Alemanha - A chanceler alemã Angela Merkel sofreu no domingo nas eleições municipais de Berlim o segundo revés consecutivo provocado por sua política de recepção aos refugiados, que deu espaço para o crescimento do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD).
Os adversários de Merkel intensificaram as críticas à política migratória adotada em agosto de 2015 e que permitiu a chegada de centenas de milhares de refugiados, o que provoca uma inquietação cada vez maior da opinião pública. Ela reconheceu que cometeu erros na política migratória e prometeu fazer todo o possível para evitar a repetição do caos do fim de 2015.
"Se pudesse, eu voltaria no tempo vários anos para poder, com o governo e as outras autoridades, nos preparar melhor ante a situação que nos surpreendeu um pouco no final do verão de 2015", disse a chanceler, em referência ao período em que milhares de refugiados entraram na Alemanha.
"Deus sabe que nem sempre tomamos boas decisões nos últimos anos", disse Merkel, antes de defender a decisão "totalmente justificada" de abrir as fronteiras do país aos refugiados, em sua maioria procedentes da Síria.
A Alemanha "não foi campeã mundial de integração" dos migrantes, completou a chanceler após a derrota em Berlim de seu partido, a União Democrata Cristã (CDU).
Para Markus Söder, um dos líderes da União Social Cristã (CSU), partido aliado de Merkel na Baviera e que exige um endurecimento radical da política migratória, a CDU "está sob a ameaça de uma perda enorme e duradoura da confiança de seus eleitores.
Eleições
A CDU obteve neste domingo apenas 17,65% dos votos em Berlim, seu pior resultado na cidade desde o pós-guerra. O partido conservador perdeu pontos sobretudo em relação ao movimento anti-imigração Alternativa para a Alemanha (AfD), que recebeu 14,2% dos votos.
Eleição após eleição, a AfD está quebrando um dos tabus do pós-guerra na Alemanha: a presença a longo prazo de um partido de extrema-direita.
Alguns anos depois de outros países, a Alemanha registra a emergência de um movimento de direita conservador anti-imigração, como a Frente Nacional na França ou a extrema-direita na Áustria.
O mesmo fenômeno é registrado na Polônia, Hungria e nos Estados Unidos com a candidatura de Donald Trump à presidência.
AfD sonha com 2017
O avanço da AfD em uma grande metrópole como Berlim, conhecida por seu espírito liberal e cosmopolita, confirma que o partido fundado há apenas três anos não limita sua influência às regiões da ex-Alemanha Oriental.
O resultado de Berlim coloca a AfD em ótima posição para entrar no Parlamento federal nas eleições legislativas de 2017. "Somos um partido estabelecido", celebro Jörg Meuthen, um de seus líderes.
Neste domingo, a CDU registrou seu quinto retrocesso eleitoral consecutivo nas eleições regionais. O partido participa de apenas seis dos 16 governos regionais da Alemanha e encabeça apenas quatro, destacaram os analistas.
O Partido Social Democrata (SPD) também registrou seu pior resultado eleitoral do pós-guerra em Berlim, com 21,6% dos votos, mas conserva a prefeitura.
"Com o desânimo que aparece, o medo de perder o poder em 2017 pode aumentar na CDU e ampliar a pressão para que Merkel explique mais sua estratégia política", afirma o analista político Gero Neugebauer, no jornal Handelsblatt.
Merkel decidiu nesta segunda-feira adiar sua viagem a Nova York, onde deve participar na Assembleia Geral da ONU.
Desde o início de 2016, a chanceler começou a adotar medidas para restringir o acesso de refugiados e migrantes.
Há alguns dias, de forma significativa, ela se distanciou do slogan "Podemos fazer" que marcou sua política migratória, frase que é cada vez mais criticada ante as dificuldades de integração dos refugiados. "Esta frase já foi muito falada e soa vazia", disse Merkel em uma entrevista à revista Wirtschaftswoche.
A liderança da chanceler, no entanto, não parece em perigo, já que o partido não tem nenhum nome alternativo. "Merkel utiliza a incerteza na CDU sobre o que poderia acontecer caso se afastasse", destaca o jornal Süddeutsche Zeitung.
Além disso, ela é beneficiada pelo fato de que não acontecerão mais eleições locais importantes antes de março de 2017. "É a única boa notícia para Merkel", afirma o jornal Die Welt.