Por felipe.martins

Rio - Deu pena ver os comícios de 1º de Maio pelo país afora. Um deles, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, convocado pela CUT e pelo PT, foi produzido em alto estilo, teve a presença do ex-presidente Lula, mas não conseguiu reunir sequer cinco mil pessoas. Em outras cidades, havia dezenas de militantes e olhe lá. O único evento que atraiu gente para valer foi o da Força Sindical. Não se entenda, porém, que o público acorreu para a Zona Norte de São Paulo motivado por palavras de ordem políticas ou ideológicas.

Nem pensar. O que fez a diferença a favor da Força Sindical foi a realização de um sorteio de nove automóveis e a presença de cantores populares. É assim que funciona hoje o movimento sindical. Nos discursos, os dirigentes e os convidados abordaram questões que afetam a vida dos trabalhadores — com destaque para o projeto que amplia a terceirização —, mas falaram rápido para não estragar o verdadeiro motivo da festa: o show e a oportunidade ser premiado com um carro.

Analistas do movimento sindical não se surpreendem com o esvaziamento do 1º de Maio. Dizem que é consequência natural do chamado sindicalismo de resultado. Ou seja, atualmente, eleições de sindicatos e entidades de classe são ganhas pelos grupos que prometem investir no assistencialismo, como planos de saúde e de tratamento dentário. Perderam espaço as correntes que se preocupam com os direitos trabalhistas. É óbvio que os ânimos se acirram nos períodos de dissídio coletivo, como está acontecendo agora com os professores do Paraná (por sinal, eles foram agredidos de forma criminosa pela Polícia Militar, sob o olhar cúmplice do governador Beto Richa). Mas, no geral, o que prevalece no sindicalismo é o cada um por por si, é o meu pirão primeiro. E, exatamente por isso, o Dia do Trabalho, de tantas tradições, tornou-se um feriado como qualquer outro.

O sindicalismo de resultado, porém, não é fenômeno isolado. Tem tudo a ver com o perfil da classe política brasileira. Com raras exceções, o Congresso hoje é um símbolo do oportunismo e do fisiologismo. Tudo que ali se faz não corresponde aos interesses da Nação. A maior preocupação de partidos e parlamentares é conquistar cargos e facilidades no Executivo. Quando as demandas não são atendidas, o descontentamento transforma-se em crítica. Veja-se, por exemplo, o caso do presidente do PDT, Carlos Lupi. Tratado de “Lupinho” pela presidenta Dilma Rousseff, ele esteve sempre ao lado do Planalto. De repente, passou a atirar. Mas bastou a ameaça de tirar do PDT o Ministério do Trabalho para “Lupinho” baixar o tom e jurar fidelidade a Dilma. O presidente do Senado, Renan Calheiros, age da mesma forma.

Desde que seu protegido foi apeado do Ministério do Turismo (para abrigar o ex-deputado Henrique Eduardo Alves), Renan torceu o nariz e passou a bater impiedosamente no governo.
Em seu destempero, Renan, de forma contraditória, ataca o aparelhamento da máquina estatal e diz que a articulação política parece até um departamento de Recursos Humanos. Ele sabe o que diz, afinal sempre se esmerou em garantir cargos para os amigos. Renan Calheiros está para a política como Paulinho da Força para o sindicalismo. Ambos não têm qualquer compromisso com o interesse público. São farinha do mesmo saco. Contrariados, falam grosso. Satisfeitos em seus pedidos, adulam os poderosos.

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