Por joyce.caetano

Espírito Santo - O Ministério Público Federal (MPF) no Espírito Santo investiga o caso de uma ganhadora da Mega-Sena acusada de fazer saques do programa Bolsa Família mesmo após receber um prêmio de aproximadamente R$ 1,8 milhão. Se for constatado o recebimento ilegal do Bolsa Família, a ex-beneficiária pode ser condenada a devolver aquilo que foi sacado no período em que ela tinha renda superior ao teto do programa.

Na semana passada, o iG revelou que cerca de 2,1 mil políticos eleitos no ano passado receberam o Bolsa Família de forma irregular no início deste ano. Há pelo menos 105 procedimentos investigatórios em todo o país relacionados a má gestão, obtenção ilegal de benefícios ou fraudes no programa Bolsa Família. Uma das investigações em curso é justamente a que transcorre no Espírito Santo.

A investigada, Eliane Nascimento Barreto, morava em Cariacica, na região metropolitana de Vitória, e foi uma das vencedoras da Mega-Sena da virada de 2010 para 2011. Ela era beneficiária do Bolsa Família e, antes de ganhar na loteria, recebia R$ 90 por mês do programa do governo federal para sustentar seus dois filhos (na época, uma menina de 14 anos e um menino de 5 meses). Além do Bolsa Família, ela vivia com o dinheiro de bicos como doméstica e uma cesta básica doada pelo Centro de Referência da Assistência Social (Cras) de Cariacica. Ela nunca mais foi vista na cidade após receber o prêmio.

No final de 2010, ela participou de um bolão feito por uma lotérica em Cariacica e ganhou o prêmio com mais 24 pessoas. Em janeiro de 2011, ela recebeu a sua parte no bolão: algo em torno de R$ 1,8 milhões. A Mega Sena da Virada de 2010/2011 sorteou R$ 194 milhões. Houve quatro apostas vencedoras, e cada uma recebeu R$ 48,5 milhões.

Conforme denúncias de vizinhos da ex-beneficiária do Bolsa Família ao Ministério Público Federal, mesmo ganhando na loteria Eliane ainda continuou recebendo dinheiro do programa. Pelas informações do Portal da Transparência, existem 18 saques do Bolsa Família no nome dela. Ao todo, os saques totalizaram aproximadamente R$ 1,5 mil, entre os anos de 2011 e 2012. Em 2011, ela recebeu R$ 1.156,00 do programa. Em 2012, outros R$ 490,00. Os pagamentos cessaram apenas em agosto do ano passado.

O procedimento investigatório do Ministério Público Federal foi instaurado em março deste ano. A Procuradoria já pediu apoio da Polícia Federal (PF) e solicitou a quebra dos sigilos bancários e telefônicos da acusada. Também foi solicitado apoio da Caixa Econômica Federal (CEF) para cruzar os dados de movimentação bancária antes e depois do recebimento do prêmio.

Apuração

Conforme o MPF, atualmente, o caso está em fase de diligências policiais e obtenção de documentos. Procurado pelo iG , o Ministério Público preferiu não se manifestar oficialmente durante essa fase preliminar de apuração. O iG tentou contato telefônico com Eliane Barreto, mas em todas as tentativas o celular estava desligado ou caía apenas na caixa postal.

Reportagem de Wilson Lima

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