Por julia.amin

São Paulo - Pesquisa realizada pela Associação dos Delegados da Polícia Federal (Adpf) aponta que 48,94% dos delegados federais classifica como “inadequados” seus espaços físicos de trabalho e que 96,3% deles reclamam da falta de servidores administrativos que auxiliem o processo de investigação em todo o Brasil.

A conclusão do levantamento, antecipada na semana passada pelo Poder Online, foi detalhada nesta segunda-feira. A pesquisa ouviu 331 delegados nos 27 estados brasileiros e abordou quesitos como estrutura física, recursos humanos e materiais disponíveis para a realização dos trabalhos de investigação. Apesar das queixas, os delegados reconhecem que houve melhorias substanciais no órgão nos últimos anos. “A questão é que os delegados hoje estão muito mais exigentes. Eles querem desafios maiores a cada dia”, disse o presidente da Adpf, Marcos Leôncio Ribeiro.

Conforme a pesquisa, o maior gargalo visto hoje dentro da Polícia Federal diz respeito à falta de servidores de caráter administrativo. A pesquisa revelou que 64,6% dos delegados não tem ou possuem apenas um servidor à sua disposição para ajudar no processo de investigação.

A Agência Federal de Investigação Norte-Americana (FBI) conta hoje com pelo menos dois servidores para cada delegado. “As investigações bem sucedidas seguem o modelo de uma equipe completa por caso. Esse é o ideal”, disse o presidente da Adpf. “Nós precisamos hoje, pelo menos, triplicar o universo de servidores administrativo”, complementou. Hoje, a estrutura da Polícia Federal tem aproximadamente 2 mil servidores de caráter administrativo. O número de servidores é considerado insuficiente para dar andamento a aproximadamente 150 mil inquéritos que tramitam na PF. "Nosso efetivo hoje de servidores, agentes e delegados é o mesmo dos anos de 1970", revela Leôncio Ribeiro.

A pesquisa revelou também 58% dos delegados reclamaram da falta de espaços reservados dentro do órgão para a realização de oitivas e investigações criminais. Outra falha apontada pelos delegados também é a falta de espaços específicos para a realização de treinamentos físicos ou de tiro. Nesse ponto, 78% dos delegados queixam-se da falta de um espaço do gênero.

Uma preocupação flagrante dos delegados federais diz respeito à adequação dos imóveis onde hoje estão instaladas as delegacias da PF em todo o Brasil. Um total de 51% dos delegados afirma trabalhar em prédios sem projetos técnicos de combate a incêndio. Conforme a Adpf, a própria sede da PF em Brasília tem essas falhas. “É um risco. Se na unidade central existe esse problema, imagina nas demais”, declarou o presidente da Adpf.

Um outro exemplo está na Superintendência da PF no Ceará, instalada no anexo do prédio do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Engenharia do Estado (Crea-CE). O Crea deixou o prédio justamente por falta de um projeto de combate à incêndio, mas a PF continua no local.

E outra preocupação dos delegados diz respeito à falta de assistência médica e psicológica dentro do próprio órgão. Nove em cada dez delegados se queixam que não existe um acompanhamento psicológico dos policiais federais. A atividade é considerada extremamente estressante e existe uma preocupação interna com o grande número de suicídios de policiais federais. Vinte e cinco policiais federais (delegados, agentes e servidores administrativos) cometeram suicídio nos anos de 2011 e 2012.

Do outro lado, os delegados reconheceram que cerca de 70% das unidades da Polícia Federal estão climatizadas, bem iluminadas ou possuem fácil acesso. Os delegados também afirmam que 60% dos computadores do órgão são satisfatórios para os trabalhos de investigação. Além disso, 43% dos delegados reconhecem que existem veículos em quantidade satisfatória e outros 66%, que a PF possui coletes e armamentos suficientes para os trabalhos criminais.

As informações são do repórter Wilson Lima 

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