São Paulo - A defesa do vigia Evandro Bezerra Silva, acusado de ser cumplice do ex-policial condenado Mizael Bispo de Souza, pretende pedir a acareação entre o delegado Antonio de Olim, responsável pelas investigações sobre a morte de Mércia Nakashima, e o pescador que afirma ter visto Mizael e Mércia juntos no dia 26 de maio de 2010, considerado dia do crime. O homem, conhecido como "testemunha alfa", participa do segundo dia do julgamento que acontece no Fórum de Guarulhos (SP), nesta terça-feira.
"Há divergências entre o que eles dizem e está no processo", afirmou o advogado de Evandro, Aryldo de Paula, que defende o vigia, que teria ido buscar Mizael após o crime. Os sete jurados irão decidir se Evandro Bezerra Silva é culpado ou inocente na participação da morte de Mércia. Eles também irão votar se ele deve ou não ser condenado das acusações.
O pescador afirma ter visto o carro da vítima ser empurrado na represa de Nazaré Paulista. As audiências começaram com o investigador Alexandre Simoni, responsável por analisar as ligações telefônicas entre o vigia e Mizael, condenado a 20 anos de prisão pelo assassinato de Mércia. Márcio Nakashima, irmão de Mércia, também deverá depor ainda nesta terça-feira.
Tortura
A defesa de Evandro vai insistir no argumento de que sofreu tortura na cadeia para confessar sua participação na fuga do assassino.
Ao contrário de sua confissão gravada pela polícia em Aracajú (SE), a versão que os quatro advogados do vigia vão defender é que Evandro, funcionário informal de Mizael, não sabia do crime quando foi buscar o ex-policial na represa da cidade de Nazaré Paulista, onde o carro e o corpo de Mércia foram encontrados. Evandro vai dizer que recebeu um telefonema do chefe pedindo que o buscasse em uma festa perto dali.
De acordo com o advogado Felipe Eduardo Miguel Silva, seu cliente foi torturado em Aracajú (SE) – onde estava foragido – para confessar sua ajuda na fuga de Mizael, condenado a 20 anos de cadeia em março deste ano por atirar na vítima e trancá-la em seu próprio carro antes de empurrá-lo represa adentro.
Durante a suposta tortura, os policiais teriam colocado uma fita adesiva na boca de Evandro, coberto a cabeça dele com uma sacola e pedido que ele batesse o pé no chão quando estivesse pronto para confessar. Ao desmaiar, os policiais teriam jogado água em seu rosto para reanimá-lo e perguntado em seguida se ele estava pronto para confirmar a versão policial. “Primeiro ele foi interrogado sob tortura pelos policiais. Depois, o levaram para outra sala e filmaram sua confissão”, diz Miguel Silva. As imagens da admissão fazem parte do processo, de 22 volumes.
Suspeita
As investigações não demoraram para apontar Evandro como o principal suspeito de ajudar na fuga de Mizael. O vigia trabalhava havia alguns meses para o advogado como segurança em um posto de gasolina e feiras informais de Guarulhos.
À polícia, testemunhas afirmaram que, dias antes do crime, os dois vinham se encontrando com frequência. Uma delas afirmou que o vigia lhe teria confessado a oferta recebida de R$ 5 mil para que “fizesse uma coisa errada” para Mizael.
O vigia também é lembrado por pescar frequentemente na mesma represa, cidade em que um irmão tem um sítio. O advogado não vê estranheza nas 19 ligações que Mizael trocou com o vigia no dia do crime. “Eles trabalhavam juntos, o Evandro era vigia, mas o dono do bico era o Mizael. Eles se falaram bastante naquele dia, mas a relação dos dois era profissional. Um não frequentava a casa do outro.”
Miguel Silva espera que a condenação do ex-policial não seduza o juri popular. “A gente espera que isso não influencie. Que o Evandro seja julgado de acordo com base nas provas do processo.”
Com informações do iG