Por marina.rocha
Motoristas clandestinos pagam inicialmente R%24 5 mil para conseguir emplacar o carro%2C depois têm que desembolsar R%24 600 por mêsEstefan Radovicz / Agência O Dia

Niterói - No dia 11 deste mês as tarifas dos táxis da cidade tiveram um reajuste de cerca de 5%, com a bandeirada passando de R$ 4,80 para R$ 5,00. Porém, o aumento registrado pelos taxímetros nas corridas era quatro vezes maior nas últimas duas semanas, chegando à casa dos 20%. Por trás da diferença, um erro da NitTrans, que definiu R$ 0,20 a mais por quilômetro percorrido. 

Depois de muita reclamação, o problema foi detectado e a partir de amanhã os relógios já começam a ser aferidos com a contagem correta.

O problema, que durante nove dias aumentou em 15% as corridas dos moradores da cidade, é um indício do cenário preocupante na fiscalização do serviço em Niterói. Informações que a reportagem do DIA teve acesso dão conta que atualmente cerca de 600 táxis piratas rodam pela Terra de Araribóia, num esquema que rende cerca de R$ 4 milhões por ano.

Os motoristas clandestinos pagam inicialmente R$ 5 mil para conseguir emplacar o carro, depois têm que desembolsar R$ 600 por mês. Uma mixaria se comparado ao preço dos legalizados, que ficam na casa dos R$ 5 mil mensais em diárias aos donos da autonomia. A fraude ainda dá direito a um bônus: os piratas são avisados que dia, onde e quando acontecem as blitz, evitando, assim, que seus carros sejam apreendidos.

O assunto foi tratado abertamente por diversos taxistas entrevistados, mas nenhum deles quis se identificar. O motivo é sempre o mesmo: medo. “Isso é uma máfia. Eles são perigosos. Invadem nosso ponto e nos olham de cara feia”, contou um motorista, ressaltando que o faturamento é 30% menor devido à concorrência ilegal.

E a precaução da categoria é justificável. Em 2010, o então subsecretário de Transportes de Niterói, Adhemar Reis, foi morto a tiros após denunciar o esquema dos táxis piratas. Adair Correa da Silva Filho, na época sargento da PM, foi condenado a 23 anos de prisão pelo homicídio e expulso da corporação.

Sobre as denúncias, o presidente da NitTrans, coronel Paulo Afonso, foi taxativo: “Vender autonomia é crime. Ela é gratuita. Vamos investigar isso”, disse. Segundo ele, no cargo há dois anos e cinco meses, nesse período a NitTrans apreendeu apenas três carros piratas. “Eu encaminhei dois ao Detran este ano. Eles foram emplacados sem que concedêssemos a licença”, garante.

Em nota, o Detran afirmou que o emplacamento de táxis só é realizado mediante apresentação de um ofício da prefeitura.

O vereador Henrique Vieira (Psol) já tratou do assunto no plenário. “Os piratas pagam em torno de R$ 500 para os fiscais. À medida que a prefeitura não faz novas licenças, a máfia força a ilegalidade”, alfinetou Henrique.

Para conseguir a licença, o taxista deve ter a autorização da prefeitura. Em seguida, ele vai ao Detran para emplacar o carro e passar pela vistoria.

“Eles (os piratas) recorrem a oficinas clandestinas para pintar os carros”, disse o gerente administrativo do Sindicato dos Taxistas de Niterói, Paulo José Ouriques. “Uma dica é observar os números na porta, que correspondem à placa do veículo e à licença”, explicou ele.

Prefeitura vai viabilizar estudo de mobilidade urbana

A Prefeitura de Niterói informou que não vai distribuir nenhuma autonomia para taxista. “Essa concessão só vai ocorrer se um futuro estudo de mobilidade urbana, que ainda está sendo viabilizado, apontar a necessidade”, diz a nota. De acordo com o vereador Leonardo Giordano (PT), há 30 anos Niterói não tem novas licenças e transferências. “É necessário mais fiscalização e novas licenças porque 30 anos é muito tempo. A cidade cresceu e o número de táxis não é compatível com a população”, avaliou.

Lourival dos Reis (E) e Paulo Eduardo Amaral%2C da associação BarcataxiEstefan Radovicz / Agência O Dia

O presidente da NitTrans, porém, afirma que o número de táxis é suficiente: um carro para cada 260 pessoas. Mais do que no Rio, que tem um veículo para 200.

Em Niterói, cada permissionário tem direito a dois auxiliares, que trabalham pagando diárias em torno de R$ 150. O trânsito é outro vilão dos taxistas. “Estamos levando o dobro do tempo que fazíamos para percorrer os mesmos trajetos. Icaraí está insuportável. A cidade cresceu demais e o planejamento para o trânsito não acompanhou”, lamentou o motorista Paulo César Barcelos, de 51.

E quem mora na Região Oceânica sofre com a falta de táxi. “À noite, tenho muita dificuldade em encontrar táxi, principalmente no Centro”, reclama o cabeleireiro José Macedo, de Itaipu.

Associações fidelizam passageiros com serviço de ‘achados e perdidos’

Óculos, carteira, celular, remédios, documentos e até exames. Na correria do dia a dia é comum passageiros esquecerem pertences nos táxis. A demanda é tanta que a Associação Barcataxi tem um funcionário que cuida dos achados e perdidos da associação.

“O mais comum é achar celular. Os donos ligam e eu atendo. Os motoristas me entregam as coisas que são guardadas na associação”, conta Paulo Eduardo Amaral, que cuida da parte de ‘achados e perdidos’ da associação Barcataxi. “Essa é uma das vantagens. As pessoas sabem onde procurar o que perderam”, diz o presidente da Barcataxi, Lourival dos Reis.

Outro diferencial é que, no caso de acidente envolvendo um taxi legal, o passageiro também tem a quem responsabilizar, se a culpa for do taxista. O mesmo vale em caso de colisão.

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