Por bferreira
Brasília - A Comissão de Finanças da Câmara dos Deputados aprovou ontem aumento salarial de 21,9% para ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e o procurador-geral da República. Pela proposta, a remuneração atual, de R$ 29,4 mil, passará para R$ 35,9 mil em 2015.
O índice de aumento foi proposto pelo próprio Supremo e pela Procuradoria-Geral. A alegação é que ele repõe as perdas salariais acumuladas de 2009 a 2013.
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O reajuste precisa ser aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) antes de ir ao plenário. O aumento pedido é superior à sugestão do Executivo: a presidenta Dilma Rousseff defendeu reajuste de 5% para ministros e servidores da Justiça, o que aumentaria o salário dos ministros do Supremo para R$ 30,9 mil.
O impacto no Poder Judiciário e no Ministério Público com o salário de R$ 35,9 mil será de R$ 875,16 milhões ao ano. Mas o aumento nos subsídios de ministros e do procurador-geral repercutem em todo a Justiça e no Ministério Público, aumentando os vencimentos de juízes e procuradores. Em cada órgão, os salários são fixados como percentuais dos pagos no STF e na Procuradoria-Geral.
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Os projetos com os aumentos mandados pelo Supremo e pelo Ministério Público ao Congresso serão usados pelos parlamentares como forma de pressão para a aprovação de aumentos de seus próprios salários.
A aprovação do reajuste foi criticada pela maioria das pessoas ouvidas pela reportagem.“É um absurdo esse aumento enquanto o trabalhador morre de fome. Eles já ganhavam bem e ainda têm mordomias, privilégios, auxílio moradia”, disse o analista contábil Carlos Gaspar, de 61 anos.
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A terapeuta Vera Moulin, 26 anos, concorda. Ela diz que os ministros já ganham muito bem e não têm necessidade de aumento.
Já o publicitário Daniel João, de 54 anos, disse há outras prioridades no país. “Há muita gente ganhando pouco e poucos ganhando muito. Só aumenta a desigualdade social”, afirmou.
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Para o funcionário público Enrique Ferreira, de 22 anos, no entanto, o aumento é justo. “Eles são muito capacitados e têm muita bagagem intelectual. Então, merecem ganhar muito bem. Na iniciativa privada, vemos salários muito maiores que esse”, defendeu.
Presidenta, ministros, deputados e senadores também terão reajuste
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Embalados pela aprovação do projeto de reajuste para os ministros do Supremo Tribunal Federal, deputados e senadores também vão negociar com o Executivo o aumento do salário da presidenta Dilma Rousseff, do vice-presidente Michel Temer, dos hoje 39 ministros de Estado e dos 513 titulares da Câmara e 81 do Senado.
Segundo o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), o reajuste será discutido na semana que vem com integrantes do Executivo, do Senado e com os líderes das bancadas partidárias. Henrique Alves deixou claro que a intenção é aprovar o aumento até o fim deste ano.
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Há duas propostas em negociação. Uma delas eleva o contracheque de todos dos atuais R$ 26,7 mil para R$ 33,7 mil – 26% de aumento, o que representa índice aproximado do acumulado da inflação entre o início de 2011, data do último reajuste, e agora. A outra proposta iguala os contracheques aos que os ministros do STF devem receber: R$ 35,9 mil mensais, uma elevação de 34%.
O impacto anual inicial previsto com a proposta de 26% de reajuste é de R$ 57 milhões ao ano. Mas o valor será muito maior devido ao efeito cascata no salário de assessores, nas assembleias legislativas e na câmaras de vereadores.
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Os deputados estudam ainda aprovar emenda à Constituição para atrelar automaticamente o salários das cúpulas do Congresso e do Executivo ao do Judiciário.
Supersalários da Câmara são cortados
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Cerca de 1.500 servidores ativos e aposentados da Câmara dos Deputados terão seus supersalários cortados em dezembro. A decisão foi tomada ontem pela Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, que resolveu reduzir as remunerações acima de R$ 29,4 mil, atual teto do funcionalismo público federal. Com o corte nos contracheques dos servidores, assessores técnicos da Câmara a estimativa de economia chega a cerca de R$ 7 milhões ao mês.
O salário acima dos R$ 29,4 mil foi proibido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mas a Câmara continuava pagando por dois motivos. Primeiro, uma decisão do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo, determinou à Casa que ouvisse a defesa dos servidores antes de reduzir os salários.
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Depois, o pagamento continuou a ser feito por uma manobra dos servidores, que contou com o aval do presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Ele acolheu um recurso apresentado pela Associação dos Consultores Legislativos e de Orçamento da Casa, que argumentou que a decisão do Supremo ainda não havia sido publicada, o que não permitiria eventuais questionamentos pelos servidores atingidos.
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Reportagem Lucas Gayoso