Por rodrigo.sampaio

Washington - O governo americano de Donald Trump receberá nesta quarta-feira duas das mais importantes autoridades chinesas para aprofundar o diálogo entre as duas potências mundiais e testar os chineses sobre a questão norte-coreana.

O chefe da diplomacia chinesa, Yang Jiechi, e o chefe do Estado Maior do Exército Popular de Libertação (APL), Fang Fenghui, são esperados em Washington para uma rara reunião com o secretário de Estado Rex Tillerson e o chefe do Pentágono Jim Mattis.

Os esforços do presidente Trump para redistribuir as cartas da diplomacia americana tiveram resultados contraditórios. Mas os progressos alcançados com a China é algo significativo que as autoridades americanas esperam que dê frutos.

Em abril, Donald Trump se encontrou com o presidente chinês, Xi Jinping, em Washington, revelando novos horizontes na relação entre os dois paísesReprodução

Em abril, Donald Trump recebeu o presidente chinês Xi Jinping em sua residência de Mar-a-Lago, na Flórida. A retórica hostil à China durante a campanha presidencial deu lugar a uma aproximação.

No mês passado, Pequim e Washington assinaram um acordo, embora limitado, de abertura recíproca dos seus mercados. E Terry Branstad, governador de Iowa e amigo de Xi Jinping, foi confirmado pelo Senado como embaixador americano na China.

Mas pontos de tensão permanecem, especialmente em relação à situação nas águas disputadas do Mar da China Meridional. Acima de tudo, os Estados Unidos gostariam que a China exerce uma pressão real sobre o regime norte-coreano de Kim Jong-Un.

A Coreia do Norte será a principal questão discutida neste primeiro "diálogo diplomático e de segurança EUA-China", segundo Susan Thornton, vice-secretária de Estado para a Ásia-Pacífico.

"Continuamos a pedir à China para usar sua influência sobre a Coreia do Norte, incluindo por meio da plena aplicação das sanções do Conselho de Segurança da ONU" destinada a freiar o programa nuclear norte-coreano, disse ela. 

Apesar das sanções internacionais, a Coreia do Norte possui um pequeno arsenal de armas nucleares e desenvolve mísseis balísticos que poderiam ameaçar o Japão, Coreia do Sul e talvez cidades americanas num futuro próximo.

Os Estados Unidos têm cerca de 28.000 soldados estacionados na Coreia do Sul, bem como uma frota poderosa na região. Mas sua pressão diplomática e econômica é limitada.

Morte de Otto Warmbier

A repatriação na semana passada de um jovem americano de 22 anos detido por um ano pelo regime de Pyongyang aumentou ainda mais a tensão entre Washington e Pyongyang.

Otto Warmbier, preso durante uma viagem e acusado de tentar roubar um cartaz de propaganda, foi trazido de volta aos Estados Unidos em coma profundo, com extensos danos cerebrais. Ele faleceu na segunda-feira junto a sua família, seis dias depois de seu retorno ao país.

Libertado pela Coreia do Norte na última semana, Otto Warmbier faleceu nesta segunda após ser transferido para os EUA em coma e com grave lesão neurológicaAFP

Donald Trump aproveitou a ocaisão para denunciar na segunda-feira o "regime brutal" da Coreia do Norte. O bilionário fez do fim do programa nuclear norte-coreano uma prioridade da sua política externa. Ele concordou em silenciar suas críticas sobre os desequilíbrios comerciais para obter ajuda de Pequim sobre esta questão.

Mas apesar de a China ter reforçado seu controle sobre o comércio de carvão norte-coreano, principal fonte de renda do regime, muitos especialistas acreditam que ainda não está pronto para adotar sanções que ameacem a estabilidade de seu vizinho imprevisível.

"Vamos focar na ameaça particularmente urgente representada pela Coreia do Norte", disse Susan Thornton. "Nós não esperamos resolver este problema na quarta-feira. Mas esperamos fazer progressos em outras questões, tais como medidas de confiança entre os dois exércitos", acrescentou.

O general americano Joseph Dunford indicou na segunda-feira que era muito cedo para avaliar o impacto da cúpula EUA-China de Mar-a-Lago sobre o regime de Kim Jong-Un.

O Pentágono irá manter as linhas de comunicação com a China para evitar qualquer escalada no Mar da China Meridional. Mas esta questão é distinta dos esforços diplomáticos sobre a Coreia do Norte, disse ele.

"O secretário de Estado Tillerson disse que a cooperação com a China é um elemento-chave para o sucesso da desnuclearização da península" coreana, acrescentou.

"A dimensão militar surge em apoio aos esforços diplomáticos e econômicos do Departamento de Estado. Ao mesmo tempo, temos uma posição na região que nos permite dissuadir KJU (Kim Jong-Un), mas também responder em caso de falha de dissuasão", assegurou.

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