Por bferreira
Brasília - Surgiu ontem o primeiro desafio de um militar de alta patente e em posto de comando à Comissão Nacional da Verdade (CNV). Em nota assinada com a família, o chefe do Departamento Geral do Pessoal do Exército, general Sérgio Etchegoyen, chama de leviano o relatório divulgado no dia anterior que incluiu o pai do militar, o também general Leo Guedes Etchegoyen, na lista de 377 responsáveis por torturas, assassinatos e desaparecimentos de presos políticos e ocultação de cadáveres durante a ditadura militar.
Em 1983%2C Sérgio Etchegoyen desafiou o general Newton Cruz e foi preso%3B agora%2C ele desafia a CNVDivulgação

No texto, divulgado no site do jornal ‘Estado de S. Paulo’, Etchegoyen critica a divulgação do nome do pai sem apontar os fatos que justificariam a acusação. “Ao apresentar seu nome, sem qualquer vinculação a fatos ou vítimas, os integrantes da CNV deixaram clara a natureza leviana de suas investigações”, diz a nota.

Além disso, chama de covardia a acusação da CNV porque o general Etchegoyena já está morto e não pode se defender. “No seu patético esforço para reescrever a história, a CNV apontou um culpado para um crime que não identifica, sem qualquer respeito aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa”.

O comandante do Exército, general Enzo Peri, foi informado por Etchegoyen sobre a divulgação da nota. Mas até a noite de ontem não tinha se manifestado.
Publicidade
Etchegoyen violou o Regulamento Disciplinar do Exército, que proíbe a militares manifestações sobre política. Por isso, costumeiramente, quem se pronuncia são oficiais da reserva.
Não é a primeira vez que Etchegoyen se envolve em episódio em defesa do pai. Em 1983, quando era capitão, reagiu às acusações do comandante Militar do Planalto, general Newton Cruz, que em reunião com 200 oficiais chamou de “mau caráter” quem fosse às Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) no Congresso prestar depoimentos.
Publicidade
O então capitão interrompeu Cruz e avisou que o pai iria depor. E afirmou que não admitia que a honra de seu pai fosse atacada.
O general Newton Cruz o prendeu na mesma hora por desrespeito, por oito dias. Como Etchegoyen recorreu, a punição foi ampliada em mais sete dias.
Publicidade
Comissão de São Paulo reafirma que JK foi assassinado
A Comissão Estadual da Verdade de São Paulo divulgou ontem o relatório final de seu trabalho e entre as principais conclusões está a de que o ex-presidente da República Juscelino Kubitschek foi assassinado pela ditadura militar. Essa versão contradiz a da Comissão Nacional da Verdade (CNV), que concluiu que não houve crime no acidente de carro que matou Juscelino, em agosto de 1976, na Rodovia Presidente Dutra.
Publicidade
O relatório da Comissão paulista teve a participação de 20 professores e pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Presbiteriana Mackenzie. As investigações analisaram ameaças de morte ao ex-presidente e a perícia no carro que ele usava e no caminhão com o qual o veículo se chocou de frente. A conclusão é de que o carro de JK foi fechado por ônibus, o que levou o motorista a perder o controle, cruzar a pista e bater violentamente no caminhão.
A Comissão concluiu ainda que houve tentativa de pagamento de suborno ao motorista do ônibus e adulteração do local do acidente, para dificultar o trabalho dos peritos.
Publicidade