Por thiago.antunes
Rio - O executivo Augusto Ribeiro Mendonça Neto, da Toyo Setal, afirmou ao Ministério Público Federal (MPF), em acordo de delação premiada, ter pagado R$ 2 milhões em propina, em 2011, a Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras. O objetivo seria conseguir um contrato com a estatal numa obra em Macaé, no Norte Fluminense. Duque nega.
Em depoimento a que O DIA teve acesso, Mendonça Neto disse que o dinheiro era necessário para que Consórcio SPS, da qual sua empresa faz parte, conseguisse fechar o contrato de R$ 1 bilhão com a estatal. As empreiteiras ficaram responsáveis pela construção de uma estação de compressão de gás, no terminal de Cabiúnas 3, em Macaé.
Publicidade
Outras integrantes do consórcio, as empresas Promon Engenharia e Skansk, não aceitaram “o acerto” proposto por Duque, que, segundo diz o depoimento do executivo, pedira “entre R$ 10 e R$ 20 milhões” para que fechassem o negócio.
As empreiteiras ficaram responsáveis pela construção de uma estação de compressão de gás%2C no terminal Cabiúnas 3%2C em MacaéDivulgação

Oficialmente, não era Mendonça Neto quem representava a SOG — Óleo e Gás, subsidiária da Toyo Setal, que integrava o Consórcio SPS. Mas, por seu acesso a Renato Duque, foi ele quem articulou o “acerto”.
Após negociação, que conseguiu reduzir o valor para R$ 2 milhões, Mendonça Neto transferiu o dinheiro de uma conta no exterior, no banco Safra Panamá, em nome da Companhia Stowaway, para a conta ‘Marinelo’, que, segundo ele aponta, é de Renato Duque.

Mendonça Neto ainda afirmou ao MPF que, depois que o negócio foi fechado, as empresas sócias no consórcio o reembolsaram através da empresa Engergex Group, que tem o executivo como dono. Segundo ele, tudo por “contrato simulado de prestação de serviço”. Ainda de acordo com o delator, outras obras da Petrobrás no Estado do Rio saíram do papel graças a esquema de propina — uma unidade da Refinaria Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, foi uma delas. O executivo não soube, porém, especificar os valores.
Publicidade
À Justiça Federal, Renato Duque negou que tenha participado ou que soubesse de esquema de pagamento de propina para a obtenção de contratos na estatal. Ao DIA, um dos advogados do ex-diretor, Alexandre Lopes de Oliveira, afirmou que o executivo da Toyo Setal “tenta receber do juízo, ao final, o perdão judicial ou a diminuição de pena, com Renato Duque como alvo”.
Para Oliveira, a suposição de que seu cliente tenha sido indicado pelo PT somado ao seu cargo na Petrobras o torna alvo — ele nega qualquer indicação do partido. “Duque é o que MPF queria ouvir. Então, eles tentam se safar agradando ao acusador do Estado”, afirmou.
Publicidade
Executivos da Toyo Setal divergem sobre pagamentos ao Comperj
Outra obra da Petrobras no Rio, o Comperj, em Itaboraí, foi motivo de contradição entre dois executivos da Toyo Setal em suas delações premiadas ao MPF. Enquanto Mendonça Neto afirma que os contratos envolvendo a empresa foram firmados de forma “absolutamente lícita”; Júlio Camargo, também investigado, garante que houve pagamento de suborno aos ex-diretores Paulo Roberto Costa e Renato Duque — ele não cita valor.
Publicidade
Ambos tratam em seus depoimentos da construção de uma unidade de geração de hidrogênio, cuja obra custaria à estatal R$ 1 bilhão. Mendonça Neto declarou que não houve nem há pagamento de propina na obra aos diretores da estatal José Carlos Cosenza, de Abastecimento, e Figueiredo, de Serviços. Eles assumiram as diretorias no lugar de Paulo Roberto e Duque.
Já Júlio Camargo afirma que o pagamento de propina ficou a cargo da UTC Engenharia e da Odebrecht e que “tudo leva a crer” que os pagamentos foram feitos. “A certeza” dele, diz, está no que considerar ser esta “a regra do jogo”.
Publicidade
PF terá de concluir em 15 dias inquérito
O juiz Sergio Moro, da Justiça Federal do Paraná, responsável pela Operação Lava Jato, concedeu mais 15 dias para que a Polícia Federal encerre as investigações e conclua o inquérito sobre Fernando Soares, o Fernando Baiano. Ele é apontado na delação premiada do doleiro Alberto Youssef e de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, como operador do PMDB no esquema de propina envolvendo os contratos superfaturados na estatal.
Publicidade
A decisão atende a pedido da própria PF, que não conseguiu analisar todos os documentos apreendidos na sétima fase da operação, chamada pelos agentes de Juízo Final. Moro lembrou que as prisões cautelares e as buscas e apreensões ocorreram no dia 14 de novembro, sugerindo que houve tempo para os devidos exames.
No despacho, afirma que não dará mais prazo e diz ser “desejável” que não sejam utilizado todos os 15 dias. Fernando Soares está preso desde o dia 21 de novembro. Em depoimento, Soares negou que tenha negociado com a Petrobras em favor de partidos e disse que começou a fazer negócios com a companhia no governo FHC, em 2001.
Publicidade
Publicidade