Por felipe.martins

Rio - A Polícia Federal descobriu ameaças de morte ao cartunista francês Laurent Sourisseau, o Riss, diretor do jornal ‘Charlie Hebdo’, que esteve em São Paulo para participar do congresso da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo). Agentes da PF foram destacados para monitorar um homem que, na internet, postou mensagem que falava em “erradicar esta larva de uma vez por todas”. Ele foi seguido pelos policiais nas ruas da cidade até que Riss embarcasse de volta para a França, no início da noite deste sábado.

Sourisseau foi ferido no ombro direito no atentado, em janeiro, ao ‘Charlie Hebdo’ — 12 pessoas morreram no ataque, motivado pela publicação de charges do profeta Maomé. Ele foi protegido por agentes da PF durante todo o tempo em que ficou no Brasil e circulou por São Paulo em carros blindados. Cães farejadores foram usados na vistoria do auditório da Universidade Anhembi Morumbi, local da palestra. Todos os espectadores tiveram que passar por detector de metais.

No encontro da Abraji%2C Riss disse que tem que manter cara de otimismoPaulo Lopes/ Futura Press / Estadão Conteúdo

Riss, de 49 anos, destacou que a publicação de charges é uma tradição dos jornais franceses, mas que o medo havia gerado uma autocensura na imprensa de seu país mesmo antes do ataque de janeiro. Reclamou que apenas o ‘Charlie’ se mantém disposto a enfrentar as ameaças.

Ele lembrou que seu jornal já ironizou outras religiões, como o cristianismo e o judaísmo, e frisou que esse tipo de humor raramente é punido pela Justiça — em Paris há um tribunal especializado em julgar supostos delitos cometidos pela imprensa. “A democracia não pode ser guiada por dogmas religiosos”, disse. Ressalvou, porém, que o ‘Charlie’ não tem fixação por este tipo de assunto: “Só tratamos de religiões quando o tema se impõe.”

Segundo ele, o ataque não foi ao seu jornal, mas à democracia e à liberdade de expressão — lembrou que os 39 mortos numa praia da Tunísia no último dia 26 não eram cartunistas e, mesmo assim, foram vítimas do terror.

No final do encontro, perguntaram a Riss se ele estava otimista. A reposta foi curta: “Não”. Depois, acrescentou: “Mas tenho que manter uma cara de otimismo, estamos preparados para enfrentar o que for necessário.”

Antes do início da palestra, o público, de pé, promoveu um minuto de aplausos em homenagem aos mortos no atentado ao ‘Charlie Hebdo’. Depois do encontro, Riss disse ter ficado emocionado com a manifestação.

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