São Pualo - Enquanto a Prefeitura de São Paulo descumpre pela segunda vez o prazo determinado pela Justiça para entregar a reforma da tradicional Feira da Madrugada, no Brás, perto dali um grupo de cinco chineses prepara o que promete ser o maior concorrente do tradicional centro de comércio popular: uma feira com 1.300 lojas na rua Gomes Cardim, onde funcionava uma fábrica da Cooperativa Central de Laticínios do Estado de São Paulo (CCL).
O empreendimento, porém, não recebeu autorização da Prefeitura para funcionar. Procurada, a Subprefeitura da Mooca afirmou que fará uma vistoria no local "na próxima semana".
Sem se identificar, a reportagem do iG visitou as obras da feira. Segundo o responsável pela venda dos boxes, o terreno adquirido em julho estará pronto para receber clientes já no dia 15 de novembro, data prevista para inaugurar o que os chineses planejam batizar de Shopping CCL Brás.
Até agora, 70% dos boxes já foram vendidos. Os proprietários pretendem cobrar R$ 250 por mês pelo metro quadrado da loja, que varia de 4 m² (R$ 1.000 por mês) a 70 m² (R$ 17,5 mil). Se quiser garantir um lugar no Shopping CCL pelo prazo de um ano, o comerciante também terá de desembolsar R$ 10 mil de “luvas” pelos espaços mais bem localizados (ou R$ 6 mil, no caso das lojas nos fundos do complexo).
De acordo com os proprietários, o empreendimento terá cinco restaurantes – com comida chinesa, boliviana, coreana e brasileira – e oito lanchonetes, além de uma agência bancária no segundo piso e espaço para receber cerca de 100 ônibus repletos de compradores de todo o Brasil.
Alternativa
Sem trabalho desde que a prefeitura lacrou a Feira da Madrugada, em maio, muitos de seus vendedores estão aderindo ao negócio chinês. Embora o novo ponto seja mais caro do que o antigo, o aluguel de um box de 4 m² em galerias da mesma região sai pelo dobro do preço (R$ 2 mil).
Membros da Comissão Permanente dos Ambulantes (Copae) estimam que 30% dos trabalhadores da “feirinha” alugaram salas em galpões da região, enquanto o restante arrisca suas mercadorias vendendo nas ruas.
Alguns empresários se aproveitam da marca “Feira da Madrugada” e batiza seus espaços com esse nome, como o “Azulão – o Feirão da Madrugada”, que está cadastrando interessados em uma de suas 580 lojas de produtos eletrônicos.
Outros apostam no modelo itinerante da feira, no qual o comerciante faz um cadastro semanal e desembolsa R$ 300 (R$ 100 de sinal) para vender seus produtos em algum bairro da cidade. O próximo contará com 70 vendedores, que vão transportar suas mercadorias para vendê-las no Jardim Colombo, na zona oeste, de hoje a domingo.
Justiça adverte a prefeitura
Enquanto os cerca de 4.500 comerciantes da feirinha tradicional tentam reaver o antigo endereço, a prefeitura adiou pela segunda vez o prazo para entregar o espaço, fechado desde o dia 10 de maio para reformas hidráulicas, elétricas e de alvenaria. As obras, no entanto, só começaram em julho, gerando uma briga entre os comerciantes e o município, que foi judicialmente obrigado a reabrir a feira no dia 4 de setembro, prazo não cumprido.
Em nova audiência, a prefeitura se comprometeu a finalizar as obras até o dia 15 de outubro, o que não aconteceu. A caixa-d'água de 54 mil litros, por exemplo, só foi entregue na última quinta-feira.
O clima entre comerciantes e a Secretaria de Coordenação das Subprefeituras voltou a esquentar na manhã do dia 13 de outubro, quando tratores derrubaram cerca de 50 dos 100 boxes de alvenaria que já estavam construídos antes da reforma.
Assim que flagraram a derrubada, um grupo de vendedores recorreu à Justiça Federal, que no mesmo dia intimou o responsável pela obra a interromper a demolição sob pena de arcar com uma multa de R$ 600 mil.
A juíza Katia Lazarano Roncada tomou essa decisão baseada em outra audiência, do dia 27 de junho, onde consta: “a questão relativa ao 'Terrão' [como é conhecido a região dos boxes de alvenaria] será objeto de apreciação em momento oportuno”.
Reportagem de Wanderley Preite Sobrinho