Por bferreira

Pernambuco - O sobrenome Arraes é símbolo de poder em Pernambuco. Mas por decisão do pai, Eduardo Campos não carregava o sobrenome do avô Miguel Arraes, ícone da esquerda brasileira e três vezes governador de Pernambuco. Esse detalhe não o impediu de entrar para o seleto clã que protagonizou a política pernambucana nas últimas décadas. Não fosse o trágico acidente que encerrou sua carreira precocemente, em seu auge, poderia alçar postos mais altos do que os do avô na política. Talvez não em 2014, mas os 49 anos recém-completados permitiam outras tentativas.

Eduardo Campos morreu no mesmo dia que o avô Miguel Arraes%2C que também foi governador de PernambucoAna Nascimento / ABr / Arquivo O Dia

Filho do escritor Maximiano Campos e da ministra do Tribunal de Contas da União Ana Arraes, entrou na política aos 21 anos, como assessor da campanha de Miguel Arraes para o segundo mandato como governador de Pernambuco, em 1986. O avô já havia sido deputado estadual, prefeito de Recife e governador. O primeiro mandato no Executivo estadual não foi concluído porque Arraes foi deposto no golpe militar. Depois, ficou exilado por 14 anos na Argélia.

Após a campanha de sucesso com Arraes, Campos se filiou ao PSB e foi eleito deputado estadual no mesmo ano. Quatro anos mais tarde, elegeu-se para a Câmara dos Deputados, de onde se licenciou para ocupar cargos na gestão do avô, em Pernambuco. Na Secretaria da Fazenda, entrou na mira da CPI dos Precatórios, acusado de forjar documentos para a emissão de títulos do governo fraudulentos. Em 2003, foi inocentado pelo Supremo Tribunal Federal.

O trajetória de Eduardo Campos em fotos

Em 1998 e 2002, foi reeleito deputado federal. No Congresso, ganhou projeção como articulador do governo de Lula (PT), de quem se tornou um forte aliado. A proximidade lhe rendeu o convite para assumir o Ministério da Ciência e Tecnologia, em 2004. Na pasta, uma de suas principais contribuições foi o apoio à Lei de Biossegurança, que permitiu a pesquisa com células-tronco.

Em 2006, saiu de um desacreditado terceiro lugar na campanha para o governo de Pernambuco e acabou eleito, com 65% dos votos válidos. Em 2010, venceu com 83% dos votos válidos.

ALIANÇA INUSITADA

Tradicional aliado do PT, Eduardo Campos e o PSB romperam com o governo federal em setembro de 2013. Um mês depois, o então pré-candidato se aliou à Marina Silva, quando a criação do partido dela foi rejeitada pela Justiça Eleitoral. O sucesso da aliança foi questionado pela falta de alinhamento programático entre os candidatos, mas ele e Marina sempre negaram que isso seria um problema em um eventual governo.

Acreditando em uma candidatura de “arranque”, Campos era incansável durante a campanha. Foi o candidato que mais viajou e que participou de mais compromissos, sempre focado em se tornar um rosto familiar aos brasileiros e disseminar a tese da “nova política”, moralizada e afastada das “velhas raposas”. Era assim que ele se referia a figuras como José Sarney (PMDB-AP) e Fernando Collor (PTB-AL). Nas entrevistas, não era um orador eloquente. Costumava transmitir uma imagem de serenidade e cuidado na escolha das palavras.

Na esfera privada, Campos era conservador. Católico, não apoiava a agenda progressista em matéria de liberdades individuais, como a legalização do aborto e da maconha. Apreciador de futebol, torcia para o Náutico. Entre amigos, era conhecido por sua habilidade em imitação. Lula era um de seus “alvos” preferidos.

O político era casado com sua namorada de adolescência, Renata, desde 1991. A economista sempre preferiu atuar nos bastidores em prol do marido. “A Renata tem uma força impressionante. Ela chora, mas amamenta o Miguel e consola os filhos”, afirmou ontem Renildo Calheiros, prefeito de Olinda e amigo da família.

Miguel é o quinto filho do casal, nascido em janeiro. O ex-governador também deixou os filhos Maria Eduarda, 21, João, 19, Pedro, 17 e José Henrique, 9. “Você sempre conseguiu estar presente na vida de cada um de nós”, declarou Maria Eduarda, em um vídeo feito em homenagem aos 49 anos do pai, comemorados no último domingo, Dia dos Pais.Entre os cinco, o estudante de Engenharia João demonstrava interesse em seguir o ofício do pai. Neste ano, cogitou-se sua candidatura como deputado estadual.

Renata era sobrinha do escritor Ariano Suassuna, falecido no mês passado e amigo de longa data da família Arraes. Ao contrário do avô, que mantinha uma postura fria com Eduardo, Suassuna teve uma relação bastante afetiva com ele. Em recente entrevista à revista ‘Piauí’, ele falou que via em Campos a imagem de um “pai-caçula”, pois o político tinha características que o faziam recordar de seu pai.

O autor, que sempre foi entusiasta do ex-presidente Lula, declarou apoio ao socialista neste ano. “Eduardo Campos é o político mais brilhante que eu já conheci. Na campanha de 2006, diziam que ele seria o novo Miguel Arraes. Eu disse: ‘Não! Ele vai ser mais do que isso’. E ele realmente foi. Ele nunca me decepcionou”, disse o escritor paraibano.

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