Por tiago.frederico

Bahia - Um professor de uma escola técnica estadual no interior da Bahia foi detido por policiais militares um dia depois de protocolar denúncias sobre supostas irregularidades cometidas dentro da instituição de ensino. A detenção ocorreu em frente aos alunos do docente, em uma das salas de aula.

O protagonista do caso é o professor de Física José Messias Oliveira, conhecido como Dom Bahia. Ele denunciou aos Ministérios Públicos Estadual e Federal e à Secretaria de Educação do Estado supostas ações de nepotismo, fraude e desvio de verbas praticadas dentro do Centro Territorial de Educação Profissional Itaparica, no município de Paulo Afonso, localizado a 470 quilômetros de Salvador.

O professor José Messias Oliveira%2C que leciona na escola técnica estadual do interior baianoReprodução/Facebook

As denúncias foram protocoladas pelo docente no último dia 16 de junho, e ganharam instantânea repercussão por parte de veículos de imprensa locais. Nos documentos, Oliveira enumera casos de professores que não comparecem para dar aulas, repassando-as para terceiros; de contratação de docentes sem residência no Estado devido ao parentesco com políticos – nepotismo; e até de fraudes no programa federal Pronatec, de professores aprovados que não comparecem ao trabalho, apesar de pagos.

No dia seguinte, por volta das 19h30, quatro policiais militares foram à instituição, entraram na sala onde Oliveira dava aula e lhe detiveram com algemas, levando-o diretamente a um camburão da PM para onde ele foi encaminhado à delegacia.

O professor afirma que o motivo da detenção seria uma denúncia de um outro professor da escola, Silvano Wanderley Ferreira, segundo a qual Oliveira lhe teria feito ameaças. Segundo ele, no entanto, ao chegar à delegacia, o colega teria dito que a detenção seria apenas para humilhá-lo e intimidá-lo, a fim de cessar suas acusações contra os colegas.

"Denunciar irregularidades aqui no interior da Bahia é muito complicado. Tenho sofrido
ameaças de dentro, até aqui no portal de notícias da região me ameaçaram, assim, publicamente. O que está acontecendo aqui é um verdadeiro absurdo", diz Oliveira, que há mais de duas décadas leciona na instituição de ensino da cidade de pouco menos de 120 mil habitantes.

"Eu disse a eles [PMs], no momento da prisão, que estavam ferindo o Código Civil Brasileiro e a Constituição do País. Mas me ignoraram. Fiquei uns 25 minutos na parte traseira do camburão, um trajeto cruel, em que passaram com tudo sobre quebra-molas enquanto davam risada da minha dor, pois eu tinha acabado de passar por uma cirurgia bariátrica. A única intenção era de me intimidar, de me fazer parecer fraco diante dos meus alunos."

'Repúdio à ação da PM'

Nesta quarta-feira, Oliveira participa de reunião com a Secretaria de Educação Estadual e a direção da escola na Superintendência do Ensino Profissional da Bahia, em Salvador, ao lado de um advogado que o representará, indicado pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia. O objetivo é colocar as partes envolvidas frente a frente para se avaliar as denúncias.

Em nota, a secretaria lamenta a detenção do professor em sala de aula e afirma ter instaurado uma comissão de investigação para apurar o processo. "Caso as denúncias sejam comprovadas, no todo ou em parte, será recomendada a abertura de Inquérito Administrativo, a ser conduzido pela Corregedoria da Secretaria da Educação", diz o texto.


Reportagem de David Shalom, do iG São Paulo.

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