Paraná - "Professor, conta outra..." foi a legenda escolhida para a imagem de um PM com o rosto, braços e mãos, manchados por um líquido avermelhado após o cerco feito aos professores nesta quarta-feira na Assembléia Legislativa paranaense (Alep), em Curitiba. A foto publicada na rede social Facebook não convenceu os internautas, que rapidamente perceberam que tudo não passava de uma farsa. Após a polêmica, a Polícia MiIlitar do Paraná confirmou as suspeitas e afirmou que o PM está coberto de tinta e não de sangue.
A PM explicou que o produto que se vê na foto é "menos letal" e usado para marcar pessoas envolvidas nos protestos. No entanto, da forma como o policial escreveu a legenda da foto, parecia que as manchas em seu corpo tinham sido provocadas pelos professores.
Alguns amigos chegaram a se solidarizar com o PM Umberto Scandelari, mas a maioria viu que as marcas no corpo dele não eram fruto da ação dos manifestantes, até mesmo por serem cor de rosa. "Foi pego pelo professor de artes", comentou um dos internautas. "Sangrou groselha", disse outro.
Nesta quinta-feira, a PM negou a exoneração de policiais que se recusaram a participar do ataque contra os professores e outros manifestantes nesta quarta. "É mentira", afirmou a corporação nesta quinta. "Não existe policial preso e nem exonerado", declarou a assessoria da PM do Paraná.
A respeito da ação truculenta contra os profissionais da educação, a polícia afirmou nesta quinta que "reagiu conforme a ação dos manifestantes." "A polícia estava cumprindo uma ordem judicial e se manteve estática até que os manifestantes derrubaram as grades."
A polícia usou bombas de efeito moral e cachorros contra os professores que compareceram à manifestação. Durante a confusão que se instalou no local, um cinegrafista da Band foi atacado por um pitbull da Polícia Militar (PM) e acabou ferido na perna. Em entrevista coletiva no início da noite desta quarta, o governador Beto Richa (PSDB) declarou que os policiais foram agredidos pelos manifestantes, a quem chamou de "black blocs."
O deputado federal João Arruda publicou em sua página no Facebook nesta quarta um vídeo que mostra a suposta comemoração que teria ocorrido na sacada do Palácio Iguaçu pelo ato violento dos policiais aos manifestantes. "Os que presenciaram a cena me mandaram o vídeo pq ficaram revoltados com o comportamento da equipe do governador", publicou o deputado.
Cinegrafista é atacado por pitbull da PM em cerco a professores em Curitiba
Quase 200 pessoas ficaram feridas no cerco da PM e Tropa de Choque aos professores e manifestantes, 15 delas em estado grave. Segundo a emissora Band, o repórter cinematográfico Luiz Carlos de Jesus foi atendido no local e levado para o Hospital de Clínicas onde foi medicado e recebeu alta.
Em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, na manhã desta quinta-feira, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Educação do Paraná (APP-Sindicato), professor Hermes Silva Leão, declarou que a violência contra professores remeteu aos tempos da ditadura militar.
"Estavam se comportando de uma maneira que, mesmo na ditadura, a gente não viu aqui no Paraná. Já tivemos confrontos da categoria, como o de 30 de agosto de 1988, no mesmo local, mas mesmo os analistas políticos do Paraná dizem que não se tem notícias de algo tão violento", disse Leão.
A Anistia Internacional se manifestou em nota a respeito da ação violenta da PM contra os manifestantes. "É fundamental que a violência de ontem seja investigada, de forma célere e independente, e que as autoridades do alto escalão também sejam responsabilizadas pelo que ocorreu", declarou Atila Roque, diretor executivo do órgão no Brasil. "A polícia não age por conta própria e as falas das autoridades mostram que para o governo a ação policial foi adequada. Isso é um agressão à liberdade de expressão e ao direito à manifestação pacífica", afirmou.