono - A luz do celular atrapalha a produção de melatonina, hormônio do sono.

Isolamento- O excesso pode levar ao vício, e, consequentemente, a mudanças comportamentais, como o isolamento.

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