Bancada do PT na Câmara não terá nenhum ‘trabalhador’
Estudo mostra que partido está mais distante a cada ano da sua base social
Por felipe.martins, felipe.martins
Rio - O PT conseguiu eleger um operário para Presidência da República com Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, mas não conseguiu diversificar as profissões dos parlamentares brasileiros. Pela primeira vez em sua história, o Partido dos Trabalhadores não terá nenhum “trabalhador” em sua bancada de deputados federais. Segundo estudo do Observatório de Elites Políticas e Sociais do Brasil, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o PT deixou de contar com a base social que garantiu sua criação em 1980.
A análise foi feita sobre as listas de candidatos dos partidos nas eleições de 1998 a 2014. O cientista político Luiz Domingos Costa, um dos responsáveis pelo estudo, explica que foram considerados trabalhadores os candidatos que declararam ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) exercer 111 ocupações: desde motoristas, carpinteiros e auxiliares de escritório, a atividades ligadas à indústria, como torneiro mecânico. Professores, engenheiros e advogados foram excluídos do levantamento.
Os trabalhadores foram perdendo espaço aos poucos no PT. Em 1998, correspondiam a 21% dos candidatos petistas à Câmara dos Deputados. O número caiu para menos de 10% no ano passado. No total de candidatos com as ocupações propostas pelo estudo, o percentual também caiu. O PT tinha 18,1% de todos os trabalhadores candidatos em 1998, contra menos de 5% em 2014. De acordo com o estudo, uma das razões para isso é preferência do partido por “políticos profissionais”, e a perda de poder decisório da “base” nos diretórios locais.
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No geral, há um aumento no número de candidatos trabalhadores, mas um menor número de eleitos, graças à profissionalização das campanhas.
“Quando surgiu, o PT foi a janela para renovar o perfil do parlamento. Os trabalhadores eram a base do partido, mas hoje, procuram os partidos menores por conta da burocratização interna petista”, explica Costa, que entende o fato de os petistas terem virado governo como motivo para a mudança no recrutamento de candidatos. Ele aponta como caso emblemático o deputado federal Vicentinho, de São Paulo. Nas primeiras vezes que foi eleito, autodeclarava-se como metalúrgico. Agora, sua ocupação aparece como “outros”.
“O candidato muda simbolicamente para garantir seu sucesso eleitoral. Numa hora, pode parecer bom se autodeclarar metalúrgico. Depois pode parecer ruim”.
Com a perda de espaço dos trabalhadores no PT, a solução encontrada foi a migração para algum dos vários partidos pequenos do Brasil, considerados mais abertos do que as legendas tradicionais. “Não há uma explicação exata, mas a ida para estas legendas pode ser entendida a partir da importância dos líderes evangélicos nas periferias, por exemplo”, diz Costa.
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Partido melhorou a vida do povo
Para o presidente estadual do PT do Rio, Washington Quaquá, os governos petistas conseguiram melhorar a vida do povo, mas, em contrapartida, não contribuíram para a politização da sociedade. Por isso, o baixo número de trabalhadores nas listas de candidatos. “Isto é uma falha dos nossos governos. Hoje, nós colocamos demandas de governo que são contrárias ao que pensam os movimentos sociais”, lamenta Quaquá.
Vice-prefeito do Rio, Adilson Pires participou da fundação da sigla no estado e acredita que o partido “perdeu o espírito militante do passado”. Mas, segundo ele, não está tudo errado dentro do partido. “Deixamos de ser oposição e passamos a ser governo, e me parece que muitos ainda não entendem isso”, diz.