São Paulo - Um dos alvos da força-tarefa que investiga o consórcio Siemens/Alstom na formação de cartel nas administrações do PSDB em São Paulo, o lobista José Amaro Pinto Ramos, ligado aos tucanos, foi sócio de uma empresa cujo acionista, Fábio Vettori, é detentor de contratos milionários no governo Geraldo Alckmin.
Ramos está entre os personagens cujos sigilos (bancário e fiscal) foram quebrados por ordem da Justiça, a pedido do Ministério Público Estadual. Ele está sendo investigado por movimentações financeiras suspeitas na Suíça e nos Estados Unidos.
Pelo cadastro da Junta Comercial de São Paulo, Ramos era um dos acionistas da Ecopro – Tratamentos e Recuperações Industriais Ltda, aberta em 2006 e sediada em Indaiatuba, interior paulista. O sócio de maior peso financeiro aparente é Fábio Vettori, que entrou no empreendimento como representante de outra empresa, a Piracema Participações Ltda, de Barueri, na Grande São Paulo, ponta de um cipoal de outras 35 empresas de seu grupo, entre elas a Construtora Coveg e a Consórcio Rodovias Integradas Oeste Ltda.
As duas empresas de Vettori apresentam um bom desempenho. A Coveg, especializada em engenharia civil, mas com atuação na construção de obras para áreas públicas, tem atualmente dezenas de contratos de cifras milionárias com a Sabesp, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) e Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE).
Até agosto deste ano, os contratos da Coveg somavam R$ 246 milhões em obras de rodovias e seu lucro líquido entre 1998 a 2010 chegou a R$ 124 milhões. Alvo de mais de 50 multas e advertências por atraso em obras, o nome Coveg é usado também em outras empresas do grupo liderado por Vettori.
Ao lado de outros empresários, entre eles Claudio e Lucas Giannella, Vettori comanda também o Consórcio Rodovias Oeste – Lote 20, formado em 1998. No ano seguinte, seus sócios passam a integrar a Rodovias Integradas Oeste Ltda. Em 2009, o próprio Vettori aparece como conselheiro administrativo do consórcio.
O que chama a atenção nesse empreendimento é o modesto capital inicial, de R$ 50.036,00 e, mais tarde, os sinais de ótima saúde financeira demonstrada nos últimos anos: em julho de 2012 o consórcio lançou R$ 400 milhões em debêntures no mercado e, menos de um ano depois, em maio de 2013, dobrou o valor das emissões, alcançando R$ 800 milhões.
Vettori e os Giannella aparecem juntos em várias outras empresas, a maioria delas sediada em Alphaville e Barueri, na Grande São Paulo. A sociedade formal com José Amaro Pinto Ramos se dá apenas na Ecopro – Tratamentos e Recuperações Industriais, criada em 2006 e dissolvida em 2010. Procurado pelo iG, Fabio Vettori não quis dar entrevista. Consultado por meio de sua secretária, disse que não conhece Ramos.
O advogado de Ramos, Álvaro Luiz Malheiros, afirma que o lobista e o empreiteiro participaram como investidores da Ecopro em momentos distintos e nunca chegaram a se encontrar nas reuniões dos acionistas. O problema é que, pelo menos em relação a Vettori, a ficha cadastral registra sua presença em todas as etapas da Ecopro.
Segundo o advogado, Ramos teria participado como investidor a convite de um casal de amigos, Marcos e Maria Amélia Vidigal Xavier da Silveira, também acionistas. Seu nome teria permanecido no histórico da Junta Comercial, conforme explica, por causa dos entraves burocráticos, que impedem a dissolução completa da empresa antes de cinco anos.
Embora Pinto Ramos tenha declarado ao Fisco ter sido acionista da empresa, inicialmente ele não figurava mesmo como sócio. Quando aberta, em 4 de setembro de 2006, a Ecopro tinha como sócios Vettori e outros seis acionistas, e começou com um capital de R$ 241 mil para atuar na gestão de redes de esgoto.
Ainda que a Ecopro fosse um modesto investimento do grupo, seu crescimento se mostrou notável. Em janeiro de 2009, o capital foi alterado para R$ 2,1 milhões. José Amaro Pinto Ramos aparece então com participação de R$ 796 mil e, dois meses depois, na redistribuição do capital, sua participação cai para R$ 86 mil.
Em julho de 2009, conforme a ata registrada na Junta Comercial, ele retira-se da sociedade com os R$ 86 mil, mas a empresa permaneceria ligada a seu nome, conforme consta em seu CPF até maio de 2013.
Aos 77 anos, atualmente Ramos consta como sócio de apenas três empresas ativas: a Epcint Desenvolvimento de Negócios Ltda, a Epcint Assessoria Técnica Ltda, ambas com sede na região oeste da capital paulista, e a IES Informática e Sistemas Ltda, com endereço no Rio de Janeiro.
O empresário fechou as portas da Sysdef Consultoria Ltda e da Epcint Importação & Exportação Ltda, com a qual atuou no exterior, especialmente nos Estados Unidos, onde intermediou contatos políticos para a cúpula tucana. Mais tarde, no início dos anos 1990, ele atuaria como consultor da Alstom na contratação de crédito externo para a compra de trens do metrô pelo governo paulista.
O advogado Álvaro Luiz Malheiros diz que seu cliente é um consultor especializado em engenharia financeira de longo prazo e de alta envergadura e que não tem qualquer vínculo ideológico com os tucanos. Segundo ele, embora tenha sido sócio do ex-ministro Sérgio Motta, politicamente Ramos está mais próximo do PT e, como consultor financeiro, atuou para distintos governos. Em uma das operações de crédito ao governo paulista, atuou como conselheiro do Banco Francês de Comércio Exterior.
Reportagem de Vasconcelo Quadros