Niterói - Guardiã da Ilha de Boa Viagem foi o trabalho não remunerado que Maria Pérola Sodré herdou do pai, o almirante Benjamin Sodré, fundador e primeiro craque do Botafogo. Vivendo da aposentadoria de professora, ainda hoje, aos 92 anos, Maria Pérola cuida da ilha retratada por pintores do Império como se fosse sua casa.
Embora não possa mais subir até a igrejinha de um dos mais belos cartões-postais de Niterói, ela ainda tem muita disposição para preservar o local e dizer ‘não’ a projetos que poderiam ameaçar o equilíbrio ecológico e a harmonia da ilhota. Até hotel já quiseram construir lá, mas o advérbio de negação estava na ponta da língua da ex-professora do Liceu Nilo Peçanha e de outros colégios tradicionais da cidade.
“Casamento, batizado, primeira comunhão e festa podem ser realizados lá, mas antes tem que falar com a Maria Pérola”, brinca, falando na terceira pessoa.
Mesmo se for gente conhecida, ela gosta de um retorno. Adorou ouvir que no último domingo de maio, a ilha ficou cheia de crianças que passaram a manhã inteira lá e os pais, conforme lhe contaram, “deixaram tudo limpinho”.
Professora de matemática, ainda hoje ela aceita alunos para aulas de reforço, como explicadora. Amanhã mesmo, segunda-feira, ela terá uma aluna batendo à sua porta, em Icaraí. E, sem cobrar nada pela aula, como sempre faz desde a aposentadoria.
A boa saúde e o fato de estar física e mentalmente muito bem ela atribui ao que podia acontecer de melhor em sua vida: o esporte. Foi exímia nadadora (até em locais perigosos, como a praia de Itaipuaçu), velejadora e ciclista. E sempre caminhou muito, desde o tempo em que foi escoteira, também por influência do pai.