Por thiago.antunes

Caracas - Delegados do governo e da oposição da Venezuela tentam pelo segundo dia, em Santo Domingo, assentar as bases de um diálogo que ajude a resolver a grave crise política.

As partes retomaram os contatos nesta quinta-feira na Chancelaria da República Dominicana com a mediação do presidente deste país, Danilo Medina, e o ex-chefe do Governo espanhol José Luis Rodríguez Zapatero.

Em meio às reuniões, Julio Borges, presidente do Parlamento e presente em Santo Domingo, informou no Twitter que o diálogo apenas será possível se atender à crise econômica.  "Os problemas econômicos, sociais e humanitários são cada vez mais graves. Se não forem atendidos, não haverá diálogo".

Nenhum dos participantes fez declarações à imprensa antes das reuniões, que ocorrem depois de um primeiro dia em que, segundo Medina, começaram a desenhar uma agenda de discussão.

"Estamos no processo de construção, de formação de uma agenda que leve a uma negociação definitiva para a crise", declarou o presidente dominicano na quarta-feira, após se reunir com os enviados do presidente Nicolás Maduro e da coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD).

Embora Medina não tenha detalhado se os representantes se encontraram pessoalmente, pessoas próximas asseguram que concordaram na mesa.

"A única coisa que podemos dizer (...) é que ouvimos as partes, se expressaram e deram os seus pontos de vista sobre a situação que a Venezuela vive", sustentou o governante.

Medina e Rodríguez Zapatero convidaram na terça-feira o governo socialista e a oposição a explorar um diálogo, iniciativa que conta com o apoio do secretário-geral da ONU, António Guterres.

"Há muita disposição de chegar a algum tipo de negociação", destacou o presidente dominicano.

Pressão internacional

A aproximação ocorre em um momento em que o governo enfrenta uma dura pressão internacional pela instalação da Assembleia Constituinte, que rege o país desde 4 de agosto.

Na semana passada, Julio Borges realizou uma viagem pela Europa, na qual recebeu apoio de França, Espanha, Alemanha e Reino Unido.

"Por fim a comunidade internacional abriu os olhos", declarou nesta quinta-feira à AFP o cientista político Carlos Romero, assinalando que a pressão opositora ajudou a criar um clima favorável à negociação.

"O governo está sendo deixado de lado e, dada a crise política e econômica, convém uma espécie de trégua", acrescentou.

O contato na República Dominicana é feito quase um ano após um frustrado diálogo impulsionado pelo Vaticano e pela União de Nações Sul-Americanas (Unasul).

ONU busca patrocinadores

Uma negociação não parece estar muito próxima, mas Jorge Rodríguez, principal delegado de Maduro, se mostra otimista e diz que "estamos em um momento bom para conseguir um acordo definitivo".

No entanto, Borges condicionou o diálogo ao governo cumprir com uma série de requisitos: um cronograma eleitoral que inclua as presidenciais do fim de 2018, a libertação de 590 "presos políticos" e o respeito ao Legislativo.

As tentativas de diálogo na República Dominicana têm um papel importante do secretário-geral da ONU, organismo ao qual o papa Francisco pediu mais envolvimento no caso venezuelano. 

De acordo com o deputado opositor Henry Ramos Allup, Guterres quer montar um grupo de países patrocinadores do diálogo, detalhando que a proposta é que cada país escolha dois acompanhantes e que ele seja o "juiz".

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