Por felipe.martins

Rio - É clichê dito pelos que não acreditam na política partidária, mas está ‘cientificamente’ comprovado: os 32 partidos brasileiros, pelo menos no discurso, são todos iguais. A conclusão é de levantamento feito pelo Observatório de Comunicação Institucional (OCI) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), que analisou a maneira usada pelas legendas para falarem de si mesmo.

No lugar de uma demarcação de diferenças, proposições claras e informações relevantes para os eleitores, sobram incoerências, chavões e personalismos, transformando as 32 siglas existentes numa sopa de letrinhas sem diferenciação.

Coordenado pelo doutor em Ciências da Comunicação Manoel Marcondes Neto, o OCI analisou o que os partidos disseram de si em seus próprios sites e nas redes sociais como Facebook e LinkedIn, além do portal Wikipédia. Para apresentar os dados, colhidos durante as eleições de 2014, a opção foi por “nuvens de palavras”: usando um programa de computador, o Observatório mostrou as palavras que mais se repetem nas descrições das legendas, criando um efeito visual que destaca os termos mais usados.

Doutor em Ciências da Comunicação%2C Manoel Marcondes Neto argumenta que é difícil distinguir as diferenças entre os 32 partidos políticos Divulgação

O resultado, segundo Marcondes Neto, é uma explicação possível para o desinteresse das pessoas pela política. “As nuvens mostram que falta uma comunicação competente para todos os partidos. Fica a sensação de que não dá para distinguir o que as legendas têm a dizer. A comunicação é a ponta do iceberg dos problemas dos partidos. É um desserviço para os cidadãos”, afirmou o professor. A pesquisa não levou em consideração sites abertos por candidatos durante as eleições, focando apenas nos portais oficiais dos partidos.

A análise das nuvens de palavras mostra que o grande elemento de diferenciação dos partidos são as ‘personalidades’ exaltadas por cada legenda. “O Brasil tem o fenômeno da ‘fulanização da política’”, ressalta Marcondes Neto. No caso do PSDC, por exemplo, o nome de José Maria Eymael, fundador e eterno candidato a presidente pela legenda, aparece com destaque. No caso do PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece repetidas vezes na descrição da legenda, assim como o deputado federal Paulinho da Força é um dos mais lembrado nos textos sobre o Solidariedade.

Entre as semelhanças, destaca-se o fato de que os partidos mais identificados com a esquerda, caso de PC do B e PCB, por exemplo, reivindicam para si o título de partido comunista mais antigo do Brasil. Mas a principal recorrência entre os partidos são as menções ao ex-presidente Getulio Vargas e a Jesus Cristo. “Isso é uma apelação comum que, em resumo, tenta-se criar uma falsa solução para os problemas de hoje”, resumiu Marcondes Neto.


Verba para ‘doutrinação’ aumentou

Neste ano, a presidenta Dilma Rousseff sancionou o aumento para o Fundo Partidário de R$ 289 milhões para R$ 867,5 milhões, triplicando o valor do repasse da União para os partidos políticos. A proposta foi feita pelo senador Romero Jucá (PMDB-PR) e foi aprovada pelo Congresso. De acordo com as regras para a distribuição do dinheiro, 5% são destinados a todos os partidos que tenham seus estatutos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e o restante é distribuído de acordo com a representatividade dos partidos na Câmara dos Deputados com base na última eleição.

Em meio à fragilidade ideológica demonstrada pela pesquisa do OCI, os partidos têm que destinar parte do dinheiro que recebem para fins de doutrinação política e programática. De acordo com a Lei dos Partidos Políticos, 20% dos recursos públicos recebidos devem ser usados para divulgação das plataformas políticas. “Esse dado deixa claro que estamos muito mal com nossos partidos políticos. A comunicação com os eleitores precisa ser melhorada: os sites são um horror, não há um canal direto de contato”, diz Marcondes Neto.

Rede e Novo: os próximos da fila

Como se os 32 partidos existentes não fossem suficientes para embaralhar a cabeça do eleitor, ainda há uma lista grande de partidos aguardando o julgamento do registro. O principal deles é a Rede Sustentabilidade, que a ex-presidenciável pelo PSB em 2014 Marina Silva tenta legalizar desde 2013.
Segundo o vereador Jefferson Moura (Psol), um dos representantes da legenda no Rio de Janeiro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve julgar o pedido de registro do partido ainda no mês de junho. Moura garante que a Rede não será mais um partido a entrar na mesmice evidenciada pelo relatório do OCI. “A Rede é uma experiência nova e, como Marina disse algumas vezes, não é nem de esquerda nem de direita. É um partido que praticará uma experiência política horizontal, em que todos os matizes terão voz. Nosso princípio será o debate”, afirmou.

O Partido Novo, de orientação liberal e com forte presença nas redes sociais, é outro que está na fila para ganhar registro.

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