Por tamara.coimbra
Rio Grande do Sul - Familiares e amigos dos 242 mortos durante o incêndio na boate Kiss marcaram um ano da tragédia com uma vigília que se estendeu pela madrugada desta segunda-feira. Os participantes da vigília reclama da falta de punição aos responsáveis pela tragédia. Ao longo de um ano, mais de 90 sobreviventes testemunharam e 24 audiências foram realizadas, o que resultou em processo de 11 mil páginas na 1ª Vara Criminal da Comarca de Santa Maria.
Manifestantes levaram flores e cartazes em homenagem às vítimas do incêndio na boate Kiss%2C em Santa MariaReuters


Apesar da enorme quantidade de trabalhos e informações, não há previsão de quando os responsáveis irão a julgamento. Os quatro principais acusados seguem em liberdade. Os sobreviventes ainda convivem com as consequências da tragédia. Alguns deles até hoje ainda tossem e expelem fuligem. Socorridos em estado grave perderam a potência da voz, se cansam com apenas poucos passos e relatam gosto de 'borracha queimada' na boca.

A tragédia ocorreu na madrugada de 27 de janeiro de 2013, às 3h17, quando uma fagulha de um sinalizador usado pela banda em show pirotécnico chegou ao teto da casa noturna e queimou a espuma de revestimento acústico. O fogo se alastrou rapidamente e gerou uma fumaça formada por monóxido de carbono com cianeto que matou 242 pessoas, todas por asfixia. O desastre ainda deixou, até o momento, 623 feridos. O inquérito foi feito pela Polícia Civil em 54 dias e tem 13 mil páginas, divididos em 52 volumes, já que mais de 810 depoimentos foram colhidos.
Publicidade
Subprocurador diz que críticas ocorrem por falta de informação
O subprocurador-geral de Justiça para Assuntos Institucionais, Marcelo Dornelles, disse que as críticas de parentes das vítimas do incêndio na Boate Kiss e da imprensa são resultado da falta de informação. Segundo ele, é preciso analisar e conhecer o caso antes de atacar o Ministério Público (MP). Dornelles participou nesse domingo do segundo dia do 1º Congresso Internacional Novos Caminhos, que debate segurança e prevenção de acidentes.

O representante do MP foi questionado pelos participantes do congresso sobre as divergências entre a denúncia dos procuradores e a conclusão do inquérito da Policia Civil. A investigação policial pediu o indiciamento de 16 pessoas. O documento foi encaminhado ao MP, que denunciou formalmente oito pessoas, e a Justiça acatou a denúncia.

População vestiu branco e caminhou do centro da cidade até a boate para homenagear as vítimas da boateReuters


Publicidade
Para Dornelles, o órgão denunciou oito envolvidos porque os fatos não comprovaram a responsabilidade criminal dos outros indiciados, como é o caso de servidores municipais e agentes do Poder Executivo municipal. “Na avaliação feita, comprovou-se que os servidores agiram com regularidade. Não vamos criar fatos nem acusações por vingança, como muita gente quer.” Ele admitiu, contudo, que o MP pode voltar atrás e rever a denúncia, caso haja novas provas.
Até o fim de fevereiro, o delegado regional de Santa Maria, Marcelo Arigony, espera concluir mais dois inquéritos sobre o caso, que evidenciam irregularidades que tinham sido apontadas no primeiro documento. “Os novos inquéritos não vão mudar o rumo do processo. Só vão reforçar as falhas que já tínhamos apontado antes”. Sobre as conclusões, o delegado evitou falar, mas reafirmou que há provas materiais de que houve irregularidades na liberação de licenças da boate.
Publicidade
Foram denunciados pelo Ministério Público por homicídio doloso qualificado – em que a pessoa assume o risco por sua atitude – os ex-sócios-proprietários da boate Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann, o vocalista da Banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos, que acendeu o artefato pirotécnico, e o produtor do grupo musical, Luciano Augusto Bonilha Leão, que comprou os fogos.