Por leonardo.rocha

Recife - Morreu na tarde desta quarta-feira o escritor, dramaturgo e poeta Ariano Suassuna, de 87 anos, em Recife. O acadêmico estava internado desde a última segunda-feira no Real Hospital Português. Suassuna foi vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico e estava em coma, respirando com a ajuda de aparelhos. Ele foi submetido a uma cirurgia mas não resistiu ao tratamento.

Segundo boletim médico, o escritor faleceu às 17h15. "O paciente teve uma parada cardíaca provocada pela hipertensão intracraniana". A família ainda não informou os detalhes do funeral.

Ariano Suassuna é um dos nomes mais importantes do teatro e da narrativa brasileiraDivulgação

No ano passado, o poeta esteve internado no mesmo hospital. Em 21 de agosto, ele sofreu um infarto agudo do miocárdio e foi submetido a um cateterismo. Após ficar seis dias internado, o dramaturgo teve alta, mas voltou à UTI do hospital dois dias depois, no dia 29, vítima de um aneurisma cerebral. Submetido a uma arteriografia cerebral, ele recebeu alta no dia 4 de setembro.

Vida e obra

Nascido em João Pessoa, em 1927, Ariano Suassuna é um dos nomes mais importantes do teatro e da narrativa brasileira. Começou a escrever para o palco quando ainda era estudante de direito em Recife e foi com 'Auto da compadecida', escrito em 1955, que ficou mais conhecido. A peça de teatro foi foi traduzida para vários idiomas, adaptada para a televisão e o cinema e encenada em quase todo o Brasil.

GALERIA: Brasil perde Ariano Suassuna

Os personagens épicos, a mistura de arte medieval com literatura de cordel, os heróis sem caráter e um final onde predomina o moralismo marcaram sua obra. Suas ideias estéticas desembocaram, em 1970, no Movimento Armorial, voltado para as formas nordestinas populares de expressão artística. Publicou, no ano seguinte, o Romance d'A Pedra do Reino. Em 1989, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras.

O escritor era sobretudo um contador de belas histórias que sabia cativar o público. Suassuna foi a estrela da Flipe de 2005 contando casos que arrancaram risos da plateia e saiu aplaudido de pé. Seus 80 anos, em 2007, foram comemorados em meio a uma maratona de homenagens que o forçavam a viajar pelo País. “Se eu soubesse que chegar aos 80 daria tanto trabalho, teria ficado nos 79”, brincava. Mas o cansaço era recompensado com o carinho de seus admiradores.

Seu pai foi governador da Paraíba e morreu assassinado por motivos políticos durante a Revolução de 30 e, pequeno ainda, ele mudou-se para Taperoá, no interior da Paraíba, onde fez seus primeiros estudos e assistiu, pela primeira vez , a uma peça de mamulengos e a um desafio de viola, cujo caráter de “improvisação” seria uma das marcas registradas da sua produção teatral. A partir de 1942, passou a viver no Recife, onde construiu sua vida.

Suassuna foi um dos maiores defensores da cultura brasileira. “O que não posso aceitar é que brasileiros equivocados queiram que, em nome de nossa bela e fecunda diversidade, aqui seja acolhido também o lixo cultural, que é um subproduto da indústria cultural americana espalhada pelo mundo.” disse em entrevista ao jornalista Geneton Moraes Neto, em 1996.

O escritor Ariano Suassuna foi homenageado pelo Império Serrano no carnaval de 2002Alexandre Brum / Agência O Dia

Em 2002, Ariano Suassuna foi tema de enredo no carnaval carioca na escola de samba Império Serrano; em 2008, foi novamente tema de enredo, desta vez da escola de samba Mancha Verde no carnaval paulista. Em 2013 sua mais famosa obra, o Auto da Compadecida foi o tema da escola de samba Pérola Negra em São Paulo.

Homenagens

A morte de  Ariano Suassuna é “uma perda irreparável para a cultura nacional”, disse o presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros. Logo após a confirmação da morte do escritor, Renan divulgou nota pública lamentando a perda.

“Ao longo de 87 anos, Ariano soube como poucos revelar as nuances da cultura nordestina. Paraibano, fundou o Movimento Armorial nos anos 70, que tinha como objetivo utilizar a cultura popular para formar um arte erudita. A perda do escritor nos silencia, mas seus livros o eternizam na nossa memória. Em cada peça popular, em cada canto nordestino, Ariano Suassuna, reviverá”, diz o texto.

No Recife

O governador de Pernambuco, João Lyra, decretou três dias de luto no estado pela morte do escritor, poeta e dramaturgo, Ariano Suassuna.” É um dia muito triste para todos nós, pernambucanos, nordestinos e brasileiros, uma perda inestimável para nossa literatura e nossa cultura”, lamentou.

O governador lembrou que, com Hermilo Borba Filho, Suassuna fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco e que, juntos, os dois foram pioneiros no teatro ao ar livre no Brasil. Ele também ressaltou que Suassuna contribuiu com o povo pernambucano e recifense sendo secretário de Cultura por três vezes.

Academia Brasileira de Letras

A Academia Brasileira de Letras (ABL) determinou luto oficial de três dias. Em nota divulgada logo após tomar conhecimento da notícia, Holanda Cavalcanti lembra o fato de que Suassuna é o “terceiro grande acadêmico” que a academia perde no espaço de um mês – ele se referia a Ivan Junqueira, morto no dia 3 deste mês, e a João Ubaldo Ribeiro, no dia 18.

“Estendemos à família de Ariano nossos profundos sentimentos de pesar. E, à multidão de seus amigos, leitores e admiradores no Brasil e no mundo, nossa solidariedade pela imensa perda. Ariano reunia em sua pessoa as extraordinárias qualidades de homem de letras e de intelectual no melhor sentido da palavra, alguém que, dispondo de uma cultura invulgar, era, ao mesmo tempo, um homem de ação. À sua maneira ocupava-se e preocupava-se com os problemas sociais, focado nos da sua região”, destaca o presidente da academia.

Geraldo Holanda Cavalcanti destacou também o engajamento do escritor paraibano com o Movimento Armorial, “através do qual buscava revigorar a identidade nordestina e suas peregrinações, levando, com humor, sua mensagem por todo o Brasil”.

Frases

“Ariano era um tesouro nacional. Mais do que escritor: compositor, um ícone da cultura brasileira. É uma tristeza”, Luis Fernando Verissimo, Escritor

“Perdemos uma grande referência cultural. A obra de Suassuna é essencial para a compreensão do Brasil”, Dilma Rousseff, Presidenta do Brasil

“Ariano reunia as extraordinárias qualidades de homem de letras e de intelectual no melhor sentido da palavra”, Geraldo Holanda Cavalcanti, Presidente da ABL

“Foi muito mais do que um amigo, foi uma figura que me ensinou muito e em vários aspectos da vida. Perda irreparável”, Luiz Fernando Carvalho, Cineasta

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