Por bianca.lobianco

Niterói - Juntas, as sete universidades de Niterói (UFF, Estácio, Universo, La Salle, Anhanguera, Maria Thereza e Candido Mendes) têm quase 70 mil alunos, a maioria da própria cidade. Um luxo, considerando que o município tem 487.562 moradores, segundo o IBGE. A quantidade de estudantes é maior que a do total de habitantes de cidades como Búzios e Rio Bonito.

Em percentuais, Niterói tem mais habitantes com nível superior que o Rio. De acordo com o IBGE, são 116.814 moradores que fizeram faculdade, o que corresponde a 23,9% do total. Já a capital, tem 917.337 pessoas com terceiro grau completo, o que equivale a 14,51% da população num total de 6,32 milhões de habitantes.

Além dos estudos%2C o belo casarão da faculdade de Engenharia e Arquitetura também é palco de festas de alunos Alexandre Vieira / Agência O Dia

Como os dados são de 2010, esse número deve aumentar ainda mais no próximo censo.
“Niterói tem renda per capita maior que a média do Brasil e é uma cidade com pessoas de nível intelectual e de instrução muito elevados”, explica o reitor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Roberto Salles. 

O gestor do campus da Estácio em Niterói, Stephan Filippo, faz coro. “O aluno de Niterói é mais exigente e interessado que de outras unidades nossas. Eles nos cobram muito. São muito engajados”, completa, lembrando que, em Niterói, a faculdade tem 14.519 alunos.

De olho no potencial da cidade quando o assunto é ensino superior, a antiga Plínio Leite deu lugar a Anhanguera.

“A cidade tem um nível de vida elevado e é perto de outros municípios como São Gonçalo e Maricá. Dessa forma, podemos atender todos dessa região que querem fazer uma faculdade, mas não querem ou não têm como ir para o Rio”, conta o reitor da Anhanguera, Vicente Vitola. 

A instituição é o maior complexo de ensino superior privado do País. O número de alunos, no entanto, não é revelado. “Mas podemos dizer que a maioria é de trabalhadores. São pessoas que estudam à noite e trabalham de dia. Muitos entram pelos programas de inclusão”, diz Vitola.

O mesmo processo serve para definir o perfil dos universitários da UFF. Segundo Salles, eles correspondem a 60% dos estudantes. “Com o plano de expansão universitária e as cotas temos mais alunos carentes que com condições financeiras. Muitos têm bolsa e alguns moram no alojamento”, conta o reitor.

A universidade é a mais antiga de Niterói. Está na cidade há 53 anos. É dela também o recorde de alunos — são 51 mil só na graduação presencial, desse total 32 mil são de Niterói — além de ser a única pública do município.

Na Universo%2C um dos destaques é o laboratório de odontologia%2C que oferece consultas e tratamentos gratuitosDivulgação

Orçamento da UFF é de R$ 1,3 bilhão

Toda essa estrutura universitária não só faz de Niterói uma cidade com nível intelectual elevado, mas também movimenta a economia da cidade. Segundo o reitor da UFF, Roberto Salles, o orçamento da instituição para esse ano é de R$ 1,3 bilhão. “Ele é só um pouco menor que o orçamento do município. Para o ano que vem esse valor será de R$ 1,7 bilhão. Gastamos nossos recursos aqui e isso é muito importante para o desenvolvimento econômico e social da cidade”, explica Salles.

E a vida acadêmica de Niterói não se resume à sala de aula. Embora seja uma cidade grande, ela vive também o clima de cidade universitária. São estudantes andando pelas ruas do Gragoatá — onde está a maioria das unidades da UFF —, muitas repúblicas, ônibus exclusivos dos universitários da UFF circulando pelas ruas e, claro, a Cantareira, local boêmio de Niterói frequentado, principalmente, pelos estudantes.

O lugar é uma praça cercada de bares por todos os lados. O estudante com um pouquinho mais de grana costuma sentar em algum deles. Quem não pode gastar tanto, se reúne na praça com os amigos e consome comidas e bebidas vendidas mais baratas na carrocinhas. Mas todos os universitários, a sua maneira, se encontraram por lá.

Os bares abrem de segunda à segunda e estão sempre cheios. Estudante de Arquitetura da UFF e morador de Niterói, João Miranda, de 20 anos, é frequentador assíduo. “Lá, tem alunos de todas as universidades de Niterói, o que é bom porque a gente conhece gente de vários lugares. O clima é muito bom”, avalia o niteroiense, que mora a 10 minutos do campus.

Universitários fazem programas de TV no estúdio da Estácio. O laboratório conta com aparelhos de última geração Alexandre Vieira / Agência O Dia

O mercado imobiliário também é aquecido pelo universitários. Como a cidade abriga muitos estudantes de fora, até de outros estados, é comum eles dividirem apartamento. Aluna de Desenho Industrial da UFF, Julia dos Santos, de 18 anos, mora com irmão. “Não pagamos a faculdade, então alugamos um apartamento no Ingá. É bom porque é perto da UFF”, diz ela.

Africanos ganham bolsas de estudos

Bacari Seidi está prestes a se formar em Economia na UFF. Há sete anos ele chegou à Niterói e nunca pode visitar sua família na Guiné-Bissau, nem quando o pai morreu, seu maior incentivador. Jean Joel Beniragi Rutalira, 26 anos, faz Economia, e veio de Kinshasa, capital do Congo.

Eles estão entre os 70 estudantes que ingressaram na UFF pelo Programa Estudantes-Convênio de Graduação, o PEC-G, fruto de um acordo entre o Brasil e países da África e América Latina. “Muitos vêm de uma realidade dolorosa, às vezes de países em guerra”, diz Terezinha Moreno, coordenadora do PEC-G. “Niterói me deu formação e foi onde conheci pessoas que vou levar para o resto da vida”, comemora Bacari. “A saudade da família é grande, mas quando se tem um objetivo consegue superar. Niterói é minha casa”, diz Jean.


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